25 de setembro de 2015
Por Bruce Friedrich (Tradução Neuza Vollet – da Redação da ANDA)
No final do ano passado, um fiscal do governo americano visitou o matadouro Clougherty Packing, em Vernon, nos Estados Unidos, responsável pela morte dos animais que são consumidos com as marcas de carnes Dodger Dogs e Farmer John. Na frente do inspetor, um empregado tentava deixar inconsciente um porco manco, procedimento feito por um tiro na cabeça com uma arma paralisante. Entretanto, como o porco estava mal apoiado, o empregado disparou inúmeras vezes.
Mais tarde o inspetor testemunhou outra morte cruel: o operário “arrancou a haste entalada no crânio do porco para recarregar o êmbolo retrátil perfurante”, antes de obter resultado. Em ambos os casos, não havia nenhum dispositivo de reserva disponível.
“Dezenas de matadouros não seguem a lei. E mesmo assim o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) permite que esses estabelecimentos sigam funcionando.”
Esse tipo de trabalhos negligentes e desleixados representam atividade ilegal, já que, sob a Lei de Morte Humanitária (Humane Slaughter Act), os animais somente podem ser mortos “mediante métodos humanitários.” Espera-se que o Departamento de Agricultura dos EUA, em conformidade com suas próprias diretrizes políticas, suspenda as operações do estabelecimento em resposta a tais infrações. O USDA também pode informar as violações para fins de ação penal ou, nos casos extremos, realmente fechar um estabelecimento mal administrado retirando sua concessão da inspeção federal.
Entretanto, registros oficiais revelam que, mesmo depois do escândalo do Clougherty Packing e de incidentes semelhantes em todo o país ao longo dos últimos dois anos, o USDA recusou-se a punir os culpados, preferindo imputar-lhes advertências administrativas.
Os registros de inspeção do USDA mostram operários passando por cima de animais aleijados com equipamentos de construção, animais recuperando a consciência depois de terem sido baleados na cabeça com uma arma paralisante e operários intencionalmente maltratando animais feridos.
Em um matadouro de Minnesota, o gerente do lugar eletrocutou repetidamente uma vaca presa no compartimento de atordoamento com um buraco na cabeça. Durante mais de 15 minutos, o operário torturou esse animal com aguilhão elétrico, tentando forçá-la a sair da cela, “apesar de ser fisicamente impossível”. Quando finalmente foi morta e extraída do compartimento, esse pobre animal tinha quatro costelas recentemente quebradas e inúmeros ferimentos profundos onde o “couro tinha sido arrancado à força, variando em profundidade, mas em algumas regiões até o músculo”.
Em menos de 8 meses, esse local foi intimado 14 vezes por violações e suas operações foram suspensas em inúmeras ocasiões, mas ainda não foi fechado e ninguém foi processado criminalmente.
Num matadouro próximo de Fresno, um operário que descarregava o gado de um caminhão deixou um bezerro aleijado cair de uma altura de cerca de um metro no chão de concreto do curral. “O bezerro desabou sobre o próprio corpo e permaneceu deitado no concreto”. O operário continuou, empurrando para fora do trailer mais 4 bezerros “que caíram de queixo no concreto”. Embora as operações do estabelecimento tenham sido suspensas por algum tempo, o trabalhador não foi incriminado por sua crueldade intencional e criminosa”.
Como se uma brutalidade dessa não fosse terrível o bastante, as investigações feitas por agentes infiltrados revelam de maneira consistente que os maus-tratos aos animais são ainda piores do que os registros oficiais do USDA sugerem.
Num matadouro em Chino, que processa grandes quantidades de vacas leiteiras aleijadas, a Sociedade Humana dos Estados Unidos documentou secretamente os operários espancando animais, dando eletrochoques, empurrando-os com empilhadeiras, usando mangueiras de alta pressão para injetar água em suas narinas, tudo para que ficassem em pé. Em cada um desses casos havia fiscais da USDA no local, mas o estabelecimento nunca foi incriminado por maus-tratos aos animais.
O próprio inspetor geral do USDA advertiu, em 2013, que a execução da Lei da Morte Humanitária era tanto “incompatível” como “indulgente”. Numa amostragem aleatória dos registros de inspeções, o inspetor geral encontrou 10 violações ultrajantes da lei que não resultaram na suspensão do matadouro, incluindo uma arma paralisante alojada no crânio de um porco consciente por pelo menos 4 minutos antes da morte do animal, um porco sendo fervido vivo e um operador de empilhadeira investindo repetidamente contra um porco aleijado.
Se o USDA vai seguir suas próprias diretrizes políticas e cumprir a Lei da Morte Humanitária deveria considerar 2 reformas críticas e decisivas.
Em primeiro lugar, todas as violações ultrajantes da lei deveriam resultar automaticamente, pelo menos, na suspensão do estabelecimento. Ao longo de 2013 e 2014, documentei dezenas de exemplos dessas violações que resultaram em meras advertências. Não há sentido nisso. Uma infração ultrajante merece uma punição rigorosa.
Em segundo lugar, o USDA deveria relatar maus-tratos intencionais para fins de ação penal. A Lei da Morte Humanitária é um estatuto criminal e as violações podem – em tese – resultar em multas e prisão. Além de ser uma punição adequada para os maus-tratos contra os animais, a ação penal consistiria numa ameaça previsível com função dissuasiva, desencorajando a prática dos maus-tratos.
Pessoalmente, não vejo diferença ética entre comer uma galinha ou um gato, um porco ou um cachorrinho. Não acho que a morte de um animal para alimentação possa em qualquer hipótese ser considerado humano. Mas, por enquanto, a Lei da Morte Humanitária é tudo que temos. O mínimo que o USDA deveria fazer é cumprir a lei.
Bruce Friedrich é diretor de política do Farm Sanctuary, uma organização nacional para a proteção de animais de granja.
Nota da Redação: A posição da ANDA é completamente contrária a qualquer tipo de exploração, crueldade e matança de animais. Não existe uma morte “humanitária”, isso continua sendo assassinato de animais devido ao egoísmo humano.
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