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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
EcoDebate - Edição 3.615 de 26 / fevereiro/ 2021
Desejamos a todos(as) um bom dia e uma boa leitura
Esperança de vida diante da emergência sanitária e climática
Biólogos alertam para o risco de nova onda de incêndios Pantanal
Nota do Cimi: Funai retoma política de arrendamento e esbulho dos territórios indígenas
Embrapa seleciona genótipos de guaraná com maior potencial energético e antioxidante
Dicas para economizar água no banheiro
“Compreendemos desenvolvimento sustentável como sendo socialmente justo, economicamente inclusivo e ambientalmente responsável. Se não for assim não é sustentável. Aliás, também não é desenvolvimento. É apenas um processo exploratório, irresponsável e ganancioso, que atende a uma minoria poderosa, rica e politicamente influente.” [Cortez, Henrique, 2005]
Dicas de como ter uma horta em casa
Dicas de como ter uma horta em casa – Escolhas das hortaliças, horta em apartamento, saúde das plantas e espécies fáceis de plantar estão entre as dicas
Por Amanda Ivanov
Existem várias motivações para se ter uma horta em casa, que vão desde ter alimentos extremamente frescos disponíveis para consumo, impulsionar hábitos de vida mais saudáveis, conectar-se mais com a natureza, utilizar como atividade terapêutica e até como ferramenta de aprendizagem e compartilhamento de conhecimento. Algumas dúvidas são recorrentes entre os hortelões iniciantes e nesta hora, a informação certa faz toda a diferença. Para sanar as principais dúvidas de quem está iniciando a horta, a ISLA Sementes, através do Blog Vamos Comer Melhor, reuniu informações da agrônoma Amanda Inoue, Coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento da ISLA que detalha as principais dicas para quem quer iniciar sua horta com o pé direito. Confira!
Como eu começo?
O primeiro passo é escolher o local da horta, identificando espaços disponíveis para o cultivo com as condições favoráveis às plantas de interesse. Por exemplo, gostaria de plantar dentro ou fora de casa? Tenho espaço disponível para cultivo direto no solo ou meu cultivo seria em vasos? Qual a disponibilidade de luz do sol onde será a horta?
O que é preciso para a horta dar certo?
Dedicação e cuidados são fundamentais para que a horta dê certo. Entender quais as necessidades das plantas com relação à luz solar disponível, regas, adubação, controle de pragas e doenças, espaço para desenvolvimento, melhor época de cultivo das plantas escolhidas, fazer uso de produtos de qualidade, são pontos que levam ao sucesso na horta. Quando escolhemos sementes de ótima germinação, a muda cresce mais forte e o início do ciclo afeta diretamente no produto final, por exemplo, se for fazer uma muda para transplantar para um outro local, e esta muda não estiver com bom desenvolvimento, certamente terá problemas para fazer com que a planta se forme bem.
Quais os fatores que devo levar em conta na hora de escolher o local para a minha horta?
Para a produção de hortaliças é importante levar em conta a quantidade de luz solar direta disponível no local, ou seja, por quantas horas de fato haverá raios de sol incidindo nas folhas das plantas. Escolha um local que receba ao menos 4 horas diariamente, pois é através da energia dos raios de sol, através da fotossíntese que as plantas terão um bom desenvolvimento.
Se for fazer a horta direto na terra, escolher um local onde não seja um solo compactado, optando por solos de textura mais leve e com boa drenagem para um bom desenvolvimento das raízes. Caso for utilizar vasos, importante escolher substratos que apresentem essas mesmas características.
Quais espécies são fáceis de plantar?
Começar com cultivos mais rústicos, que requerem poucos cuidados, que tenham um rápido ciclo de desenvolvimento podem trazer resultados em poucas semanas. Bons exemplos são as hortaliças de ciclo curto como rabanete, rúcula, alface e algumas outras folhosas e temperos como salsinha, cebolinha, coentro, manjericão. O plantio dessas variedades podem ser feitas o ano todo, e assim você pode realizar o plantio em várias épocas ao longo do ano.
Como germinar sementes?
Após escolher as sementes que você quer cultivar, vale lembrar de conferir se a época condiz com o período recomendado para a sua região (consulte a embalagem das sementes). Plantios realizados fora da “janela de semeadura” podem não se desenvolver ou ter maiores dificuldades no ciclo, já que dependem de condições climáticas e ambientais favoráveis para o cultivo.
Para germinar, existem várias formas utilizadas. Algumas sementes não exigem muito trabalho, apenas fazendo o semeio em um local com um substrato de boa qualidade, leve, que permita um bom enraizamento. Manter o substrato úmido sem encharcar, é fundamental para que as sementes iniciem o processo de germinação e emissão das primeiras estruturas. O semeio pode ser feito em “bandejas sementeiras”, saquinhos, vasos, recipientes de reaproveitamento (garrafas, potes, latas, entre outros) ou direto no local definitivo. Algumas plantas como as cenouras devem ser semeadas direto no solo ou em vaso definitivo, evitando o transplantio das mudas, já que as raízes (que são a estrutura de interesse) já iniciaram seu desenvolvimento.
Vale lembrar que cada semente tem potencial para formar uma planta e o espaçamento entre as plantas é diferente conforme a espécie cultivada. Confira nas embalagens qual a distância ideal entre plantas.
Minhas sementes não germinam, o que eu fiz errado?
Cada semente é um ser vivo e dentro delas está o embrião. Caso as sementes não tenham passado por boas condições de armazenagem ou tenham sido cultivadas fora dos padrões ideais, elas podem não germinar. Os principais erros na hora de semear são: enterrar demais, além do recomendado para cada espécie (neste caso a planta não consegue emergir da terra e acaba morrendo); falta ou excesso de umidade na etapa de germinação, gerando colapso das estruturas; plantio fora da época recomendada (neste caso a temperatura é o principal fator climático, pois em condições de temperatura fora do ideal, as sementes não germinam.
O que plantar quando não tem sol?
O cultivo de microverdes é uma solução de horta em pequenos espaços ou onde não há sol direto. O cultivo é feito em bandejas, vasos ou outros recipientes, usando terra, papel umedecido ou fibras vegetais que sirvam como base para as sementes. Entre 7 e 14 dias se obtém o produto para consumir, o qual é extremamente rico em sabor, cor e nutrientes. São dezenas as variedades para colheita de microverdes: rúcula, manjericão, salsinha, cebolinha, nabo, agrião, acelga, almeirão, couve, rabanete, beterraba, cenoura, entre outras.
Horta em apartamento, qual melhor vegetal para plantar?
Em apartamento normalmente são utilizados vasos para o cultivo, portanto, importante ser hortaliças de fácil adaptação nesse ambiente. Hortaliças como alface, rúcula, cebolinha, espinafre, manjericão são ideais. Se tiver a possibilidade de colocar o vaso em um local que tenha espaço para um desenvolvimento vertical maior das plantas, pode ser cultivado até mesmo tomate cereja e pepino, fazendo a condução das plantas através de tutoramento utilizando estacas ou fios condutores. Utilizando vasos com maior profundidade pode-se cultivar também cenoura, beterraba e rabanete.
Como saber quando está na hora de adubar?
O adubo é o alimento da planta, que irá contribuir diretamente no seu desenvolvimento. Pensando nisso, o momento ideal de adubação será nas fases onde ela demanda maior energia. Desde a fase de mudas, crescimento, desenvolvimento, floração e maturação dos frutos pode ser feita a adubação. Na prática as plantas devem ter os nutrientes na terra para se desenvolver bem, estando saudáveis ao longo de todo o ciclo para gerar um produto final de qualidade.
Para a produção de frutos como tomate, pepino, abóboras, pimentões, por exemplo, é fundamental adubar durante o início do período reprodutivo, durante as fases de formação e desenvolvimento das flores. Assim evitamos o abortamento floral e frutos pequenos, sem sabor.
Em uma produção comercial, o normal é realizar uma análise do solo para identificar quais nutrientes não estão disponíveis em quantidades suficientes, então aduba-se para complementar. Pois o mais importante na adubação é dar às plantas uma alimentação completa e equilibrada, com todos os macro e micronutrientes que ela precisa.
Num cultivo de hortas, seja em canteiros, floreiras ou vasos, não se justifica uma análise de solo. Assim, adubar regularmente suas plantas é a melhor forma de mantê-las sempre nutridas e saudáveis.
Qual a melhor forma de oferecer os nutrientes?
De forma geral, as plantas se “alimentam” através das raízes, portanto, fornecer os nutrientes de modo que entrem em contato com seu sistema radicular é essencial, podendo ser através de misturas no substrato antes do plantio e também depois da planta estabelecida. Existem diversas apresentações de adubos, podem ser sólidos (granulados, farelados, pó) ou líquidos (junto com a água que irá fazer as regas), podendo alguns também ser pulverizados nas folhas através de borrifadores, por exemplo dos adubos foliares. Na prática você deve ler os rótulos dos adubos que escolher e seguir as instruções de uso (dosagem, frequência de aplicação, etc). Evite aplicar além da dose recomendada para não salinizar o solo nem queimar as plantas.
Uma dica muito legal para quem tem horta é realizar a compostagem dos seus resíduos vegetais e produzir seu próprio adubo, atualmente existem composteiras compactas e práticas vendidas para este fim. Mas para aqueles que não tem tempo ou espaço, existem adubos comerciais ótimos para este fim. A ISLA atenta a esta necessidade desenvolveu uma linha de adubos organominerais, completos e de fácil aplicação. Basta diluir na água da rega e aplicar nas plantas 2 a 3 vezes por mês.
Qual a melhor forma de identificar as possíveis doenças que podem acontecer na minha horta? Tenho que estar atento para quais sinais?
De modo geral, as doenças mais comuns são causadas por fungos, bactérias e vírus de plantas. Na horta, para identificar que uma planta está doente irá observar que ela estará diferente das outras, talvez mais amarelada, ou com folhas encarquilhadas (retorcidas) ou manchadas e em casos mais severos começa observar elas murchando. A observação deve ser feita nas folhas primeiramente, verificando se há sinais de amarelamento, esporulação de fungos (poderá visualizar como uma espécie de “pó” branco nas partes de cima ou debaixo das folhas), se as folhas estão enrugando ou murchando.
Como combater pragas de modo natural e eficiente?
Uma forma eficiente é buscando sempre o equilíbrio do ambiente que está cultivando. Isso é possível através da manutenção da diversidade de plantas (não eliminar totalmente as plantas invasoras dos canteiros, de modo que as deixe em local onde não irá atrapalhar o desenvolvimento das suas plantas é uma boa opção para manter ativo o ambiente para os inimigos naturais, que são aqueles insetos que vão te ajudar a combater naturalmente as pragas indesejadas pois eles se alimentam delas). Outra forma é fazendo plantio de plantas que tenham propriedades repelentes de insetos-praga na horta (como por exemplo Tagetes).
O que fazer quando as plantas estiverem doentes?
Em caso de aparecimento dos primeiros sintomas da doença, fazer uso de algum mecanismo de controle, de preferência natural ou biológico, com organismos antagônicos como Trichoderma ou simbiontes como Micorrizas. Também é uma opção utilizar extratos vegetais ou óleos essenciais para controle. Procurar eliminar restos culturais, fazendo plantio de outras culturas para depois plantar novamente o manjericão (isto se chama rotação de culturas e ajuda a diminuir a fonte do inóculo/ do “causador” da doença), plantio em espaçamentos adequados evitando que as plantas fiquem muito adensadas (quando se está muito adensado, cria-se um microclima favorável para o surgimento de doenças), fazer podas de ramos (tira-se partes doentes, ajuda também no arejamento da planta).
Quando for manusear a planta e fazer podas, fazer desinfecção das ferramentas antes e após uso, com água fervente.
Fazer controle de insetos vetores (aqueles que transmitem doenças às plantas, como viroses). Pode-se usar armadilhas como por exemplo garrafas pets pintadas com cola entomológica amarela. Elas irão atrair esses insetos vetores pela cor e eles ficarão grudados aos encostarem. É um forma eficiente e de baixo custo para controle de mosca branca, tripés, traça em pequenas hortas.
