De 17 a 26 de outubro, o governo alemão promove em Berlim o encontro entre jovens cientistas de 21 países com a elite alemã de pesquisadores das áreas da ciência e da sustentabilidade. Intercâmbio de ideias é base para futuras cooperações com o país.
Por Redação da Envolverde*
17/10/2016 – Pela oitava vez, o concurso Green Talents Award, realizado pelo Ministério Federal da Educação e Pesquisa da Alemanha (BMBF), que tem como patrona a Prof.ª Johanna Wanka, ministra da pesquisa da Alemanha, oferece uma plataforma para que jovens talentos da pesquisa de todo o mundo compartilhem os seus projetos nas áreas da ciência e desenvolvimento sustentável. As iniciativas são reconhecidas pela capacidade inovadora de tornar a sociedade mais sustentável, abrangendo diversas áreas da economia, com ideias criativas capazes de responder as questões atuais mais urgentes sobre proteção ambiental.
Um júri de especialistas do país selecionou para esta edição 25 cientistas promissores entre 757 candidatos de mais de 104 países. Os ganhadores – Austrália, Brasil, Canadá, China, Colômbia, República Tcheca, Etiópia, Filipinas, Gana, Índia, Irlanda, Israel, Malásia, Nepal, Paquistão, Portugal, Cingapura, Espanha, Togo, Trinidade e Tobago e Zimbabwe -, encaminharam as suas iniciativas para o concurso em maio deste ano. O prêmio é uma das disputadas vagas para o “Green Talents – Fórum Internacional para Iniciativas de Alto Potencial em Desenvolvimento Sustentável” (Green Talents – International Forum for High Potentials in Sustainable Development). Neste ano, o concurso abordou os efeitos das alterações climáticas, poluição e sobrepesca nos maiores recursos naturais da Terra, os oceanos, de acordo com o Ano da Ciência do Ministério Federal de Educação Alemão e Pesquisa 2016/2017, que é dedicado aos mares e oceanos. Essas questões, bem como os desafios enfrentados pelo meio ambiente em geral, exigem cooperação científica internacional. Na edição de 2016, dois brasileiros se destacaram na competição alemã com pesquisas no âmbito do manejo de animais silvestres e mudanças climáticas:
Hani Rocha El Bizri, 29, mestrando em Saúde e Produção Animal pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e pesquisador associado do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), apresentou uma iniciativa focada na sustentabilidade da caça na Amazônia. A carne de caça tem uma importância notável na subsistência das famílias de baixa renda que vivem na região, como as populações indígenas, ribeirinhas e quilombolas. Porém, a caça tem afetado fortemente os animais silvestres, pois a atividade contribui para a diminuição de suas populações, o que gera tanto um problema de preservação da biodiversidade como também à segurança alimentar das comunidades. Assim, o projeto do pesquisador visa obter informações reprodutivas desses animais na busca do manejo sustentável desses recursos. “A nossa técnica inovadora envolve os moradores locais, que nos fornecem os órgãos reprodutivos dos animais que eles caçam habitualmente, partes raramente consumidas. Trata-se de um sistema de fornecimento voluntário que ocorre no dia a dia da vida do morador. Até o momento, obtivemos mais de 1.700 doações em 10 anos de estudos conduzidos na Amazônia brasileira e peruana”, conta o pesquisador.
A partir desses dados, a equipe do pesquisador trabalha com as amostras em laboratório para refinar as informações reprodutivas de mais de 10 espécies de mamíferos (por exemplo, anta, paca, queixada, catitu, cutia, espécies de macacos, etc.), comparando com resultados anteriores e que hoje são obsoletos, já que foram gerados há mais de 30 anos com base em poucos animais de cativeiro. Com isso, novos resultados foram gerados. Esses dados reprodutivos representam uma das informações mais essenciais para nutrir modelos matemáticos de sustentabilidade, os quais estimam taxas sustentáveis de caça e as melhores técnicas a serem aplicadas para manter as populações de animais estáveis. Esse trabalho também poderá ser usado para definir estratégias de manejo a serem adotadas pelas comunidades e, assim, garantir uma de suas principais fontes de proteína.
Marina Demaria Venâncio, 23, estudante de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), tem como foco de sua pesquisa as interconexões entre mudanças climáticas, agricultura e os sistemas alimentares sob uma perspectiva do direito, com ênfase nas políticas públicas agroecológicas brasileiras e suas implicações jurídicas.
“Mudanças climáticas, agricultura industrial e insegurança alimentar são apenas alguns dos exemplos das diversas questões que atualmente demandam soluções e abordagens inovadoras, interdisciplinares e integradas no contexto de uma sociedade global que se modifica rapidamente”, coloca a pesquisadora. Tem-se, assim, que a Agroecologia é uma ciência transdisciplinar que também ficou conhecida na América Latina como uma teoria crítica e um movimento social, que advogam para o estabelecimento de um sistema de produção mais sustentável e socialmente inclusivo. Recentemente no Brasil foram promulgadas variadas leis relacionadas à temática, com destaque à Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. Neste âmbito, enquadra-se a sua pesquisa atual, cujos principais objetivos são melhor compreender e delimitar os princípios, direitos e deveres trazidos ao mundo jurídico por estas novas políticas públicas, bem como sua extensão e mecanismos de cumprimento; revisitar o direito ambiental brasileiro à luz do novo paradigma estabelecido pela Agroecologia, repensando a atual divisão entre as nossas especializadas disciplinas jurídicas e discutir as interconexões entre a recente legislação agroecológica brasileira com as leis existentes relacionadas à agricultura familiar, segurança alimentar e produção orgânico-ecológica, delineando um manual para auxiliar na construção de políticas agroecológicas mais compreensivas e efetivas.
Os “Green Talents” contam com duas semanas de interação com importantes especialistas em algumas das mais renomadas instituições e empresas de pesquisa do mundo, incluindo o Instituto Alfred Wegener para Pesquisa Polar e Marinha, Universidade de Tecnologia de Hamburgo, Instituto Max Planck de Física de Plasma, Instituto Potsdam de Pesquisa de Impacto Climático, Siemens AG e o Centro de Serviços Sul Africano para Alterações Climáticas e Gestão Adaptativa de Terras. Além disso, os pesquisadores poderão trocar ideias com importantes especialistas alemães em reuniões individuais para obter uma visão aprofundada do sistema de inovação do país, de forma que eles aprendam sobre as suas abordagens e tecnologias de última geração.
O vínculo e o intercâmbio de ideias entre os mais inovadores participantes da comunidade científica é base para futuras cooperações. Estas atividades têm o respaldo do convite para, em 2017, retornarem à Alemanha para uma estadia de pesquisa totalmente financiada pelo governo alemão na instituição que escolherem.
A conferência e a cerimônia de premiação serão realizadas no dia 27 de outubro de 2016, no Kosmos, em Berlim. Mais informações em www.greentalents.de, LinkedIn ou no Twitter. (#Envolverde)
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