27 de setembro de 2015
(da Redação da ANDA)
O capitão Larry Baimbridge, do departamento de polícia de Houston, no Texas (EUA), estava dirigindo para a sua casa em Janeiro quando viu um cavalo no meio da rua, “esparramado” no chão durante o horário de pico.
“Eu pisei fundo nos freios”, disse Baimbridge ao The Dodo, “e disse a mim mesmo, ‘Ah, não. Isso tem que acabar’ “.
Ele se referia ao assustador número de cavalos negligenciados, abandonados e abusados que se acumulavam – e continuam se acumulando – na cidade de Houston.
Imediatamente após avistar aquele cavalo, Baimbridge ligou para o seu posto e preservou o local. A Humane Society de Houston (HHS) também foi alertada, e dentro de poucas horas, o jovem equino foi carregado para um trailer. Porém, o seu alívio durou pouco: ele entrou em colapso por fraqueza pouco tempo depois.
O cavalo recebeu o nome de Monty, porque o seu tutor estava andando montado sobre ele em uma movimentada rua chamada West Montgomery – no horário de rush. Pelo seu estado físico e mental, estava claro que Monty vinha sendo abusado e negligenciado há anos, de acordo com a HHS.
De fato, ele estava 110 quilos abaixo do peso.
Apesar dos esforços para mantê-lo vivo, ele sucumbiu ao que somente poderia ser descrito por todas as atrocidades que definiram a sua vida inteira. Nove dias depois, Monty estava morto.
Uma cidade em crise
Outras versões da história de Monty estão em absolutamente toda a parte de Houston. Monica Schmidt, relações públicas da HHS, disse que o problema da negligência a cavalos e outros animais está completamente fora de controle.
Ela conta que não se trata apenas de cavalos sendo abandonados à beira de rodovias. “É tudo, de cavalos a ninhadas de cães, cachorros idosos, cães que estão doentes, feridos, morrendo de desnutrição”.
Os animais são frequentemente encontrados nos mesmos pontos onde as pessoas descartam entulho, sofás ou camas.
“Infelizmente”, diz ela, “isso é algo contra o qual estamos lutando há muito tempo aqui em Houston”.
Há “centenas e centenas” de cavalos sendo abandonados em toda a cidade, afirma Baimbridge. “Você vê cavalos amarrados em árvores ou jogados em terrenos baldios. Muitos estão desnutridos e em aspecto miserável”. A polícia vê tantos cavalos enquanto dirige pelas ruas de Houston, “que quase se acostumou com isso”, diz ele. “É terrível. Se você descer uma das avenidas principais, como a West Montgomery, você vê pelo menos três, quatro, cinco, seis cavalos. E em ruas menos movimentadas também, eles estão por toda a parte”.
Segundo a reportagem, uma porção considerável desse “descarte de cavalos” – por falta de um termo mais apropriado – ocorrre em uma área chamada “Acres Homes”, que Baimbridge descreve como tendo uma tradição de tutela de cavalos e de vida no “estilo rural”, mesmo estando inserida na cidade. Baimbridge disse que trabalhou na região nos anos 90, e quando retornou ao bairro mais recentemente, ele ficou impressionado com o que viu.
Ele estima que parte do problema seja devida ao fato de que, em um trimestre por ano, Acres Homes promove uma série de rodeios, que utilizam cavalos. “Nesses momentos, todos querem se apossar de algum cavalo”, explica ele. Alguns desses cavalos são comprados em leilões, outros são supostamente roubados de comunidades rurais fora da cidade e há ainda outros que já foram explorados em eventos anteriores.
Após a temporada dos eventos, uma quantidade assustadora de cavalos é descartada. Um cenário comum é do tutor que irá amarrar o cavalo em uma árvore sem cuidar dele, conta Baimbridge, “porque ele presume que o animal pode cuidar de si mesmo”. E então, uma semana depois “ou mais”, esse tutor retorna ao cavalo e o força a levá-lo para dar um passeio em suas costas, mesmo que esse cavalo não tenha sido alimentado ou bebido água há dias.