A principal dica para quem está começando na horta é não desistir caso algo dê errado, e tornar esta experiência um verdadeiro aprendizado. Alguns cultivos são simples mas outros podem requerer várias tentativas até o sucesso. Pensando nisso, uma boa estratégia é iniciar com cultivos de ciclo mais rápido, menos exigentes em manejos e procurar sempre pesquisar sobre a variedade antes para entender quando plantar, de que forma, o que a planta irá precisar e como as pessoas que já plantaram fazem em suas hortas.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 25/02/2021
Sistema alimentar global é a principal causa da perda de biodiversidade
A perda da biodiversidade continuará a acelerar, a menos que mudemos a maneira de produzir alimentos. Mais destruição dos ecossistemas e habitats ameaçará nossa capacidade de sustentar as populações humanas.
UNEP
· Um novo relatório da Chatham House destaca que o sistema alimentar global é o principal motor da perda de biodiversidade.
· A perda da biodiversidade continuará a acelerar, a menos que mudemos a maneira de produzir alimentos. Mais destruição dos ecossistemas e habitats ameaçará nossa capacidade de sustentar as populações humanas.
· O novo relatório pede uma reforma urgente dos sistemas alimentares, sugerindo três ações interdependentes: mudar os padrões alimentares globais, proteger e reservar terra para a natureza e cultivar de forma mais amigável à natureza e que sustente a biodiversidade.
· Os formuladores de políticas são instados a adotar uma abordagem sistêmica para levar em conta os impactos dos sistemas alimentares, desenvolver uma orientação global para a mudança e traduzi-la em metas nacionais.
Impacto do Sistema Alimentar na Perda da Biodiversidade (Food System Impacts on Biodiversity Loss), o novo relatório da Chatham House, descreve três ações necessárias para a transformação do sistema alimentar em benefício da biodiversidade, e estabelece recomendações para incorporar a reforma do sistema alimentar nos processos políticos de alto nível sobre a natureza que estão ocorrendo este ano.
O relatório foi apoiado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e a organização Compassion in World Farming (Compaixão na Agricultura Mundial).
O sistema alimentar mundial é o principal motor da perda da biodiversidade. A agricultura foi a única ameaça identificada para 24.000 das 28.000 (86%) espécies em risco de extinção. A taxa global de extinção de espécies hoje é maior do que a taxa média dos últimos 10 milhões de anos.
Nas últimas décadas, nossos sistemas alimentares seguiram o paradigma de produzir mais alimentos a menor custo, aumentando o uso de insumos como fertilizantes, pesticidas, energia, terra e água. Este modelo leva a um círculo vicioso: o menor custo de produção de alimentos cria uma maior demanda por alimentos que também devem ser produzidos a um custo menor através de um aumento da intensificação e maior desmatamento de terra.
Os impactos da produção de mais alimentos a um custo menor não se limitam à perda de biodiversidade. O sistema alimentar global é um dos principais motores da mudança climática, sendo responsável por cerca de 30% do total de emissões produzidas pelo homem.
De acordo com o novo relatório, uma reforma dos sistemas alimentares é uma questão urgente e deve se concentrar em três ações interdependentes:
· Em primeiro lugar, os padrões alimentares globais precisam avançar para dietas mais ricas em as plantas, principalmente devido ao impacto desproporcional da agricultura animal sobre a biodiversidade, o uso da terra e o meio ambiente. Tal mudança, associada à redução do desperdício global de alimentos, reduziria a demanda e a pressão sobre o meio ambiente e a terra, beneficiaria a saúde das populações ao redor do mundo e ajudaria a reduzir o risco de pandemias.
· Em segundo lugar, é necessário proteger mais terras e preservar áreas exclusivamente selvagens. Os maiores ganhos para a biodiversidade ocorrerão quando preservarmos ou restaurarmos ecossistemas inteiros. Portanto, precisamos evitar a conversão de terras para a agricultura. As mudanças na dieta humana são essenciais para preservar os ecossistemas nativos existentes e restaurar aqueles que foram eliminados ou degradados.
· Em terceiro lugar, precisamos cultivar de forma mais amigável à natureza e sustentável para a biodiversidade, limitando o uso de insumos e substituindo a monocultura por práticas agrícolas de policultura.
A mudança alimentar é necessária para permitir que a terra seja devolvida à natureza e para permitir a adoção generalizada de uma agricultura amigável à natureza sem aumentar a pressão para converter a terra natural em agricultura. Quanto mais a primeira ação for tomada sob a forma de mudança alimentar, mais espaço haverá para a segunda e terceira ações.
As conclusões e recomendações do novo relatório da Chatham House foram apresentadas hoje, durante um evento on-line que incluiu palestrantes do PNUMA, Chatham House e Compassion in World Farming, assim como Jane Goodall, PhD, DBE, Fundadora – o Instituto Jane Goodall & UN Messenger of Peace. Seguiu-se um inspirador painel de discussão com Louise Mabulo, uma chef, ambientalista e Jovem Campeã da Terra da ONU das Filipinas, e Lana Weidgenant, Vice-Presidente da Mudança para Padrões de Consumo Sustentável na Cúpula de Sistemas Alimentares da ONU e Diretora Adjunta da Zero Hora Internacional.
Citações adicionais
Susan Gardner, Diretora da Divisão de Ecossistemas do PNUMA, disse: “Nosso sistema alimentar atual é uma espada de dois gumes, moldada durante décadas pelo paradigma de produzir mais alimentos, rápida e barata, sem considerar os custos ocultos para a biodiversidade – e seus serviços de suporte de vida – e nossa própria saúde.
Mudar a forma como produzimos e consumimos alimentos é uma prioridade urgente: precisamos mudar os padrões alimentares globais, proteger e reservar terra para a natureza e a cultivar de uma forma mais amigável à natureza e que sustente a biodiversidade”.
O Professor Tim Benton, Diretor de Pesquisa, Riscos Emergentes; Diretor do Programa de Energia, Meio Ambiente e Recursos da Chatham House, disse: “As maiores ameaças à biodiversidade surgem do uso exploratório da terra – convertendo habitats naturais em agricultura e terras agrícolas intensivamente – e estas são impulsionadas pela demanda econômica para produzir alimentos cada vez mais ricos em calorias, mas nutricionalmente pobres, a partir de cada vez menos commodities cultivadas em escala.
Estas commodities sustentam um sistema alimentar desperdiçador que não nos nutre, mina a biodiversidade e impulsiona a mudança climática”.
Philip Lymbery, Diretor Executivo Global da Compassion in World Farming, disse: “Em uma época em que grande parte do mundo continua a combater a pandemia da Covid-19, nunca foi tão óbvio que o bem-estar das pessoas e dos animais, selvagens e de criação, está entrelaçado.
Como mostra este novo relatório, o futuro da humanidade depende de nós vivermos em harmonia com a natureza. Precisamos trabalhar com a natureza, não contra ela. Nunca foi tão oportuno para nós percebermos que proteger as pessoas significa proteger também os animais.
O futuro da agricultura deve ser amigo da natureza e regenerativo, e nossas dietas devem se tornar mais baseadas em plantas, saudáveis e sustentáveis.
Sem um fim à agricultura industrial, corremos o risco de não ter futuro”.
Jane Goodall, PhD, DBE, Fundadora do Jane Goodall Institute & UN Messenger of Peace, disse: “A criação intensiva de bilhões de animais em todo o mundo prejudica seriamente o meio ambiente, causando perda de biodiversidade e produzindo emissões maciças de gases de efeito estufa que aceleram o aquecimento global”.
As condições desumanas de superlotacão não só causam intenso sofrimento aos seres sensíveis, mas também permitem a transferência de patógenos dos animais para os seres humanos, o que pode causar novas doenças zoonóticas. Por razões éticas, deve ser eliminada o mais rápido possível”.
NOTAS:
Sobre o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
O PNUMA é a principal voz global em temas ambientais. Ele promove liderança e encoraja parcerias para cuidar do meio ambiente, inspirando, informando e capacitando nações e pessoas a melhorarem a sua qualidade de vida sem comprometer a das futuras gerações. Saiba mais em www.unep.org/pt-br.
Sobre a Chatham House
Fundada em 1920, Chatham House é um instituto independente, líder mundial em políticas, com sede em Londres. Sua missão é ajudar os governos e as sociedades a construir um mundo sustentável, próspero e justo. Ela envolve governos, o setor privado, a sociedade civil e seus membros em debates abertos e discussões privadas sobre as principais questões internacionais.
Sobre a Compassion in World Farming
Compassion in World Farming (Compaixão na Agricultura Mundial) foi fundada em 1967 por um produtor britânico de laticínios que ficou horrorizado com o desenvolvimento da agricultura intensiva em fábricas. Hoje, ela é a principal organização de bem-estar animal dedicada a acabar com a pecuária industrial e alcançar alimentos sustentáveis e produzidos pelo homem.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 25/02/2021
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021
Após retirada de base fiscalização, desmatamento explode no Xingu
James,
“A nossa área virou um balcão de negócios. Todo mundo vive da nossa área, do roubo de madeira, da venda de terra, e da pesquisa de ouro”, conta o cacique Mobu Odo Arara, da Terra Indígena Cachoeira Seca (PA). Em apenas quatro meses, entre setembro e dezembro de 2020, mais de 1,7 mil hectares foram desmatados na TI, a terceira mais desmatada na bacia do Xingu em 2020.
Essa TI, morada dos Arara, povo de recente contato, carrega o recorde negativo de ser uma das mais desmatadas no país nos últimos seis anos por conta de invasões, roubo de madeira, avanço da pecuária e grilagem. Com as operações de combate ao desmatamento e principalmente à instalação de uma base permanente de fiscalização do Ibama na região em 2020, o desmatamento recuou. Isso não durou por muito tempo...
Em setembro a base foi retirada e o desmatamento voltou a aumentar. A taxa de desmatamento nos últimos quatro meses do ano é quase quatro vezes maior do que o total detectado entre janeiro e agosto. Leia mais aqui.
É difícil entender porque a base do Ibama foi retirada da TI Cachoeira Seca quando as ameaças ao território ainda não cessaram e o processo de retirada de invasores não foi concluído. O efeito das fiscalizações no início do ano de 2020 mostra a efetividade de ações integrais e permanentes de proteção nos territórios que estão sob contínua pressão de atividades ilegais
Essas e outras informações estão no 22º boletim Sirad X, do Observatório De Olho no Xingu da Rede Xingu + articulação de indígenas, ribeirinhos e organizações da sociedade civil para a proteção da bacia do Xingu.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2021
"O GRITO DO BICHO" - Boletim Informativo de 23.02.2021
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• Motivos para não comer carne
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• Homem morre e deixa herança de R$ 26 milhões para cadela
• Depois de denúncia, SMPDA resgata gatos amarrados por cordas – RJ
• Traficantes de animais silvestres fazem comércio ilegal pela internet
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• Cachorro furta petisco de pet shop em Nova Esperança - PR
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• Há 60 anos, deputado tentou proibir abate de cavalos e mulas no Brasil
• Prefeito é preso transportando galos de rinha em veículo oficial do município
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sheila moura
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021
Atitudes que você pode tomar para ajudar na proteção dos oceanos
Verão, sol, praia. O mar traz diversão e alívio nessa época do ano. Mas os oceanos e a vida marinha estão ameaçados por causa da superexploração dos biomas, da gestão inadequada do lixo e do esgoto e de padrões produtivos altamente poluentes.
Você pode fazer a sua parte e ajudar a ONU a proteger a natureza.
Confira essas dez dicas de como combater a degradação do meio ambiente.
Os oceanos são fonte de vida, abrigando uma vasta parcela da biodiversidade e fornecendo recursos naturais preciosos para a sobrevivência de comunidades costeiras.
Todavia, a superexploração dos biomas marinhos, a gestão inadequada do lixo e do esgoto e padrões produtivos altamente poluentes ameaçam a saúde dos mares.
