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terça-feira, 9 de maio de 2023
Água limpa e acessível é absolutamente essencial
Esta é, na opinião de muitos, a questão mais urgente, porque a água é essencial à vida. Óbvio não? Na verdade não é tão óbvio assim.
Por Henrique Cortez
Apesar das aparências, a água é um recurso finito. Em termos simplificados e para compreensão do conceito, podemos afirmar que o volume total de água é essencialmente o mesmo há milhões de anos, na medida em que praticamente não existe “produção” de novas moléculas de água, sendo que a disponibilidade de água doce variou ao longo dos períodos glaciais ou interglaciais.
A água, portanto, não muda em termos de volume total, mas pode variar em seu estado físico (sólido, gasoso e líquido), distribuição geográfica e disponibilidade.
O uso, no entanto, vem crescendo de acordo com o aumento da população. Há quem afirme que atualmente exploramos a água em níveis 30% superiores à reposição, através do ciclo hidrológico [processo de circulação das águas composto por: evaporação, precipitação, transporte, escoamento superficial, infiltração, retenção e percolação] e para atender aos 12 bilhões de 2050 necessitaremos de 20% acima dos níveis atuais.
É evidente que quanto maior a população maior a demanda por água, que já se encontra em situação crítica na maior parte do planeta.
Na última década, pelo menos, cientistas, pesquisadores e ambientalistas insistentemente alertam para os riscos de uma grave crise hídrica.
Alertaram para a necessidade de revitalizar bacias hidrográficas, recuperar mananciais, ampliar ao máximo os sistemas de captação e tratamento de esgoto, conservar e proteger as áreas de recarga dos aquíferos. Isto sem falar, da redução do desperdício dos sistemas de distribuição, do uso perdulário da água pela agricultura e do desperdício pelos consumidores.
Além disto, cientistas, pesquisadores e ambientalistas também alertavam que o desmatamento da floresta amazônica ameaçava os ‘rios voadores’, de fundamental importância para o clima e as chuvas na região sudeste.
Alertaram em vão e foram rotulados de catastrofistas e apocalípticos, para dizer o mínimo. Os desenvolvimentistas a qualquer custo e os paladinos do agronegócio, em especial, sempre desqualificaram os alertas, por maior embasamento científico que tivessem.
Sei disto muito bem porque perdi a conta de quantas vezes enfrentei esta desqualificação.
Pois bem, exatamente como nos alertas, a crise hídrica chegou.
Estamos diante de uma grave crise hídrica que caminha rapidamente para níveis desastrosos. No Brasil, por exemplo, sempre tivemos a fantasia que nossos imensos recursos hídricos eram inesgotáveis, que podíamos superexplorar ao infinito. Mas hoje, mesmo no Brasil, sobram provas de que a água se torna um recurso cada vez mais escasso.
Isto ocorre porque a exploração é maior do que a capacidade de recarga oferecida pela natureza, causando o esgotamento de bacias e mananciais, bem como o lento esvaziamento dos reservatórios. Este processo de esvaziamento dos reservatórios é chamado de depleção [resultado da retirada de água de um reservatório superficial ou subterrâneo em ritmo mais rápido do que sua recarga / enchimento].
Além da crescente demanda, as atividades antropogênicas [atividades de origens humanas] interferem na qualidade e disponibilidade da água, principalmente, em razão de sua contaminação por poluentes, tais como, metais pesados, produtos químicos, agrotóxicos, esgotos, medicamentos e hormônios, etc.
No Brasil, nossas bacias hidrográficas [conjunto de terras drenadas por um rio principal e seus afluentes. A noção de bacia hidrográfica inclui naturalmente a existência de cabeceiras ou nascentes, divisores d’ água, cursos d’ água principais, afluentes, subafluentes, etc. Em todas as bacias hidrográficas deve existir uma hierarquização na rede hídrica e a água se escoa normalmente dos pontos mais altos para os mais baixos. O conceito de bacia hidrográfica deve incluir também noção de dinamismo, por causa das modificações que ocorrem nas linhas divisórias de água sob o efeito dos agentes erosivos, alargando ou diminuindo a área da bacia – fonte CETESB] não apenas estão sendo esgotadas pela superexploração como também são contaminadas pelos efluentes líquidos industriais e pelo esgoto em natura, tornando o processo de tratamento cada vez mais difícil e caro. São Paulo e Rio de Janeiro já são abastecidas por sistemas de transposição de bacias [transferência de águas entre bacias] e tendem a buscar água em bacias cada vez mais distantes.
Em escala global, os recursos hídricos, são tratados como recursos locais, ou seja, cada país desenvolve sua própria política de uso, conservação e proteção. O Brasil, por exemplo, vem investindo no aumento da captação e tratamento dos efluentes líquidos industriais e esgoto. Segundo dados de 2020 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), 63,2% da população era atendida com coleta de esgoto, enquanto 50,8% possuía tratamento de esgoto. Avançamos, mais ainda estamos longe do necessário.
O retrato do Saneamento Básico no Brasil – 175,5 milhões de brasileiros têm acesso à água tratada, enquanto outros 114,6 milhões contam com coleta e tratamento de esgoto em suas residências. Além disso, 190,9 milhões de pessoas contam com coleta e manejo de resíduos sólidos urbanos.
Abastecimento de água
Esgotamento sanitário
Manejo de resíduos sólidos urbanos
Drenagem e manejo de águas pluviais urbanas
% Pop. Total
% Pop. Total
% Pop. Total
% Domicílios em situação de risco de inundação
Brasil
84,1
55,0
90,5
3,9%
Norte
58,9
13,1
80,7
4,0%
Nordeste
74,9
30,3
83,1
3,1%
Sudeste
91,3
80,5
96,1
4,1%
Sul
91,0
47,4
91,5
4,1%
Centro-Oeste
90,9
59,5
91,3
4,1%
Fonte: SNIS, 2020
Como dissemos, a água é essencial à vida e, por isto, é necessário e cada vez mais urgentes desenvolver ações locais e globais, baseadas em conservação e tecnologia, que garantam a disponibilidade necessária, reduzindo a contaminação e o desperdício de recursos hídricos.
É uma responsabilidade de governos, é claro, mas também depende de nossa participação como consumidores e cidadãos.
Henrique Cortez, jornalista
Editor do Portal EcoDebate
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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