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sexta-feira, 21 de abril de 2023

Yanomamis ainda clamam por água potável e alimentação

Startup brasileira de sistemas de filtragem doa purificadores de água e contribui para a saúde dos povos indígenas. Neste ano, não temos o que comemorar no Dia dos Povos Indígenas (19). No mês de janeiro, equipes do Ministério da Saúde resgataram mais de mil indígenas em estado grave de saúde na comunidade Yanomami, localizada em Boa Vista, RO. A crise sanitária foi caracterizada por malária, desnutrição infantil e dificuldade no abastecimento de alimentos e água potável. O problema tem relação direta com o avanço do garimpo ilegal e desassistência do governo nos últimos anos. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Socioambiental (ISA) em parceria com a Hutukara Associação Yanomami, apontou que no último ano de governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, o garimpo ilegal cresceu 54% na Terra Indígena Yanomami. Para Fernando Silva, CEO da PWTech, startup de purificação de água contaminada, referência em ajuda humanitária no Brasil e no mundo, o cenário é de guerra e expõe o descaso social e ambiental com a comunidade. “Hoje, famílias Yanomamis estão sendo resgatadas bastantes debilitadas, com costelas aparentes e rostos esqueléticos. É uma situação desumana, principalmente entre crianças e idosos”, diz. Criança carregando água Dados obtidos pela DW (Deutsche Welle) e confirmados pelo CIR (Conselho Indígena de Roraima) indicam que a taxa de mortalidade de crianças menores de 5 anos foi de 1,8 por dia em janeiro – totalizando 56 vítimas naquele mês. Na região, 6 de cada 10 crianças menores de 5 anos apresentam déficit nutricional, ou seja, têm peso considerado inadequado para a idade, a maior parte delas já em desnutrição severa. Segundo informações obtidas pela SUMAÚMA, nos 4 anos de governo de Jair Bolsonaro (2019-2022), 570 crianças com menos de 5 anos morreram no território Yanomami pelo que as estatísticas chamam de “mortes evitáveis”. O número oficial já é 29% maior do que nos 4 anos anteriores, dos governos de Dilma Rousseff (PT) e, após o impeachment, de Michel Temer (MDB). No dia 20 de janeiro, o Ministério da Saúde declarou Emergência Pública de Importância Nacional diante da necessidade de combate à desassistência sanitária dos povos que vivem no território Yanomami. A portaria foi publicada na edição extra do Diário Oficial da União. Dois meses após a declaração, garimpeiros ainda atuam na terra indígena – o que impede a chegada dos serviços de saúde, o que aumenta a incidência de doenças infecciosas. No início do ano, 20 mil garimpeiros ocupavam o território Yanomami, segundo estimativa da Hutukara Associação Yanomami (HAY). Embora a emergência tenha entrado para a agenda do governo federal, a força-tarefa voltada para o atendimento à saúde e distribuição de alimentos e água potável ainda é insuficiente. “A ocupação da região pelo garimpo ilegal é prejudicial em diversas frentes. Para separar o ouro do carvalho, o mercúrio é utilizado como uma solução viável e prática. O problema é que esse metal pesado contamina as águas e os peixes que os indígenas consomem. No corpo humano, o mercúrio pode afetar a coordenação motora, a visão e até mesmo a memória”, afirma o empresário. Reclamações sobre a qualidade da água são comuns na região, como explica o jovem Enenexi Yanomami: “Água suja para comer, estraga o peixe. Crianças muito fracas. Água, bebe-se suja e barriga dói muito”, diz. Estudos divulgados em 2021 pela Fiocruz, apontaram que 60% dos indígenas da Terra Sawré Muybu têm o metal tóxico no organismo acima do limite tolerado pela OMS. Sete estudos realizados pela fundação mostram que mulheres e crianças são as mais vulneráveis à intoxicação por mercúrio. A PWTech desenvolveu em parceria com o corpo técnico da Ufscar (Universidade de São Carlos), o PW5660, equipamento capaz de purificar até 5.760 litros de água por dia; 4 litros por minuto. A solução tem sido usada na gestão de graves crises humanitárias ao redor do mundo. O aparelho pesa apenas 12 quilos e uma unidade consegue abastecer até 100 pessoas. Para o empresário: “A tecnologia foi criada para ir onde a rede de distribuição não vai”, diz. No Brasil, o equipamento está instalado em duas comunidades Yanomamis. Na Aldeia Taracoa, Amazonas (AM), a instalação foi realizada em dezembro do ano passado. Na época, a população vinha sofrendo repetidas epidemias de diarreia e verminoses. Em busca de alternativas para melhorar a qualidade de vida da população, a Secoya (Associação de Cooperação com o Povo Yanomami) iniciou a parceria com a PWTech. Para ajudar a comunidade, a startup fez a doação de um sistema de purificação e filtragem de água, com alto rendimento em águas contaminadas, substâncias químicas e biológicas. Ao todo, 80 habitantes estão sendo beneficiados com a tecnologia. Neste ano, a companhia também realizou a doação de 3 equipamentos para o Hospital de Campanha em Surucucu – RR. A ação faz parte da campanha da União Brasil para o Instituto Socioambiental (ISA) – que tem atuado com a proteção do meio ambiente e dos direitos dos povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos – aproximadamente 85 habitantes serão beneficiados na primeira etapa do projeto. Além da PWTech, a região tem recebido ajuda de diversas organizações. A Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS) integrou a força-tarefa nacional para o combate e controle de emergências de saúde aos Yanomami, nos municípios de São Gabriel da Cachoeira, Barcelos e Santa Isabel do Rio Negro, na região do Alto Rio Negro. A iniciativa faz parte de uma ação do Centro de Operações de Emergência em Saúde – Yanomami (COE-Yanomami), do Ministério da Saúde, do qual a instituição passa a fazer parte. Juntos, esses três municípios somam mais de 7,8 mil indígenas Yanomami, conforme dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). Já a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) enviará, até o dia 3 de maio, mais de 12 mil cestas de alimentos para a distribuição à população Yanomami. As cestas foram adquiridas em um leilão, com recurso de R$ 5,2 milhões do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS). A Força Aérea Brasileira (FAB) divulgou, na segunda-feira (3/4), um balanço dos 60 dias de atividade no Território Indígena (TI) Yanomami, em Roraima, e apontou que foram entregues 350 mil quilos de alimentos para indígenas. Segundo o Major-Brigadeiro, cerca de 20 mil cestas básicas foram distribuídas no território, atendendo mais de 40 aldeias. Lideranças que estiveram em Roraima em fevereiro deram diferentes abordagens para as urgências, como kits que filtram água, cestas básicas adaptadas, lavadoras de roupas e a reforma de um polo de saúde. (#Envolverde)

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