Atualmente, cerca de 40% dos oceanos são considerados densamente afetados por ações do homem.
A ONU propõe dez atitudes que cada um de nós pode tomar para ajudar a reverter esse cenário:
1. Pare de beber água em garrafas de plástico
Você provavelmente já comprou uma garrafa de água e a jogou fora logo depois de bebê-la. Por dia, milhões de pessoas em todo o mundo estão fazendo exatamente a mesma coisa. A taxa média global de reciclagem de plástico é de 25%, o que significa que um volume enorme de lixo plástico vai parar nos oceanos — e, acredite, muitos desses resíduos são garrafas descartáveis de água.
São necessários pelo menos 450 anos para que uma garra plástica se decomponha e desapareça do meio ambiente. Você pode imaginar as consequências disso para a natureza. Em vez de continuar consumindo esse tipo de produto, substitua-o por uma garrafa de aço inoxidável que não seja descartável.
2. Não jogue bitucas de cigarro na rua
Cigarros fazem mal aos humanos, mas você sabia que eles também fazem mal aos oceanos?
Por ano, 4,5 trilhões de guimbas de cigarro são jogadas no lixo em todo o mundo. Assim como as garrafas plásticas, muitas delas vão parar no mar e nas praias. Filtros de cigarro têm, em sua composição, milhares de substâncias químicas, que podem matar peixes marinhos e de água doce. Se você fuma, jogue sua bituca numa lata de lixo e não, no chão da rua.
3. Faça escolhas mais conscientes quando comer frutos do mar
Com a demanda global por peixe crescendo a cada ano, locais de pesca em todo o mundo estão entrando em colapso por causa de práticas pesqueiras insustentáveis. Quando você comprar peixe, tenha certeza de que se trata de peixe capturado ou criado de uma forma ambientalmente responsável.
4. Diminua sua pegada de carbono
Os oceanos absorvem mais de 25% das emissões de dióxido de carbono geradas pelo homem. Mas não sem consequências. O resultado é a “acidificação” das águas marinhas, um fenômeno que ameaça uma ampla gama de espécies. Combater a acidificação marinha é igual a combater as mudanças climáticas: precisamos reduzir as emissões de CO2.
A nível individual, isso significa optar por se deslocar de bicicleta ou transporte público em vez de usar o carro; diminuir o consumo geral de energia; usar fontes de energia “verdes”, como energia solar e eólica; e fazer escolhas mais conscientes sobre o que comer e o que comprar.
5. Não use copos, talheres nem canudos descartáveis feitos de plástico
Mais de 50% das tartarugas marinhas morrem por ingerir alguma forma de lixo. Cerca de 90% de todo o lixo flutuando nos oceanos é plástico. Estudos mostram que, diariamente, a população dos Estados Unidos usa e joga fora 500 milhões de canudos.
Algumas estimativas apontam que, se não for diminuído o ritmo com que se descartam itens como copos, talheres, sacolas, canudos e garrafas descartáveis, os oceanos terão até 2050 mais plásticos que peixes, e 99% das aves marinhas terão ingerido o material.
Escolha produtos que sejam reutilizáveis.
6. Seja um consumidor informado
Com o esgoto, microplásticos da sua pasta de dente, produtos de higiene e roupas são lançados ao mar. Ainda é impossível retirá-los dos oceanos por causa do seu tamanho pequeno. Pesquisas indicam que pelo menos 51 trilhões de partículas de microplástico já estejam em nossos mares atualmente.
Isso coloca em risco não apenas os animais que ingerem esse lixo, mas também os humanos, que comem o material ao consumir frutos do mar.
Ao comprar produtos de cuidado pessoal, evite os que contêm micropartículas. Você pode fazer isso olhando a lista de ingredientes. Se contiver polipropileno, polietileno, tereftalato de polietileno ou metacrilato de polimetilo, não compre.
7. Organize um mutirão de limpeza de praia
Provavelmente você verá a poluição marinha em primeira mão se for à praia mais próxima de você. Pedaços de plástico, como tampinhas de garrafa ou canudos, são frequentemente encontrados na costa. Que tal levar seus amigos e os amigos deles para uma coleta de lixo? Lembre-se de se assegurar que o material recolhido seja descartado de uma maneira sustentável, de modo que os resíduos não cheguem, por uma segunda vez, ao mar.
8. Evite embalagens e sacos plásticos
Você já deve ter entendido que o plástico destrói os oceanos. Quando for ao supermercado, use sacolas de papel em vez das de plástico na hora de empacotar as compras. Prefira produtos que vêm embalados em vidro ou papel aos que chegam já em embalagens plásticas para o consumidor.
9. Cuide do seu animal doméstico com responsabilidade
Se você tem um animal de estimação, é muito provável que você tenha causado algum mal aos ecossistemas oceânicos sem nem saber. Os resíduos das caixas de areia dos gatos são muito destrutivos para a vida marinha. Portanto, não os despeje na privada, pois eles vão parar no mar ao longo da cadeia de esgotos.
Ao comprar ração, tenha certeza de que o produto está livre de ingredientes que não sejam ambientalmente responsáveis.
Se tiver um aquário, evite comprar peixes de água salgada capturados de ambientes silvestres.
Nunca solte peixes de aquário, que não são nativos da região, no mar. Embora possa parecer uma ótima ideia, a iniciativa pode ter impactos negativos consideráveis para a vida marinha nativa.
10. Apoie uma organização que proteja a vida marinha
Toda a vida marinha — das tartarugas aos corais e focas — está ameaçada. A acidificação dos oceanos, a perda de habitats, espécies invasoras, poluição e sobrepesca são os principais fatores responsáveis por reduzir a biodiversidade dos nossos oceanos. Se você se preocupa com a vida debaixo d’água e se você se preocupa consigo mesmo, doe tempo ou dinheiro para uma organização que ajudará a combater esses problemas.
Você pode achar uma lista de instituições globais da área clicando aqui (em inglês).
Da ONU Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/02/2021
Pandemia mostrou ser possível reduzir o uso de combustíveis fósseis
artigo de Vivaldo José Breternitz
[EcoDebate] A relação entre a pandemia de covid-19 e as mudanças climáticas tem sido objeto de diversos estudos , quase todos apontando para uma redução da emissão de poluentes, principalmente gás carbônico, que ocorre em função da redução da atividade econômica, especialmente no que se refere a fábricas e transportes.
Agora, o estudo Covid-19-induced low power demand and market forces starkly reduce CO2 emissions, publicado em 8 de fevereiro pela revista Nature, sugere que a pandemia pode contribuir para uma redução definitiva da geração de energia por queima de combustíveis fósseis, petróleo e carvão, principalmente.
O estudo foi conduzido por economistas do Potsdam-Institut für Klimafolgenforschung (Instituto de Potsdam para Pesquisa de Impactos Climáticos), da Alemanha, que investigaram os impactos da pandemia nos sistemas de energia e na demanda por eletricidade. Os resultados mostraram que, com a ajuda de políticas públicas adequadas, as emissões de poluentes podem cair de forma definitiva e mais rapidamente do que se previa.
Em alguns meses de 2020, essa queda foi grande: em locais como Índia, EUA e alguns países da Europa, o consumo chegou a cair cerca de 20% em relação aos mesmos meses de 2019, enquanto as emissões de CO2 diminuíram em até 50%. Ainda de acordo com o estudo, as emissões de gás carbônico provenientes da geração de energia tiveram uma redução de 7% a nível global.
Os pesquisadores acreditam que as emissões não retornarão aos níveis pré-pandêmicos a menos que haja um aumento inesperado na demanda por eletricidade e uma redução, também inesperada, na produção de energia proveniente de outras fontes (hidrelétrica, eólica, solar etc.).
Os países estão investindo cada vez mais nessas fontes de energia mais limpa, que poderão ser capazes de suprir as necessidades da população no futuro sem que precisemos depender dos combustíveis fósseis.
Sem dúvida, são boas notícias que esperamos se confirmem.
Vivaldo José Breternitz é Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/02/2021
Pacote de estímulos brasileiro vai na contramão da recuperação verde
Afrouxamento de regras ambientais e estímulos à energia fóssil são destaques negativos do Brasil
Por Cinthia Leone, ClimaInfo
Um relatório da consultoria Vivid Economics, divulgado em 12/02, sobre os estímulos econômicos dos países em 2020 concluiu que o pacote brasileiro, embora robusto, vai na contramão da retomada verde pós-COVID-19. A boiada também não passou despercebida – o estudo destaca que o país piorou a regulação e a fiscalização ambientais em meio à pandemia, sobretudo no que diz respeito à proteção das florestas. O levantamento também aponta que houve estímulos financeiros e outros favorecimentos à energia fóssil.
índice global de estímulos verdes
O Brasil aparece na posição 17 entre 30 grandes economias no ranking de “estímulos verdes” do relatório. Segundo o documento, as contribuições negativas ao clima do pacote de resgate brasileiro representam mais que o dobro do impacto positivo para a natureza.
“A Indonésia e o Brasil são grandes produtores de commodities agrícolas com um histórico de políticas ambientais frouxas que causam degradação florestal significativa e impactos negativos na biodiversidade e nos ecossistemas”, diz o relatório. “Seus setores agrícolas permanecem em uma trajetória de alta intensidade de emissões e destruição significativa do habitat e da biodiversidade.”
A maioria dos governos até agora não conseguiu aproveitar a oportunidade de combinar recuperação econômica com crescimento sustentável, conclui o estudo. Dos US$14,9 trilhões em estímulos econômicos nos 30 países pesquisados, US$4,6 trilhões foram destinados a setores ambientalmente relevantes como agricultura, indústria, resíduos, energia e transporte, mas apenas uma parte – US$1,8 trilhões – resultou em medidas “verdes”.
A boa notícia é que o impulso para uma recuperação verde parece estar aumentando. O relatório destaca o efeito potencialmente transformador da presidência dos EUA sob Joe Biden. O bom desempenho de Canadá, China, Índia e Reino Unido também aponta, segundo o estudo, para uma mudança fiscal e política que pode influenciar vários países.
“Muito mais ação é necessária antes que possamos ver uma recuperação verdadeiramente verde pós-COVID”, disse o economista Jeffrey Beyer, coautor do relatório. “Mas somos encorajados pelos avanços em alguns países, mais notadamente nos EUA e Canadá”. Para ele, as recentes Ordens Executivas dos EUA são um modelo de como a mudança regulatória pode criar empregos, reduzir emissões e proteger a natureza.
Boiada
Segundo o documento, desde o início da pandemia, o Brasil tomou medidas significativas para desregulamentar o uso da terra, em especial na Amazônia. O relatório cita a instrução normativa n. 9 da Funai como explicitamente desenhada para favorecer a grilagem de terras e prejudicar populações indígenas e a biodiversidade. A medida, criada em abril de 2020, autorizou o registro e a venda de imóveis em terras indígenas não homologadas ou registradas no Brasil – são 237 reservas em 24 estados do país. Somadas, possuem pelo menos 9,8 milhões de hectares, concentrados principalmente na Amazônia.
O documento também chama a atenção para a explícita redução da fiscalização ambiental no país por meio de demissões e cortes em órgãos federais com essa atribuição.
No setor de energia, o país apresentou pontos altos e baixos. Por um lado, aprovou medidas de apoio às atividades intensivas em carbono, como a instituição de um comitê para a revitalização da produção de petróleo, gás natural e outros recursos fósseis, além da extensão potencial do período de concessão para os campos de petróleo offshore. Os leilões de eletricidade que eram esperados para o final de 2020 foram postergados, o que, segundo o relatório, serviu para dar aos produtores de gás mais tempo para melhorar sua participação e atrair investimentos, prejudicando as energias renováveis.
Na outra ponta, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) emitiu US$203 milhões em bônus verdes em outubro de 2020 que podem atrair até US$34 bilhões até 2029. O BNDES também tem apoiado fortemente o financiamento da infraestrutura de energia eólica. Houve ainda a extensão de uma linha de crédito verde para apoiar os produtores de biocombustíveis.
