23 de setembro de 2015
(da Redação da ANDA)
Em um novo livro. o cineasta e professor da Escola de Comunicação da American University, Chris Palmer, acusa as redes de televisão por não colocarem temas como preservação, educação e bem-estar animal na frente de seus interesses em lucros e audiência.
Segundo a reportagem, o livro intitulado “Confessions of a Wildlife Filmmaker: The Challenges of Staying Honest in an Industry Where Ratings Are King” (que pode ser traduzido como “Confissões de um cinegrafista de vida selvagem: os desafios de permanecer honesto em uma indústria guiada pelos níveis de audiência”) é altamente recomendado. “Por muito tempo temos visto repetidos exemplos de programas de TV terrivelmente ruins, que apresentam horríveis abusos contra animais não humanos, e isso tem que parar. Esse livro irá ajudar o público, nesse sentido, e também chocá-lo”, diz o repórter Marc Bekoff. As informações são do The Dodo.
Na sua obra, Palmer diz que o estado da indústria de filmagens da vida selvagem piora a cada ano, e argumenta que é tempo da mesma mover-se em uma direção mais ética. Canais como Animal Planet, Discovery, National Geographic e History Channel devem fazer melhor o seu trabalho. “É a hora dos espectadores e cineastas fazerem esse trabalho juntos”, diz ele.
Ele explica que o cinema e a televisão são importantes ferramentas que a sociedade tem para proteger os animais e encorajar a preservação. O seu primeiro livro, “Shooting in the Wild”, publicado em 2010, mostrou o que há por trás das cenas dos filmes de vida selvagem, expondo uma indústria prejudicada pelo sensacionalismo, pela falsidade e, não raramente, abuso aos animais. Assim, emissoras e cineastas estariam fazendo mais o mal do que o bem ao trabalhar com o objetivo de capturar imagens dramáticas e alcançar níveis mais altos de audiência em detrimento dos animais e de seus comportamentos verdadeiramente naturais.
“Confessions of a Wildlife Filmmaker” conta a história da vida do Dr. Palmer e também mostra o mundo superficial da televisão, as fraquezas dos grupos ambientalistas, a crueldade do SeaWorld, os erros que ele cometeu em sua carreira, e o quanto todas essas experiências moldaram a sua visão sobre o trabalho de cineasta especializado em vida selvagem.
O filme fala também sobre como redes como Discovery, Animal Planet e National Geographic estão falhando em sua responsabilidade de produzir programas que não sejam apenas entretenimento, mas também compatíveis com as visões de seus fundadores. Palmer afirma que as redes estão cheias depessoas honradas e éticas, que realmente se preocupam com o meio ambiente e com os animais selvagens, mas o lado comercial da televisão parece coagi-los a um comportamento que, por vezes,prejudica os animais selvagens, espalha desinformação e vulgariza o apreço da sociedade pela natureza.
De todas as questões éticas envolvidas no trabalho de elaboração dos filmes de vida selvagem, o assédio aos animais é um dos mais preocupantes, bem como um dos mais difíceis de combater. Palmer relata que a maior parte da crueldade acontece em campo, sem testemunhas para pará-la ou indicá-la para as audiências televisivas. O assédio aos animais e a crueldade tornaram-se generalizados no cinema de vida selvagem cinema há décadas. Isso varia desde os profissionais chegarem demasiadamente perto dos animais e perturbá-los até deliberadamente prejudicá-los ou mesmo matá-los. O uso de iscas vivas foi uma prática de longa data e comum quando se fazia filmagens de predadores. O autor diz conhecer um cineasta que, sob a pressão dos radiodifusores para capturar “rios de dinheiro”, usa a tecnologia GPS para rastrear e filmar seus temas mais facilmente. Ele atordoa animais como hienas com uma arma tranquilizante e, em seguida, corta as suas peles com uma faca afiada para implantar um transmissor GPS, deixando assim os animais lesionados, mas facilmente rastreáveis.
Desde que Steve Irwin, Steve-O, Dave Salmoni, e Bear Grylls fizeram sucesso nas tela de televisão,uma infinidade de apresentadores tem inundado o mercado. Mais e mais redes estão transmitindoprogramas que mostram pessoas subjugando, maltratando e matando animais inocentes, como jacarés,porcos selvagens e cobras. Exemplos incluem “Swamp People“, “Call of the Wildman“, “Rattlesnake Republic“, “Wild West Alaska“, “Duck Dynasty“, “Animal Fight Night”, “Shark Wranglers” e “Shark Hunters“.
“Swamp People” (History Channel, 2010), por exemplo, exibe caçadores de jacaré na Louisiana que saem diariamente durante a temporada de caça. Os caçadores montam armadilhas e fazem iscas emganchos maciços com pedaços de frangos ou peixes. Os jacarés engolem a isca, e os ganchos muitas vezes se alojam em seus estômagos. Frequentemente, os caçadores não voltam para verificar as linhasaté o dia seguinte, e obviamente o jacaré sofre terrivelmente durante este período de espera. Quandoos caçadores finalmente voltam à linha, um deles puxa o animal condenado para o barco. Uma vez queo animal capturado está à vista, um outro caçador mata o jacaré a tiros.
Essa seria uma atitude inaceitável por parte de um canal de TV. Que mensagem ela estaria enviando a crianças que estão assistindo? Eles retratam os animais no meio ambiente como recursos a serem colhidos e caçados, e tal crueldade parece contradizer os valores professados pelas redes que levam esses shows ao ar.
Então, como os cinegrafistas poderiam alcançar os seus objetivos sem estressar e assediar os animais ou invadir os seus habitats? Palmer diz que a solução inclui o uso de câmeras melhores e como lentes mais potentes; a contratação de cientistas locais; ter mais paciência e reduzir as expectativas por sangue e “close-ups” extremos; e incorporar a fotografia em histórias mais biologicamente precisas. Os cineastas também devem usar mensagens no início dos programas para dizer às audiências que certos padrões foram atendidos durante as filmagens, por exemplo, “nenhum animal foi ferido durante a produção”. Novas tecnologias como câmeras escondidas, veículos remotos e drones podem muitas vezes permitir a captura de imagens incríveis, ao mesmo tempo em que respeitam o espaço dos animais.
Palmer escreve que, quanto mais nós humanos aprendermos sobre consciência animal e senciência,mais devemos reavaliar a nossa relação com esses seres magníficos e fascinantes. Além disso,devemos compreender que promover a brutalidade como entretenimento é reforçar um lado ruim danatureza humana, que por sua vez as pessoas estão tentando ultrapassar. Se as emissoras estão fazendo esses programas para apelar à audiência, então cabe a nós, o público, nos manifestarmos contra o assédio malicioso e a matança de animais inocentes.
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