Temas foram pauta do Agapan Debate que tratou sobre a importância de preservar o Guaíba.
Em debate promovido pela Agapan, no dia 12 de setembro, em Porto Alegre, o engenheiro agrônomo Sebastião Pinheiro (Agapan) e o engenheiro civil Antonio Benetti, professor do IPH da Ufrgs, proferiram palestras sobre questões relacionadas à poluição das águas. As palestras abriram o evento Agapan Debate, que abordou, como tema central, "a importância de cuidarmos do Guaíba". A mediação foi realizada pelo conselheiro da Agapan professor Darci Campani (Ufrgs). O Agapan Debate contou com o apoio da Assessoria de Gestão Ambiental e do GT de Saúde Urbana da Ufrgs.
Ambos os palestrantes apresentaram contextualizações históricas de casos pontuais que contribuíram para a degradação de corpos hídricos e seus respectivos impactos sociais em diversas localidades em todo o planeta, refletindo diretamente na saúde das respectivas populações.
Outro ponto em comum nas palestras foi a conclusão de que os venenos agrícolas são responsáveis por grande parte da poluição das águas.
O professor Benetti lembrou que, na década de 1950, o DDT era borrifado, inclusive, na praia, junto aos banhistas, por ser considerado uma solução ao combate de mosquitos e da malária. Em outros exemplos, Benetti mostra fotografias de pessoas com defeitos de má-formação física por consequência da contaminação por mercúrio na baía de Minamata, no Japão em 1953, e exemplos de lesões e câncer de pele detectadas em Bangladesh nos anos 1970 por contaminação com arsênio.
Em relação à manutenção da qualidade da água do Guaíba, ressaltou a importância de mais investimentos em saneamento básico nas cidades que compõem a Bacia Hidrográfica do Guaíba. Apontou, também, as limitações decorrentes das interconexões entre redes de esgotos cloacal e pluvial, que se contaminam simultaneamente, e alertou para o problema das “fontes difusas de poluição”. Benetti salientou, ainda, que o problema da poluição não é exclusivo do Guaíba, visto que o referido estuário recebe águas de outras bacias hidrogáficas altamente poluídas que nele desaguam. O fato, segundo o pesquisador, é recorrente em várias partes do mundo. Nesse apontamento, o professor deixa clara a pista de que o problema da poluição dos recursos hídricos é planetário, e que o sistema de proteção desses recursos vitais precisa ser imeditamente repensado.
Sebastião Pinheiro rotulou de "violências" o modo como as companhias e governos, em sintonia, tratam populações de diferentes regiões do mundo. Ele apresentou vários casos de violência, muitos deles, em épocas diferentes, tendo o apoio de setores da própria sociedade, com cidadãos inconscientemente condicionados pela ideologia de seus próprios algozes, ávidos por lucros a qualquer custo.
Para ilustrar a parceria entre governos e interesses financeiros privados, ele aponta as licenças emitidas para a ampliação do uso de venenos nas produções de alimentos. Pinheiro também apresentou dados de estudos que comprovam que o aumento do uso do veneno glifosato, utilizado na agricultura, foi detectado em leite materno de mulheres europeias.
Segundo o pesquisador, o resíduo de fosfato que chega ao Guaíba sustenta a proliferação de algas que exalam, no verão, o cheiro característico já conhecido pela população das cidades que se abastecem com a água do estuário. Com a criação do que denomina “zona morta” no Guaíba, passa a existir a falta de controle com a formação de nitratos que provocam problemas no ciclo do nitrogênio da água.
Na sua apresentação, bastante extensa, ele traça uma linha que une pontos importantes para a compreensão quanto à complexidade do sistema social responsável pela poluição do Guaíba e de estuários de diversas partes do planeta.
Confira, aqui, o vídeo com a gravação das palestras.
Diretor do Dmae considera que episódio envolvendo a poluição do Guaíba está encerrado. Será?
Para o diretor geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), Antônio Elisandro de Oliveira, que assistiu às palestras e foi convidado para compor a mesa junto aos palestrantes no momento de abertura dos debates, o episódio envolvendo a poluição pela empresa Cettraliq está encerrado.
Causou espanto aos participantes do evento - palestrantes, organizadores e plateia - a afirmação de que os órgãos ambientais responsáveis pelo licenciamento da empresa já haviam sido alertados sobre o problema e não tomaram providências para evitar que a fonte poluidora continuasse contaminando a água que abastece a população de Porto Alegre e cidades próximas. "Nós dissemos aos órgãos ambientais, desde o início, que esta empresa já deveria ter sido interditada", relatou Oliveira. Segundo o diretor geral do Dmae, "esta empresa está há oito ou dez anos poluindo o nosso manancial".
A poluição do Guaíba não é novidade, já faz parte da vida dos porto-alegrenses há décadas. Muitos moradores da capital gaúcha nunca tiveram o prazer de conhecer o rio-lago com águas limpas. Famoso pelo seu espetacular pôr-do-sol, as águas do estuário são mal administradas por sequências intermináveis de administrações municipais e do Estado gaúcho.
Areia perigosa
A ameaça apresentada pela ofensiva econômica das mineradoras sobre o Guaíba é outro ponto que foi abordado no evento e que merece muita atenção por parte da população e das entidades preocupadas com a manutenção da qualidade da água do estuário. Segundo especialistas, o revolvimento da areia do fundo do Guaíba pode causar a contaminação da água superficial que é captada para o consumo das comunidades. Nesse ponto, o estreitamento de interesses econômicos privados e os reflexos sobre as decisões de agentes políticos em cargos de decisões no Executivo precisam ser monitorados exaustivamente.
O silêncio de quem deveria se manifestar
No mês de julho, a Agapan encaminhou cartas à administração pública municipal e ao governo do Estado gaúcho, cobrando ações para enfrentar os problemas que estavam sendo relatados por moradores de Porto Alegre. Só o Dmae se manifestou.
No mesmo mês, a entidade publicou carta aberta cobrando o envolvimento da presidente da Assembleia Legislativa, deputada Silvana Covatti, da secretária Ana Pellini (Sema), do presidente da Câmara de Vereadores, Cássio Trogildo, do Ministério Público Estadual e, novamente, da administração municipal de Porto Alegre na questão. Só o Dmae se manifestou.
A Agapan entende que a questão da poluição do Guaíba não pode ser encarada como um caso pontual. Há um modelo de desenvolvimento insustentável que há décadas permeia as decisões dos gestores públicos, em todas as esferas governamentais, que têm os olhos fechados para as questões ecológicas, essenciais para a manutenção da vida.
Enquanto o valor ecológico for suplantado pelo valor econômico, várias outras empresas continuarão poluindo, e as soluções paliativas nunca serão suficientes para resolverem a origem maior dos problemas de poluição ambiental, que colocam em constante risco a saúde pública e a qualidade de vida das populações.
Imprensa Agapan |
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sábado, 24 de setembro de 2016
AGAPAN : Venenos agrícolas e mineração ameaçam qualidade da água
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