Nota: O relatório completo está disponível aqui
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/02/2021
EcoDebate - Edição 3.609 de 18 / fevereiro/ 2021
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“Compreendemos desenvolvimento sustentável como sendo socialmente justo, economicamente inclusivo e ambientalmente responsável. Se não for assim não é sustentável. Aliás, também não é desenvolvimento. É apenas um processo exploratório, irresponsável e ganancioso, que atende a uma minoria poderosa, rica e politicamente influente.” [Cortez, Henrique, 2005]
Mourão anuncia saída de militares na Amazônia e plano “light” de combate ao desmatamento
por ClimaInfo –
Depois de quase um ano em campo, as Forças Armadas deixarão de atuar no combate ao desmatamento na Amazônia. A decisão foi confirmada por Mourão ontem (10/2), durante reunião do Conselho da Amazônia, ocasião em que ele também apresentou a nova estratégia do governo federal para as ações antidesmate na região. De acordo com o vice-presidente, a Operação Verde Brasil 2 começará a ser desativada a partir de 1º de maio, e o trabalho de fiscalização voltará a ser feito pelos IBAMA e ICMBio, com apoio de órgãos como FUNAI e INCRA, juntamente com as Polícias Federal e Rodoviária Federal.
A nova estratégia mantém o envolvimento de militares em ações contra o desmatamento, mas restrito a 11 municípios que concentram a maior parte do desmatamento ilegal na Amazônia Legal. Mourão não os identificou, mas esclareceu que a maior parte deles (sete) se localiza no Pará, além de dois municípios do Amazonas, um de Rondônia e um no Mato Grosso. Ainda não há detalhes sobre o tipo de operação que será realizada pelas Forças Armadas nesses municípios, nem o contingente e o orçamento que elas terão para realizar seu trabalho.
Um dos motivos pelos quais Mourão voltou atrás na ideia de prolongar a Operação Verde Brasil 2 até o final de 2022 foi a falta de garantias orçamentárias para manter a presença militar na Amazônia nos próximos anos. Até janeiro, o governo destinou cerca de R$ 400 milhões para o ministério da defesa para financiar as ações militares na floresta. “Em suma, vamos buscar fazer mais com menos. Lembro a nossa situação fiscal, pois o emprego das Forças Armadas requer crédito extraordinário. Caso necessário, elas estão prontas para continuar a agir”, comentou Mourão ao blog de Gerson Camarotti no G1.
Agência Brasil, CNN Brasil, Estadão, Folha, G1, Globonews, Metrópoles, O Globo e UOL deram mais detalhes sobre o anúncio.
Em tempo 1: Recém-relançado pelo governo Bolsonaro, o programa Adote Um Parque deixou mais perguntas do que respostas. Inicialmente anunciado em meados de 2020, o decreto de criação do programa só foi publicado nesta 3ª feira (9/2) e, de cara, já contou com o anúncio de parceria com o Carrefour. No entanto, como o Política por Inteiro bem lembrou, o decreto diz que a adoção de Unidades de Conservação por empresas será realizada por meio de chamamento público: considerando que não houve um chamamento público prévio, como o Carrefour conseguiu fechar o acordo de adoção? Como é que o Carrefour faz a “adoção” antes da publicação do decreto?
Em tempo 2: Para não ficar sem apoio aéreo às atividades de fiscalização ambiental, o IBAMA terá que recorrer a um contrato de emergência por causa de atrasos burocráticos no processo de licitação para o serviço. Segundo André Borges no Estadão, o órgão gastou mais de oito meses discutindo o edital, mas não conseguiu concluir o processo a tempo. Como o contrato atual se encerra no próximo dia 26, o IBAMA arrisca ficar dias sem o serviço, inviabilizando operações de combate a ilegalidades ambientais.
#Envolverde
Rios de ouro: as imagens da Nasa que revelam o impacto da mineração ilegal na Amazônia
Por BBC News –
Do espaço, parecem “rios de ouro”, caminhos pontilhados que correm pela Floresta amazônica.
Da Terra, a realidade é mais chocante e preocupante: imagens capturadas pela Nasa revelam a extensão da extração ilegal de ouro nas partes mais remotas do Peru.
Como explicou a agência espacial dos Estados Unidos, os “rios de ouro” capturados nas imagens mostram os poços cavados para mineração ilegal, que aparecem como centenas de bacias cheias de água, nos quais a vegetação foi removida, rodeadas de lama.
A Nasa explicou que as condições climáticas favoreceram a captação das fotos, já que os poços, geralmente escondidos, são iluminados pela luz solar.
Elas foram tiradas por um astronauta da Estação Espacial Internacional (ISS) em dezembro e, desde sua publicação nesta quinta-feira, viralizaram nas redes sociais.
As imagens foram consideradas mais uma prova da escala da extração ilegal de ouro na região de Madre de Dios, no sudeste do Peru.
Alerta ambiental
O Peru é um dos maiores exportadores de ouro do mundo e a área de Madre de Dios, o lar de uma enorme indústria não regulamentada com milhares de mineradores tentando ganhar a vida.
A área é um foco de biodiversidade e a indústria extrativa levou ao desmatamento extensivo e à destruição de importantes habitats.
Vários grupos ambientalistas denunciaram que a mineração também está envenenando as comunidades locais, já que toneladas de mercúrio são usadas para extrair o precioso produto.
Fotos mostram a extensão da mineração ilegal no Peru ( Foto: NASA)
Segundo os cientistas, uma quantidade significativa desse elemento químico é liberada nos rios ou na atmosfera, causando danos irreversíveis ao meio ambiente.
Em algumas partes da região, onde vivem espécies como macacos, onças e borboletas, os especialistas acreditam que a mineração é a principal causa do desmatamento.
Em janeiro de 2019, um estudo constatou que o desmatamento causado pela mineração de ouro destruiu cerca de 9 mil hectares da Amazônia peruana em 2018, segundo o grupo de Monitoramento do Projeto Amazônia Andina.
Incentivados pelo aumento do preço do ouro, os membros das comunidades locais veem uma oportunidade de ganhar a vida com a mineração.
Os mineiros seguem as rotas de rios antigos onde sedimentos, incluindo minerais, foram depositados.
Em 2012, havia cerca de 30 mil mineiros ilegais trabalhando na exuberante região.
Em outra parte do Peru, La Pampa, uma grande corrida do ouro que durou cerca de uma década foi finalmente interrompida pelo governo em 2019, quando cerca de 5 mil mineiros foram expulsos.
#Envolverde
FAS e outras ONGs implementam ações para redução de emissões na Amazônia
Para reduzir e prevenir o desmatamento ilegal e incentivar atividades de baixa emissão de carbono na floresta amazônica, a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) desenvolverá um projeto socioambiental com estratégias de conservação da floresta, bioeconomia e financiamento regional, com duração de dois anos. A proposta foi selecionada via edital do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e Fórum dos Governadores para Clima e Floresta (GCF), e receberá suporte financeiro do Governo da Noruega para ser concretizada.
O “Projeto Regional Amazônia Brasileira: Destravando e Alavancando o Desenvolvimento de Baixas Emissões” será liderado pela FAS em parceria com as organizações Earth Innovation Institute (EII), Conservação Internacional do Brasil (CI-Brasil), Instituto Centro de Vida (ICV), The Nature Conservancy (TNC), Instituto BVRio, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), além das Secretarias de Meio Ambiente dos nove estados da Amazônia Legal Brasileira: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia, Tocantins, Mato Grosso e Maranhão. O valor que vai ser investido no projeto ainda será definido.
O projeto tem o objetivo de integrar e interagir ações locais e regionais para desenvolver estratégias, programas e projetos de baixo carbono, com destaque para Redução de Emissões Provenientes do Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+) e bioeconomia.
Desse modo, este projeto contribuirá, em alinhamento com as secretarias de meio ambiente da Amazônia, com o fortalecimento de ações estruturantes para o combate ao desmatamento e às queimadas, além do fortalecimento de soluções produtivas de baixas emissões e da consolidação de rotas de financiamento regional. Entre os componentes estratégicos estão REDD+ e compensação por serviços ambientais; investimentos em ações locais adaptadas e integradas em desenvolvimento de baixo carbono e pacto regional, visando estratégias estruturantes para alavancar e criar rotas de financiamento regional.
“Trata-se de um projeto inovador que reúne organizações públicas, setor privado e organizações da sociedade civil. Todos unidos por objetivos comuns: a conservação ambiental e o desenvolvimento social das comunidades tradicionais, aldeias indígenas e agricultores familiares”, afirma Victor Salviati, superintendente de Inovação e Desenvolvimento Institucional.
Esse projeto marca, ainda, a cristalização da mudança no posicionamento da FAS, considerando sua atuação efetiva na Bacia Amazônia. Com isso, a organização, que comemora 13 anos, nesta segunda-feira, passa a adotar o nome de Fundação Amazônia Sustentável, refletindo melhor o seu amplo escopo de atuação para toda a Amazônia.
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Sobre a FAS
Há 13 anos a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) executa projetos ambientais, sociais e econômicos voltados para a conservação da Floresta Amazônica. É uma organização sem fins lucrativos, sem vínculos político-partidários, de utilidade pública e beneficente de assistência social, que atua em mais de 640 comunidades ribeirinhas e indígenas do Amazonas, localizadas em áreas protegidas, beneficiando aproximadamente 42 mil pessoas e que já recebeu mais de 16 prêmios nacionais e internacionais.
Entre os principais projetos executados pela instituição, vale destaque para o Programa Programa de Desenvolvimento Sustentável de Comunidades, Programa de Educação para Sustentabilidade, Programa de Soluções Inovadoras e outros. Além disso, desde abril do ano passado, a FAS coordena a Aliança Covid-Amazonas, com o apoio de 119 instituições, prefeituras e empresas, para combater as consequências da pandemia do coronavírus no Amazonas, beneficiando mais de 361 mil pessoas com doações de materiais, remédios, kits de higiene, alimentos, ambulanchas, além da instalação de polos de telessaúde e diversas outras ações.
(#Envolverde)
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021
Lancet: Metas mais ambiciosas no Acordo de Paris podem salvar milhões de vidas ao ano até 2040
por ClimaInfo –
No Brasil, 330 mil vidas podem ser salvas ao ano por ação climática aliada à dieta com menos carne e comida processada
Um novo estudo da Lancet analisou as metas do Acordo de Paris de nove países, incluindo o Brasil, para medir os impactos de ações mais ambiciosas de combate às mudanças climáticas e com foco na saúde pública. O resultado aponta que 6,4 milhões de vidas seriam salvas todo ano nos nove países devido a uma dieta melhor; 2,1 milhões deixariam de morrer por adotarem uma locomoção mais ativa e por praticar exercícios; e 1,6 milhões de vidas seriam poupadas com um ar menos poluído.
A pesquisa faz parte da iniciativa Lancet Countdown on Health and Climate Change e foi publicada no dia 9/2 no número especial da revista The Lancet Planetary Health. Os países considerados no estudo representam 50% da população e 70% das emissões mundiais – África do Sul, Alemanha, Brasil, China, EUA, Índia, Indonésia, Nigéria e Reino Unido.
Somente no Brasil, um fortalecimento das metas do Acordo de Paris com medidas explícitas para a área da saúde faria com que 24 mil pessoas deixassem de morrer em decorrência da poluição do ar todos os anos até 2040. Ações de sustentabilidade atreladas à promoção de uma dieta mais equilibrada (com mais acesso a frutas e vegetais e menos ingestão de comida processada e carne vermelha) poderia salvar cerca de 330 mil vidas brasileiras ao ano. E medidas climáticas aliadas ao incentivo à mobilidade ativa poupariam mais de 100 mil vidas anualmente.