Provavelmente foi o que aconteceu ao cavalo Monty antes dele ter finalmente perecido.
Mudanças muito lentas
A questão é tão grave que a HHS contratou dois fiscais para trabalharem em tempo integral para a organização exclusivamente em casos de crueldade. Mas mesmo que esteja claro para a vizinhança que ela está sendo vigiada na questão de abandono de cavalos, os dois funcionários simplesmente não dão conta de monitorar constantemente as áreas, diz Schmidt.
“Nós colocamos placas nas áreas onde pessoas jogam animais, pedindo que quem veja algo desse tipo denuncie”, relata ela. “Colocamos até mesmo câmeras de segurança nas áreas mais problemáticas, mas no final, eles vão para outra rua e encontram um novo local para jogá-los”.
Desde Fevereiro, a HHS e Baimbridge começaram uma parceria informal, após ambos terem reconhecido a dramática situação. Baimbridge diz que está treinando e designando homens para tratar especificamente desses casos, e está também lançando mão de um componente educacional mais formal: a disseminação de informações à população sobre como cuidar adequadamente de equinos.
Porém as circunstâncias são tão avassaladoras que Baimbridge acredita que, para cada cavalo que ele e seus funcionários conseguirem salvar, haverá 20, 30, talvez 40 que não irão sobreviver.
A triste realidade é que, quando as probabilidades são tão altas na direção errada, a vida e a morte de tantos animais se resumem a números. “Os policiais olham à sua volta e têm que tentar descobrir quais cavalos poderão sobreviver durante a noite se forem resgatados ou quais não valem a pena salvar pois têm a grande probabilidade de morrer logo, de qualquer forma”, diz Baimbridge.
Ele diz aos seus funcionários que não devem esperar resolver o problema de um dia para o outro, e que isso talvez demore anos.
O ciclo fatal de abuso e negligência
No Dia do Trabalho, dois cavalos foram encontrados pelas autoridades no meio da noite. Jornais locais mostraram imagens dos animais muito magros, enquanto moradores descreveram que os cavalos haviam sido “deixados para morrer” em uma vala ao lado da estrada.
Um dos animais – uma égua de oito anos de idade – mal podia andar. Ela foi ouvida gritando de dor quando o noticiário foi ao ar.
O chefe de polícia do condado de Harris em Houston foi chamado até o local para auxiliar no resgate. Um adjunto, Thomas Gillibrand, disse ao The Dodo que a égua foi levada ao estábulo de gado do condado para ser examinada por alunos da Universidade Texas A&M.
Mas, uma vez que ela estiver minimamente saudável, ela deverá ser retirada do local: o protocolo demanda que, após 15 dias que um cavalo está com a saúde estável, ele deve ser levado para ser vendido em um leilão local.
Quanto ao segundo cavalo, Gillibrand diz que ele foi deixado onde estava, pois embora as tentativas de encontrar um tutor não tivessem sido bem sucedidas, havia sinais de comida e água nas proximidades
Schmidt informa que a HHS faz um esforço acentuado para manter os cavalos e salvá-los do ciclo de crueldade da melhor maneira possível. “Nós não queremos que eles terminem em outra má situação”, diz ela. “Felizmente, nosso chefe de equipe veterinária tem uma grande clínica no leste do Texas, e por isso tem muitos contatos com rancheiros mais experientes e fazendeiros, e assim tentamos reabilitar os animais e encontrar bons lares”.
No meio tempo, no entanto, esse fator é praticamente nulo. “Se nós pudéssemos levá-los direto a algum lugar, isso faria uma grande diferença”, diz Baimbridge. O problema é que não há local para receber tantos animais em número tão grande, como lares temporários, para que sejam cuidados ao mesmo tempo.
Por isso, até então, ele diz que está simplesmente tentando resolver o problema “momento a momento”, fazendo o que está ao seu alcance e reconciliando-se com a realidade de que muitos mais irão morrer.
O que ele precisa, realmente, conforme ele diz, é “um milagre”.
Para saber como ajudar a Houston Humane Society a lidar com esse caso epidêmico de negligência e abuso a cavalos, visite o site.
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