As metas individuais de cada país no Acordo de Paris são conhecidas pela sigla em inglês NDC (Contribuições Nacionalmente Determinadas). O estudo levou em conta diferentes cenários para a saúde pública, com as metas atuais e com NDCs mais ambiciosas e consistentes com o objetivo de limitar o aquecimento a “bem abaixo de 2°C”. Segundo a organização Climate Action Tracker, as metas atuais dos países investigados vão de criticamente insuficientes a insuficientes (caso do Brasil), com exceção da Nigéria que não teve sua NDC avaliada pela organização e da Índia, que apresentou metas nacionais consideradas compatíveis com os objetivos do acordo.
Mesmo no cenário com as atuais NDCs, se elas forem cumpridas nos nove países sob estritos compromissos de sustentabilidade, já haveria uma redução no número de mortes: 5,8 milhões de vidas devido à melhoria na dieta, 1,2 milhões de vidas devido ao ar mais puro e 1,2 milhões de vidas devido ao aumento do exercício. A adoção do caminho mais ambicioso, com objetivos de saúde explícitos dentro das NDCs, poderia resultar em uma redução adicional de mortes anuais, da ordem de 462.000, 572.000 e 943.000 atribuíveis à poluição do ar, dieta ruim e sedentarismo, respectivamente. O número de mortes evitadas em cada área foram modeladas separadamente e não devem ser somadas, já que não se pode contabilizar o cruzamento de mortes potenciais evitadas.
COP26: oportunidade para a Saúde
Pelas regras do Acordo de Paris, todos os signatários devem atualizar suas NDCs de modo que elas se tornem progressivamente mais ambiciosas. Seis dos nove países incluídos no estudo ainda não anunciaram suas revisões, enquanto o Brasil apresentou em novembro de 2020 uma NDC que na prática diminui as ambições climáticas das metas anteriores. Por essa razão, o país foi excluído da Cúpula de Ambição Climática da ONU realizada em formato virtual sob a liderança do Reino Unido em lugar da COP26, que foi adiada para novembro de 2021.
Os autores enfatizam que as vidas salvas por meio de uma melhor dieta, ar mais limpo e mais exercício fornecem mais uma razão para o fortalecimento dos compromissos de Paris. “Ao contrário dos benefícios diretos da mitigação do carbono que são, em última instância, de longo prazo e compreendidos em termos de limitação de danos, os co-benefícios para a saúde de políticas climáticas ambiciosas têm um impacto positivo imediato”, explica Ian Hamilton, autor principal do estudo e diretor executivo da The Lancet Countdown on Health and Climate Change.
Para ele, não só o cumprimento das metas de Paris evita que milhões de pessoas morram prematuramente a cada ano, mas a qualidade de vida de milhões a mais será sensivelmente maior. “Temos agora a oportunidade de colocar a saúde na vanguarda das políticas de mudança climática para salvar ainda mais vidas”, diz Hamilton.
“As conclusões do relatório constituem um incentivo importante não apenas para que os líderes mundiais cumpram seus compromissos climáticos, mas também para alinhar os objetivos ambientais e de saúde nos planos de recuperação pós-Covid-19. Afinal de contas, populações mais saudáveis se mostrarão mais resistentes a futuros choques de saúde”, escreveu Margaret Chan, ex-diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) em artigo incluído no relatório. Ela também destacou a economia de recursos que seria alcançada com a melhoria geral da saúde da população, aliviando os custos da transição para uma economia de baixo carbono.
Alastair Brown, editor-chefe da The Lancet Planetary Health, afirma que como os países já estão sendo solicitados a aumentar seu nível de ambição antes da COP 26 em Glasgow, os próximos meses representam um momento-chave na luta contra a mudança climática. “Se há a necessidade de um prazo para motivar a ação dos países, nós temos: novembro de 2021”, em referência a data de realização do evento.
(ClimaInfo – #Envolverde)
Para onde vai o dinheiro do Pagamento por Serviços Socioambientais?
por Nurit Bensusan, especialista em biodiversidade do ISA e Mauricio Guetta, consultor jurídico do ISA
Se é verdade que os últimos anos têm sido marcados por intensos ataques à legislação ambiental, chamou a atenção da sociedade a aprovação, pelo Congresso, de uma norma de caráter positivo para o meio ambiente: a Lei nº 14.119, em 13 de janeiro 2021, que institui a Política Nacional de Pagamentos por Serviços Ambientais (PNPSA). O tema foi objeto de debates por anos no Legislativo e só pôde ser convertido em legislação devido ao esforço de diferentes e importantes setores da sociedade em busca de consensos – tanto que o projeto de lei contou com a aprovação unânime tanto na Câmara como no Senado.
Rompendo esses consensos e mantendo sua sanha de radicalização, o presidente da República, em decisão unilateral, resolveu vetar 23 dispositivos da nova lei, excluindo temas centrais para o sucesso na nova PNPSA.
A lei aprovada cria, em tese, um arcabouço para que o poder público – e também as relações entre particulares – incentivem ações positivas de proteção ao meio ambiente, por meio do pagamento pelos chamados serviços ambientais, ou seja: pagar por atividades individuais ou coletivas que favorecem a manutenção, a recuperação ou a melhoria dos serviços ecossistêmicos, conforme a definição da própria lei.
Os serviços ecossistêmicos, isto é, os benefícios que a humanidade obtém da natureza derivados, direta ou indiretamente, do funcionamento dos ecossistemas são divididos em quatro modalidades, de acordo com a Plataforma Internacional de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IBPES) e com a nova lei:
a) serviços de provisão: fornecem bens ou produtos ambientais utilizados pelo ser humano para consumo ou comercialização, tais como água, alimentos, madeira, fibras e extratos;
b) serviços de suporte: mantêm a perenidade da vida na Terra, tais como a ciclagem de nutrientes; a decomposição de resíduos; a produção, a manutenção ou a renovação da fertilidade do solo; a polinização; a dispersão de sementes; o controle de potenciais pragas e vetores de doenças humanas; a proteção contra a radiação solar ultravioleta; e a manutenção da biodiversidade e do patrimônio genético;
c) serviços de regulação: concorrem para a manutenção da estabilidade dos processos ecossistêmicos, tais como o sequestro de carbono, a purificação do ar, a moderação de eventos climáticos extremos, a manutenção do equilíbrio do ciclo hidrológico, a minimização de enchentes e secas e o controle dos processos críticos de erosão e de deslizamento de encostas;
d) serviços culturais: os que constituem benefícios não materiais providos pelos ecossistemas, por meio da recreação, do turismo, da identidade cultural, de experiências espirituais e estéticas e do desenvolvimento intelectual, entre outros.
Limitações à nova política
Se, por um lado, a nova lei estabelece definições e diretrizes gerais para a PNSA, conduzindo a um cenário de maior segurança jurídica para os programas de pagamento por serviços ambientais existentes e para os que vierem a ser desenhados, por outro, o conjunto de vetos do poder executivo, ainda não examinado pelo Congresso, limita bastante a implementação da nova política.
De uma forma geral, é possível dizer que a Lei, sem os vetos, estabelece as definições de serviços ecossistêmicos, serviços ambientais, pagador de serviços ambientais e provedor de serviços ambientais; os objetivos e as diretrizes da PNPSA; o desenho do Programa Federal de Pagamentos por Serviços Ambientais (PFPSA) e sua governança; o Cadastro Nacional de Pagamentos por Serviços Ambientais; e os incentivos para o pagamento por serviços ambientais.
Foram vetados pelo presidente todos os dispositivos que faziam menção ao conselho deliberativo do PFPSA, instância que seria responsável por propor prioridades e critérios para a alocação de recursos, monitorar a conformidade dos investimentos com a PNPSA e avaliar o programa periodicamente. Esse colegiado, além de conferir transparência ao PFPSA, teria composição paritária, incluindo representantes do poder público, do setor produtivo e da sociedade civil. Seria a ponte da nova política e do programa federal com a sociedade brasileira. Outro dispositivo vetado é o Cadastro Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais, medida que também prejudica a transparência e o necessário controle por parte da sociedade brasileira sobre o PFPSA.
Sobre o financiamento da PNPSA, a lei diz que “poderão ser captados recursos de pessoas físicas e de pessoas jurídicas de direito privado e perante as agências multilaterais e bilaterais de cooperação internacional, preferencialmente sob a forma de doações ou sem ônus para o Tesouro Nacional, exceto nos casos de contrapartidas de interesse das partes.” Esse dispositivo também revela uma fragilidade, pois não ficam assegurados montantes que garantam a implementação da legislação e sua continuidade.
O problema é agravado com o veto dos dispositivos que versavam sobre os incentivos, que previam benefícios fiscais e estímulos tributários a quem quisesse investir em programas de PSA – como a dedução no Imposto de Renda, por exemplo –, além de abrirem a possibilidade para que o Executivo criasse novos incentivos.
Os vetos, portanto, prejudicam sobremaneira a implementação da lei.
Prioridades, Reserva Legal e APP
“O que nós queremos também é, em havendo recursos, remunerar a própria Reserva Legal e não apenas o excedente”, afirmou o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em entrevista ao programa Brasil em Pauta, da TV Brasil, em janeiro. “Remunerar o proprietário que cuida do meio ambiente. Não se tratando só, portanto, de uma política de fiscalizar e punir quem faz coisa errada”, concluiu.
De fato, a nova legislação prevê a possibilidade de pagamento por serviços ambientais para a manutenção de Reserva Legal (RL) ou das Áreas de Preservação Permanente (APPs) das propriedades, mas não sem critérios e sem o respeito à ordem de prioridades prevista.
Em primeiro lugar, antes de qualquer pagamento para essas modalidades de áreas protegidas, deve ser observada a prioridade prevista no parágrafo 2º do artigo 6º, que diz: “a contratação do pagamento por serviços ambientais no âmbito do PFPSA, observada a importância ecológica da área, terá como prioridade os serviços providos por comunidades tradicionais, povos indígenas, agricultores familiares e empreendedores familiares rurais definidos nos termos da Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006.”
Assim, embora a norma permita o pagamento por serviços ambientais em áreas sobrepostas àquelas cujos proprietários já têm a obrigação de conservar segundo o Código Florestal, como a RL ou as APPs, isso só poderia se dar se esgotadas as possibilidades de pagamento pelos serviços providos por comunidades tradicionais, povos indígenas, agricultores familiares e empreendedores familiares rurais. Afinal, sem isso, o pagamento por serviços ambientais não traria qualquer adicionalidade à proteção ambiental e poderia se resumir a pagar para que particulares simplesmente cumpram suas obrigações legais.
O próprio dispositivo da nova lei que versa sobre o tema estabelece uma série de preferências dentro do contexto de pagamento por serviços ambientais para a conservação de RL ou APPs. É o que se extrai do teor do artigo 9º: “as Áreas de Preservação Permanente, Reserva Legal e outras sob limitação administrativa nos termos da legislação ambiental serão elegíveis para pagamento por serviços ambientais com uso de recursos públicos, conforme regulamento, com preferência para aquelas localizadas em bacias hidrográficas consideradas críticas para o abastecimento público de água, assim definidas pelo órgão competente, ou em áreas prioritárias para conservação da diversidade biológica em processo de desertificação ou avançada fragmentação.”
Por certo, a nova PNPSA tem muito a contribuir com a proteção ambiental no Brasil, mas a sociedade deve ficar atenta para cobrar do Congresso a derrubada dos vetos presidenciais, medida essencial para manter a coerência da deliberação unânime nas duas casas legislativas. Da mesma forma, deve exercer seu controle social para impedir que interesses escusos venham a desvirtuar a aplicação da nova legislação. (Instituto Socioambiental – ISA)
#Envolverde
Defesa da Amazônia e da ciência rende prêmio a brasileiros
Por Nádia Pontes, Deutsche Welle –
Prestigiada Associação Americana para o Avanço da Ciência homenageia o climatologista Carlos Nobre e o ex-diretor do Inpe Ricardo Galvão, exonerado por Bolsonaro.
Dois brasileiros estão entre os escolhidos neste ano pela prestigiada Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês) como cientistas de destaque mundial.
Ricardo Galvão, físico e ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), é o vencedor da edição 2021 do Prêmio Liberdade e Responsabilidade Científica. Já Carlos Nobre, climatologista associado ao Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), foi reconhecido com o Prêmio Diplomacia Científica.
“O professor Galvão defendeu a ciência sólida diante da hostilidade”, afirmou Jessica Wyndham, da AAAS, durante o anúncio dos ganhadores nesta segunda-feira (08/02). Os prêmios serão entregues numa cerimônia virtual marcada para esta quarta-feira, durante a 187º reunião anual da entidade.
Em agosto de 2019, Galvão foi exonerado do Inpe após defender o trabalho de monitoramento do desmatamento da Amazônia feito pelo instituto há mais de 30 anos. Semanas antes, o presidente Jair Bolsonaro havia dito que os dados de alerta – que apontavam para um aumento significativo da devastação – eram mentirosos e que Galvão estaria “a serviço de alguma ONG”.
“Quando tomei a decisão de enfrentar o presidente Bolsonaro com determinação, ficou claro que eu tomei a medida certa. Foi custosa para mim, mas a repercussão que houve demonstra que foi muito importante”, afirmou Galvão à DW Brasil. “Ter reagido naquele momento também levantou a questão da Amazônia.”
“Coração biológico do planeta”
Carlos Nobre é o primeiro brasileiro a ser nomeado como ganhador na categoria Diplomacia Científica, criada em 2013. Segundo a AAAS, o reconhecimento é feito ao pesquisador por seu “trabalho abrangente para compreender e proteger a biodiversidade e os povos indígenas da Amazônia”.
“Estamos vendo o risco de a Amazônia desaparecer aumentar dia a dia. Temos que mudar o modelo de desenvolvimento da região, zerar o desmatamento, restaurar uma grande área de floresta”, comentou Nobre em entrevista à DW Brasil.
Em 2020, a floresta perdeu cerca de 25 mil km² de área em todos os países amazônicos. Só no Brasil, cerca de 11 mil km² desapareceram. O aumento relação ao ano anterior, que já havia registrado uma alta do desmatamento, foi de 9,5%.
Carlos Nobre: “Precisamos salvar a Amazônia urgentemente. Ela não é um lugar para virar pastagem.”
O corte ilegal da mata na região disparou sob Bolsonaro. Multas por crimes ambientais foram praticamente suspensas, o Fundo Amazônia foi paralisado, funcionários de carreira do Ibama e do ICMBio perderam postos de comando, leis foram flexibilizadas, houve aumento de invasão de terras públicas.
“A mensagem é clara: precisamos salvar a Amazônia urgentemente. Ela não é um lugar para virar pastagem”, diz Nobre, referindo-se ao avanço da agropecuária sobre a floresta.
A política ambiental desastrosa do atual governo tem gerado fortes críticas no cenário internacional. A esse time se juntou o recém-eleito presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que traça um pacote de investimentos para apoiar a preservação da maior floresta tropical do mundo.
“É muito positivo estarmos vendo esse movimento mundial. Essa urgência [de proteger a floresta] tem sido apontada pela ciência não é de hoje. Agora ela não está só confinada no meio cientifico, é um assunto de interesse global”, argumenta Nobre. “A Amazônia é o coração biológico do planeta.”
Em maio, uma rede internacional de cientistas liderada por Nobre deve publicar o primeiro relatório que compila todo o conhecimento científico já produzido sobre a Floresta Amazônica e caminhos para evitar o seu desaparecimento. A iniciativa é da Sustainable Development Solutions Network (SPA), ligada à Organização das Nações Unidas (ONU).
Resistência ao negacionismo
Ao comentar a nomeação pela AAAS, fundada em 1848, Galvão se diz surpreso. “Eu não esperava que iria receber esse prêmio de uma instituição centenária, com um prestígio enorme, responsável pela revista Science. Quando recebi o telefonema até achei que fosse brincadeira”, comenta.
Ricardo Galvão: “Nossas políticas públicas precisam ser baseadas em ciência sólida. Não podemos mais viver de achismos e negacionismo.”
Por outro lado, ele considera que o prêmio representa a luta dele contra o negacionismo científico, presente em diversos setores do governo Bolsonaro, como o Conselho da Amazônia. “A ausência de cientistas no conselho, liderado por um militar, o vice-presidente Hamilton Mourão, parece não ser apenas negacionismo, mas medo da ciência, um desdém”, opina.
A política negacionista está também em evidência no enfrentamento à pandemia provocada pelo novo coronavírus, afirma Galvão. “Tivesse o governo adotado uma política mais inteligente, certamente teríamos um número bem menor mortes”, pontua, lembrando que o vírus já matou mais de 230 mil pessoas no país.
“É importante a sociedade perceber, não só em momentos de crise, que as nossas políticas públicas, nossas decisões, nossas estratégias precisam ser baseadas em ciência sólida. Não podemos mais viver de achismos e negacionismo. Isso afeta fortemente a população. Ciência é o caminho para o progresso de um país”, conclui Galvão.
#Envolverde
Parque Nacional do Iguaçu: um dos últimos refúgios para as onças-pintadas na Mata Atlântica
Por Yara Barros*
O Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná, é uma ilha de vida em um Estado castigado pelo desmatamento. Com seus 185 mil hectares, abriga e protege centenas de espécies, muitas delas ameaçadas, como a onça-pintada (Panthera onca).
Os esforços para salvar a onça-pintada na região começaram na década de 1990, com o trabalho pioneiro do Peter Crawshaw, que criou o Projeto Carnívoros do Iguaçu. Os resultados iniciais de uma década de esforços apontavam para um cenário preocupante: população reduzida e várias onças abatidas como resultado do conflito com criadores de gado do entorno do parque nacional. De lá para cá, muita coisa foi feita e, com alívio, temos visto a população da espécie na unidade de conservação aumentar.
Em 2018, o Projeto Carnívoros do Iguaçu passou a se chamar Projeto Onças do Iguaçu e ampliou seu escopo de trabalho para intensificar o envolvimento dos moradores lindeiros com a questão da conservação da onça-pintada. O Onças do Iguaçu é um projeto institucional do Parque Nacional do Iguaçu, desenvolvido em parceria com o Instituto Pró-Carnívoros. Temos também o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap) do ICMBio como parceiro executor nessa empreitada, além de muitos outros colaboradores, pois conservação não se faz sozinho.
Onças não conhecem fronteiras, e o Rio Iguaçu, que separa Brasil e Argentina, conecta áreas importantes para esses animais. E se temos onças circulando lá e cá, temos também um exemplo muito bacana de como dois projetos e dois países podem unir esforços para salvar uma espécie. Trabalhamos em parceria estreita com o Proyecto Yaguareté, da Argentina, que há 20 anos atua na conservação da espécie no país.
O Projeto Onças do Iguaçu tem três linhas principais de ação: pesquisa, engajamento e coexistência das comunidades lindeiras ao parque com grandes felinos.
Na área de pesquisa é feito um esforço para entender a disponibilidade de presas para as duas espécies de onças do local (pintada e parda) e o estudo de suas dietas. Também são capturadas e colarizadas onças para que possamos entender seu deslocamento, área de vida e território. Essas informações são úteis no estabelecimento de medidas de conservação. As campanhas de captura são realizadas em conjunto com o Proyecto Yaguareté e o Cenap/ICMBio.
Pesquisadores tentam localizar as onças que receberam rádio-colares – Foto: Projeto Onças do Iguaçu
Para monitorarmos essa população, a cada dois anos é feito um censo binacional, envolvendo as equipes do Projeto Onças do Iguaçu e do Proyecto Yaguareté. Esse é o maior esforço mundial (em tempo e área) para monitorar onças-pintadas: já são 10 anos de monitoramento e a área amostrada nos dois países, conhecida como Corredor Verde, é de cerca de 600 mil hectares.
A população no parque nacional era estimada em cerca de 9 a 11 indivíduos em 2009 e de lá pra cá vem crescendo: dados do censo realizado em 2018 apontaram que a população do lado brasileiro era de cerca de 28 animais. Se considerarmos Brasil e Argentina, a estimativa é de cerca de 105 animais. Sempre nos perguntam quantas onças-pintadas “cabem” no Corredor Verde. A estimativa é que a área tenha capacidade de suporte para 250, então temos ainda um longo caminho pela frente.
Existem apenas cerca de 250 a 300 onças-pintadas em toda a Mata Atlântica, ou seja, temos aproximadamente um terço de todas as onças do bioma. E essa é a única população que está comprovadamente crescendo na Mata Atlântica. Uma responsabilidade enorme.
A equipe de proteção do parque nacional trabalha de maneira intensiva no combate à caça ilegal dentro da unidade.
Estamos finalizando a amostragem do censo de 2020 e ainda este ano deveremos ter uma nova estimativa.
Equipamentos que registram as imagens das onças (câmeras trap) são instalados na floresta – Foto: Projetos Onças do Iguaçu
A caça, a perda e a fragmentação de hábitat e os conflitos com populações humanas são grandes ameaças para as onças. Através de inúmeras ações contínuas com as comunidades dos 14 municípios lindeiros ao parque nacional, procuramos transformar esse medo em encantamento, conseguir engajamento. Fácil? De jeito nenhum. O medo é muito forte e geralmente baseado muito mais em crenças do que em fatos. Temos ações como Onça na Escola, Papo de Onça, Onça Itinerante, Pedal da Onça e Trilha da Onça. Assim conseguimos atingir vários públicos.
Projeto Onça na Escola trabalha com crianças e jovens da região. Imagem registrada antes da pandemia – Foto: Projeto Onças do Iguaçu
Criamos um programa de ciência cidadã, o Time Panthera, que busca o envolvimento direto das comunidades que estão junto aos limites do parque nacional nas atividades do Projeto Onças do Iguaçu. Além do senso de pertencimento e de envolvimento direto da comunidade na conservação da onça-pintada na região, essa ação possibilita multiplicar a presença do projeto, através de pontos focais nos Municípios lindeiros. Com isso, a meta é que as notícias sobre onças cheguem mais regularmente ao projeto e que os membros do Time Panthera possam atuar junto a suas comunidades como parceiros em atividades de engajamento, coexistência, identificação de fragilidades ou oportunidades de intervenção.
Fazemos visitas constantes a propriedades no entorno. Não só naquelas onde ocorrem casos de predação, mas também nas que estão vulneráveis a predação. Desenvolvemos, testamos e instalamos dispositivos anti-predação para evitar perdas de animais domésticos que possam causar abate de onças por retaliação. Costumamos dizer que não queremos apenas cuidar das onças, mas das pessoas que dividem essa terra com elas.
Integramos a COPCoex, uma Comunidade de Práticas em Coexistência, coordenada pelo Dr. Sílvio Marchini (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – Esalq/USP), na qual estão envolvidas as principais equipes de pesquisadores que trabalham com grandes predadores na Américas. O grupo busca entender os conflitos e desenvolver e partilhar ferramentas para trabalhar a coexistência entre grandes predadores e seres humanos.
O contato contínuo com as comunidades ajuda a afastar o medo, criar e fortalecer vínculos, além d ajudar o projeto a ter uma relação de confiança com os moradores. A ideia é que o “atira primeiro, pergunta depois” seja substituído pelo “pergunta primeiro, não atira nunca”. Temos tido ótimos resultados e nossa estratégia inclui atendimento imediato, sempre que possível, a predações, visualizações de grandes felinos ou mesmo de pegadas. E cada atendimento nunca é uma visita única, já que as propriedades passam a ser monitoradas constantemente. Em 2020, em plena pandemia, fizemos quase 200 visitas a propriedades no entorno do parque nacional, sempre seguindo um protocolo sanitário.
Visita a produtor rural. Imagem registrada antes da pandemia – Foto: Projeto Onças do Iguaçu
Não fazemos o ressarcimento de animais predados por onças, mas criamos um sistema que chamamos de “CompONÇAção”, no qual identificamos, em uma avaliação caso a caso, talentos locais que o projeto possa ajudar a desenvolver, visando a produção de produtos/serviços aos quais a onça agregue valor e gerando uma fonte alternativa de renda diretamente relacionada à conservação da espécie. Usamos nossa rede de contatos para buscar capacitação, intercâmbio entre produtores, certificação e identificação de mercados para os produtos associados às onças. O resultado esperado é que a geração alternativa de renda agregue valor à manutenção das onças vivas. E já temos vários exemplos, como o queijo da onça, o mel da onça, nozes & onças, palanques da parda… E estamos só começando! Tem muita ideia bacana em fase de implementação.
Equipes do Projeto Onças do Iguaçu, do Proyecto Yaguareté e do Cenap/ICMBio na captura da onça-pintada Tarobá, em 2019 – Foto: Emilio Withe/Projeto Onças do Iguaçu
Sim, a estrada para a conservação da onça-pintada na região é longa, mas tem muita gente cheia de energia, paixão e comprometimento trabalhando junta para cuidar dessa espécie tão absolutamente magnífica.
Não existem soluções simples, existe uma junção de estratégias e equipes (e orações, claro!)Sim, a estrada para a conservação da onça-pintada na região é longa, mas tem muita gente cheia de energia, paixão e comprometimento trabalhando junta para cuidar dessa espécie tão absolutamente magnífica.
Vamos juntos?
*Yara Barros – Bióloga, doutora em Zoologia, coordenadora executiva do Projeto Onças do Iguaçu e associada do Instituto para a Conservação dos Carnívoros Neotropicais – Pró-Carnívoros
#Envolverde
É preciso dissociar o crescimento econômico de emissões
por Sonya Angelica Diehn, DW Brasil –
Ao medir o progresso humano, é preciso considerar o custo do desenvolvimento econômico para o meio ambiente, as sociedades e nossa saúde, diz Achim Steiner, diretor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
A economia do futuro terá claramente menos carbono, menos poluentes e será mais eficiente em termos de recursos. É o que prevê o teuto-brasileiro Achim Steiner, diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Em entrevista à DW, ele alerta que, se não dissociarmos o crescimento econômico das emissões, os efeitos das mudanças climáticas se tornarão irreversíveis. Segundo ele, o desenvolvimento da economia do futuro depende da rapidez com que a sociedade conseguirá se libertar do legado do passado.
DW: O desenvolvimento está intrinsecamente ligado ao crescimento econômico?
Achim Steiner: Esse tem sido certamente o paradigma do século 20. Crescimento econômico, Produto Interno Bruto (PIB), renda per capita: essas foram as principais variáveis com as quais tentamos medir o desenvolvimento, o progresso e o êxito de nossas sociedades. Mas isso também ocultou alguns elementos muito irracionais dessa medição por muito tempo.
Achim Steiner
Achim Steiner: “Estamos chegando aos limites do planeta”
Por exemplo, um grande vazamento de petróleo é muito bom para o crescimento econômico porque a limpeza custa muito dinheiro e isso contribui para o PIB. Mas a destruição que desencadeia nas comunidades, na natureza, nas espécies, nos ecossistemas que não se recuperam, nunca é captada.
Por essa razão, grande parte da disciplina econômica, mas também do desenvolvimento sustentável, tem tentado nos últimos anos encontrar melhores formas de medir o progresso humano.
A extinção de espécies, as 7 milhões de pessoas que morrem prematuramente a cada ano, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), devido à poluição. Esse é o preço de um parâmetro muito estreito para medir e informar as opções de desenvolvimento.
Como o desenvolvimento humano pode ser dissociado dos danos ambientais?
Como sempre, não há nem uma bala de prata nem uma ação singular. Mas, antes de mais nada, é preciso ver onde o desenvolvimento pode oferecer uma oportunidade e uma solução, em vez de agravar o problema. Prioridade máxima são claramente a descarbonização, que está movendo nossas economias em uma trajetória de baixo carbono para o futuro e, por fim, zerar as emissões. Você pode criar minirredes e realmente proporcionar às pessoas um motor fundamental do desenvolvimento, que é o acesso à energia e à eletricidade.
A segunda área tem que ser o modo como lidamos com nossa infra-estrutura natural e ecológica. Investir na natureza, na restauração da terra, parando a destruição, por exemplo, das florestas, mas também de nossos ecossistemas fluvial e aquático.
E, finalmente, temos que aceitar a ideia de que é preciso incorporar a contabilidade de custos totais em nossos sistemas nacionais de estatística econômica, porque, uma vez que o preço da perda desses bens ambientais faz parte de um balanço nacional, começam a surgir decisões bem diferentes e investimentos muito mais racionais e caminhos de desenvolvimento passam a ser evidentes.
A vontade política pode ser desenvolvida a tempo de implementar isso e mudar a situação em tempo hábil?
A vontade política é uma espécie de moeda ilusória. Podemos atribuir toda a responsabilidade aos líderes políticos − mas os líderes políticos, por exemplo nas democracias, estão vinculados a sentimentos de curtíssimo prazo. E assim os líderes políticos desenvolvem sua coragem e compromisso de ação quando acreditam que há apoio público para isso.
Manifestantes na rua empunhando um cartaz
Para Steiner, os cidadãos podem influenciar os políticos: basta fazerem sua voz ser ouvida
Portanto, também cabe aos cidadãos fazer a parte do que um político pensa ser uma receita para o sucesso. No meio da covid-19, as pessoas em muitas de nossas sociedades estão dizendo: “Veja, não podemos simplesmente voltar para onde estávamos antes.” Muitos líderes políticos, primeiros-ministros e presidentes estão começando a falar de maneira muito transformadora.
Na classificação clássica do Índice de Desenvolvimento Humano, os países europeus e anglo-saxões estão desproporcionalmente representados no topo. Mas esses países também têm uma longa história de degradação ambiental para alcançar tal prosperidade. O que isso significa para os países que desejam melhorar o próprio nível de desenvolvimento?
Houve um ou dois séculos em que a industrialização e o colonialismo, vamos mencionar isso também, permitiram que vários países se desenvolvessem rapidamente, reduzindo sua própria base de recursos e contando com os recursos naturais de outros países para desenvolver suas economias. Existe uma injustiça que às vezes é extremamente difícil de aceitar, especialmente para os países em desenvolvimento de hoje.
Estamos chegando aos limites do planeta. Se não conseguirmos dissociar globalmente o crescimento econômico das emissões, estaremos condenados de várias maneiras, pois os efeitos das mudanças climáticas se tornam não apenas inevitáveis, mas também irreversíveis.
Acho que o mais interessante e talvez mais encorajador é que a economia de amanhã terá claramente menos carbono, será menos poluente e mais eficiente em termos de recursos. Portanto, do ponto de vista do planejamento de negócios, faz todo sentido investir nesses setores e tecnologias que permitam maior competitividade no mercado.
Basta olhar para os problemas das principais montadoras de carros − a maioria delas não conseguiu detectar este sinal. E, do nada, você tem uma empresa chamada Tesla, que agora é a fábrica automotiva mais valorizada do mundo. Os mercados financeiros não são leais. Eles mudam suas afinidades muito rapidamente.
A questão é com que rapidez podemos nos libertar do legado do passado em nossa economia e realmente criar a economia do futuro.
Achim Steiner é ambientalista e chefia o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Antes disso, foi diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e também atuou como diretor-geral da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), e como secretário-geral da Comissão Mundial de Barragens.
Imagem de destaque: Vazamentos de petróleo: bom para a economia, péssimo para o meio ambiente
#Envolverde
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021
Você precisa saber: dados da área ambiental estão sendo ocultados
James,
Sentimos na pele e a cada respiração o resultado das queimadas, do desmatamento e da poluição. As mudanças climáticas se fazem notar cada vez mais. As informações são uma ferramenta importante nesse cenário para nos manter informados sobre as questões ambientais, mas o acesso da população aos dados sobre meio ambiente está sendo reduzido pelo governo.
Pesquisadores das organizações Artigo 19, Imaflora e Instituto Socioambiental realizaram uma análise sobre o nível da transparência e o status da participação social em políticas ambientais, comparando os períodos 2017-2018 e 2019-2020. O estudo revelou uma série de retrocessos que restringiram o acesso à informação sobre as políticas ambientais e as possibilidades de participação da sociedade civil nas decisões dessas políticas. Leia mais aqui.
O estudo está dividido em duas partes: uma dedicada ao tema da transparência pública, outra, ao da participação social. Entre os principais achados da primeira parte, estão: alterações nos protocolos de comunicação dos órgãos ambientais, ameaças a servidores, elevação do sigilo de documentos públicos, apagões em bases de dados ambientais, diminuição na capacidade de resposta a pedidos de informação e deslegitimação de órgãos públicos responsáveis pela produção de dados ambientais.
Em relação ao segundo aspecto do estudo, a participação social nas políticas ambientais, o estudo identifica um desmonte da estrutura participativa da sociedade desde os primeiros meses de 2019. Os retrocessos incluem a extinção de colegiados que trabalham para que a sociedade civil participe das decisões do governo, a redução de assentos da sociedade civil nos colegiados e a formulação de novas regras que dificultam a participação social nos processos relativos ao meio ambiente.
A intenção das organizações envolvidas no estudo é ter um panorama amplo dos retrocessos no acesso à informação sobre as políticas ambientais, para que a sociedade civil tenha um monitoramento mais efetivo e possa se organizar para reverter a situação. Em um ano em que estamos verificando recordes de desmatamento, dados como esses, ocultos durante tanto tempo, são imprescindíveis para que uma política efetiva de combate ao desmatamento e outras ilegalidades sejam efetivamente implementadas.
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Antonio Oviedo
Instituto Socioambiental - ISA
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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021
Queda da cobertura vacinal de crianças e adolescentes se amplia na pandemia
Cerca de 29% das famílias adiaram a vacinação dos filhos durante a pandemia – Dados são de pesquisa inédita realizada pelo IBOPE. Levantamento também apontou que 50% dos pais de crianças de 3 a 5 anos deixaram de realizar consultas de rotina com o pediatra durante o isolamento social
Por Nara Bueno, Larissa Ribeiro e Denilson Oliveira
A realidade imposta pelo novo coronavírus e o distanciamento social alterou drasticamente a rotina de toda a sociedade. Enquanto o mundo aguarda por uma vacina, o Brasil enfrenta, também, outro desafio: reverter a queda da cobertura vacinal que, neste ano, passa pela pior adesão da série histórica. Apesar do Programa Nacional de Imunização (PNI) brasileiro ser uma referência mundial, a alta taxa de cobertura que sempre foi sua característica vem regredindo nos últimos anos. Segundo dados do UNICEF, no Brasil, na Bolívia, no Haiti e na Venezuela, a cobertura vacinal caiu em pelo menos 14 pontos percentuais desde 2010[1].
Mas, em um período no qual se fala tanto sobre o assunto, como as famílias brasileiras estão lidando com o panorama atual? O quanto a pandemia influenciou o atraso na vacinação das crianças? Em busca de respostas, o IBOPE Inteligência, a pedido da Pfizer, realizou a pesquisa Impacto da pandemia nos lares brasileiros: Como as famílias estão lidando com a nova realidade.
O levantamento foi realizado em outubro a partir de 1.000 entrevistas on-line com mães e pais de todas as regiões do País e faz parte da campanha #MaisQueUmPalpite. De forma leve e bem-humorada, a campanha combate as fake news sobre a saúde das crianças com informações de qualidade e conscientiza as famílias sobre a importância da prevenção de doenças infectocontagiosas durante a infância. A ação é uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Pfizer.
Desafio na cobertura vacinal
A queda na cobertura vacinal durante a pandemia não é uma exclusividade brasileira: o fenômeno é mundial. A Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou como alarmante o declínio do número de crianças e adolescentes vacinados em todo o mundo e alertou para o risco de que sejam perdidas as conquistas de proteção vacinal desta parcela da população2.
No Brasil, quando o assunto é saúde infantil e proteção contra as doenças infecciosas mais frequentes na infância, o levantamento realizado pelo IBOPE revela que 29% dos pais adiaram a vacinação dos filhos após o surgimento da pandemia. Destes, 9% planejam levar os filhos para vacinar somente quando a pandemia acabar. As regiões Norte e Centro Oeste destacam-se da média: 40% das famílias atrasaram a imunização. A pesquisa, que ouviu pais das classes A, B e C, aponta que os atrasos ocorreram em todos os estratos sociais.
Ao mesmo tempo em que o isolamento e a limitação na circulação de pessoas reduz a transmissão do novo coronavírus e de outras doenças, a diminuição da cobertura vacinal pode colocar em risco a saúde de todos, especialmente frente à atual situação epidemiológica do sarampo, da febre amarela e da coqueluche[3].
Presidente do Departamento de Imunizações da SBP, o pediatra e infectologista Renato Kfouri lembra que o atraso na vacinação das crianças pode fortalecer cenários preocupantes. “As informações coletadas pela pesquisa indicam que é necessário realizar um extenso trabalho de conscientização da população a respeito da necessidade de manter atualizada a carteirinha de vacinação das crianças, especialmente durante a pandemia do novo coronavírus”
Sem consultas de rotina
As consultas de rotina também ficaram em segundo plano. Entre as famílias entrevistadas, 44% deixaram de realizar o acompanhamento dos filhos com o pediatra e o valor chega a 50% entre os pais de crianças de 3 a 5 anos. Por outro lado, 15% famílias viram a telemedicina como uma alternativa para não ficar sem acompanhamento médico durante a pandemia. No total de pais e mães entrevistados, 38% relataram que o pediatra não deu nenhuma orientação sobre vacinação durante a pandemia. Por outro lado, no Nordeste, 43% dos pais afirmaram que o pediatra reforçou a importância da vacinação durante a pandemia, enquanto a média geral foi de 34%.
“Embora muito se fale sobre imunização neste momento, é importante que a população sempre esteja atenta para as vacinas requeridas na carteirinha. Apesar de simples, esse ato é capaz de salvar vidas. Quando não prevenidas, diversas enfermidades podem, juntas, levar a quadros de saúde graves e de difícil identificação”, afirma a diretora médica da Pfizer Brasil, Márjori Dulcine.
Desinformação
Se as lacunas na orientação quanto à importância da vacinação neste momento confundem os pais, as dúvidas aumentam em relação à adoção de medidas preventivas de doenças que podem facilitar um possível diagnóstico
de contágio pela covid-19. Questionados se a vacinação contra gripe e doenças pneumocócicas ajudam no diagnóstico da covid-19, pois permitem descartar estas doenças, 29% disseram que não sabem e 31% dos pais acreditam, equivocadamente, que a informação é falsa. Além disso, 47% não souberam responder se existem vacinas para prevenir pneumonias bacterianas e outros 11% classificaram a informação como mito.
A pneumonia é uma doença respiratória provocada por bactérias, vírus ou fungos. Três a cada 10 casos diagnosticados estão associados à bactéria pneumococo4. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que as mortes por doenças pneumocócicas causem por ano mais de 800 mil mortes de menores de 5 anos5, superando em até 8 vezes os 110 mil6 óbitos causados anualmente por sarampo na mesma faixa etária, em âmbito mundial, de acordo com levantamento realizado em 2017. O Brasil está entre os 15 países com maior incidência de infecções pelo pneumococo.
Formas de prevenção
Entre as vacinas que podem proteger os pacientes contra as pneumonias pneumocócicas está a Prevenar 13, da Pfizer, a única que oferece proteção direta contra os outros 13 sorotipos de pneumococo mais prevalentes em todo o mundo:1, 3, 4, 5, 6A, 6B, 7F, 9V, 14, 18C, 19A, 19F e 23F. Trata-se, ainda, da única vacina pneumocócica conjugada licenciada para todas as idades no Brasil, a partir de 6 semanas de vida, incluindo adolescentes e adultos.
Aprovada no Brasil desde 2010, a vacina Prevenar 13 está disponível nas clínicas particulares com indicação para todos os grupos etários e, desde outubro de 2019, passou a ser disponibilizada também na rede pública de saúde através dos CRIEs (Centro de Referência Imunológicos Especiais) para pacientes considerados de alto risco para aquisição da doença pneumocócica, acima de 5 anos de idade, o que engloba pacientes com HIV e oncológicos, além de indivíduos transplantados.
Referências:
1 UNICEF. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/oms-e-unicefalertam-para-um-declinio-na-vacinacao-durante-pandemia-de-covid-19. Acesso em 27 Out 2019.
2 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Disponível em: https://www.who.int/news/item/15-07-2020who-and-unicef-warn-of-a-decline-in-vaccinations-during-covid-19. Acesso em 26 Out 2019.
3 SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/nt-sbpsbim-calendariodacriancapandemiacovid-200324.pdf Acesso em 27 Out 2019.
4 MEDSCAPE. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Mats_Kalin/publication/7383793_Streptococcus_pneumoni ae_Epidemiology_Risk_Factors_and_Clinical_Features/links/00b7d51a47e857322b000000/Streptoc occus-pneumoniae-Epidemiology-Risk-Factors-and-Clinical- Acesso em 28 Out 2019. Features.pdf?origin=publication_detail
5 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Disponível em: https://www.who.int/en/news-room/factsheets/detail/pneumonia. Acesso em 28 Out 2019.
6 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Disponível em: https://www.who.int/news-room/factsheets/detail/measles>. Acesso em 28 Out 2019.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 12/02/2021
EcoDebate - Edição 3.607 de 12 / fevereiro/ 2021
Desejamos a todos(as) um bom dia e uma boa leitura
Desmatamento e insustentabilidade da população mundial
Suco de Laranja e a Necessidade de um Mercado Sustentável de Frutas
No ritmo atual de aumento da temperatura podemos atingir +1,5°C nos próximos 15 anos
Adiar metas de recuperação da biodiversidade custará o dobro aos países
Telhados verdes ganham cada vez mais destaque nos empreendimentos da Europa
Como ajudar o meio ambiente cultivando horta em casa e compostando as sobras orgânicas
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021
Sítios de Patrimônio Mundial Natural estão sob ameaça por causa da mudança climática
Mudança climática ameaça Patrimônio Mundial Natural – Estudos apontam que, até o ano de 2050, o planeta aquecerá cerca de 2°C a mais do que hoje
Por Elton Telles
Um levantamento da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em inglês) constatou que um terço dos Sítios de Patrimônio Mundial Natural estão sob ameaça por causa da mudança climática.
O estudo destaca que áreas como a Grande Barreira de Coral australiana, o maior recife de corais do mundo, já estão sendo afetadas e foram classificadas como conservação “crítica”.
Entre os 83 Sítios do Patrimônio Mundial Natural que estão sofrendo com a mudança climática também estão as Áreas Protegidas da Região Floral do Cabo, na África do Sul, onde a alteração exacerbou a disseminação de espécies invasoras; Área de Conservação do Pantanal no Brasil, que foi severamente danificada por incêndios florestais; o Lago Kluane, localizado em um sítio do Patrimônio Mundial no Canadá e nos Estados Unidos, que está sofrendo com o rápido degelo da geleira Kaskawulsh, fato que acabou mudando o fluxo do rio, esgotando as populações de peixes.
Rodrigo Silva, coordenador do curso superior de Tecnologia em Gestão Ambiental do Centro Universitário Internacional Uninter, explica que estes locais “são áreas excepcionais com grande valor cultural e natural devido à sua grande diversidade biológica (ou biodiversidade). Além disso, são regiões reconhecidas pela UNESCO e que tem como principal função a preservação dessa diversidade e de populações tradicionais que ali vivem”, afirma.
Segundo o professor, as mudanças climáticas são o principal problema ambiental que será vivenciado nas próximas décadas. “Estudos apontam que, até o ano de 2050, o planeta aquecerá cerca de 2°C a mais do que hoje. Isso significa dizer que teremos mais enchentes e alagamentos, alteração do regime de chuvas com períodos de seca e estiagem mais severos, aumento dos níveis dos mares e oceanos bem como aumento no seu processo de acidificação, desertificação de ambientes e perda de biodiversidade. Obviamente, tudo isso está estreitamente relacionado a enormes perdas econômicas, sociais e ambientais”, comenta.
Sítios do Patrimônio Mundial Natural
O material, que usou como base dados de 2014 e 2017, foi desenvolvido a fim de diagnosticar se a conservação dos 252 sítios do Patrimônio Mundial Natural é suficiente para protegê-los a longo prazo. De acordo com o relatório, a mudança climática ultrapassou as espécies invasoras como a principal ameaça ao Patrimônio Mundial natural.
Silva acredita que mecanismos de preservação e conservação da nossa biodiversidade indicam que a humanidade está no caminho certo. No entanto, é preciso que essas políticas sejam implementadas de maneira permanente e que, além disso, a população também seja orientada a como diminuir a sua própria pegada ecológica.
“Por serem locais de altíssima biodiversidade (natural e cultural), esses sítios são primordiais para a conservação desse tesouro. No entanto, é preciso que haja políticas públicas eficazes que fomentem positivamente o processo de gestão dessas áreas. Além disso, temos que realizar um trabalho voltado à educação ambiental dos cidadãos”, afirma Silva.
Uma alternativa apresentada pelo professor é a utilização destas áreas para o desenvolvimento do turismo ecológico e, consequentemente, geração de emprego e renda para as populações locais. “O uso dessas áreas com responsabilidade e gestão pode ser uma excelente ferramenta de promoção de conscientização e sensibilização dos cidadãos brasileiros”.
Atualmente, o Brasil tem sete locais considerados como Sítios do Patrimônio Mundial Natural. São eles: Parque Nacional de Iguaçu (Foz do Iguaçu/PR e Argentina), As Reservas de Mata Atlântica do Sudeste (Paraná e São Paulo), Costa do Descobrimento (Reservas da Mata Atlântica, Bahia e Espírito Santo), Complexo de Áreas Protegidas da Amazônia Central, Complexo de Áreas Protegidas do Pantanal (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), Áreas protegidas do Cerrado: Chapada dos Veadeiros e Parque Nacional das Emas (Goiás), Ilhas Atlânticas Brasileiras: Reservas de Fernando de Noronha e Atol das Rocas.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 08/02/2021
EcoDebate - Edição 3.603 de 08 / fevereiro/ 2021
Desejamos a todos(as) um bom dia e uma boa leitura
Com a pandemia, 2021 começa com alta no preço da comida
Ecoparques auxiliam no desenvolvimento positivo através da Economia Circular
Ambiente costeiro fornece importantes serviços ecossistêmicos
Retorno dos EUA ao Acordo de Paris pressiona o Brasil a honrar compromissos
Sítios de Patrimônio Mundial Natural estão sob ameaça por causa da mudança climática
Embrapa anuncia bioinseticida inofensivo a humanos, ao ambiente e a outros insetos
“Compreendemos desenvolvimento sustentável como sendo socialmente justo, economicamente inclusivo e ambientalmente responsável. Se não for assim não é sustentável. Aliás, também não é desenvolvimento. É apenas um processo exploratório, irresponsável e ganancioso, que atende a uma minoria poderosa, rica e politicamente influente.” [Cortez, Henrique, 2005]
domingo, 7 de fevereiro de 2021
O GRITO DO BICHO - Boletim Informativo de 7.2.2021
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sheila moura
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021
EcoDebate - Edição 3.602 de 05 / fevereiro/ 2021
Desejamos a todos(as) um bom dia e uma boa leitura
A China está vencendo a guerra comercial
Vacina contra Covid-19, risco e benefício
Não dá para esperar as eleições de 2022
Alzheimer ainda não tem cura, mas existem tratamentos eficazes
Pesquisa avalia impactos dos incêndios na condição da água do Pantanal
A população brasileira se preocupa com o meio ambiente
“Compreendemos desenvolvimento sustentável como sendo socialmente justo, economicamente inclusivo e ambientalmente responsável. Se não for assim não é sustentável. Aliás, também não é desenvolvimento. É apenas um processo exploratório, irresponsável e ganancioso, que atende a uma minoria poderosa, rica e politicamente influente.” [Cortez, Henrique, 2005
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