Nagapatnam, Índia, 12/1/2015 – De pé entre seus exuberantes arrozais verdes em Nagapatnam, um distrito costeiro no Estado indiano de Tamil Nadu, o produtor Ramajayam recorda como uma onda mudou toda sua vida. O tsunami asiático de 2004 arrasou seus cultivos e os de milhares de outros agricultores, na medida em que os enormes volumes de água salgada inundavam as terras férteis da região.
O desastre matou 6.065 pessoas em Nagapatnam, mais de 85% do total de mortos no Estado. Os agricultores que sobreviveram tiveram que recuperar seus campos, que em alguns lugares ficaram alagados mesmo estando a três quilômetros de distância do mar. As ondas arrasaram seus 24 mil hectares de cultivos.
A água salgada não retrocedeu e arruinou a colheita de arroz que estaria pronta para ser colhida 15 dias depois da catástrofe. Pequenos reservatórios que os camponeses cavaram com ajuda do governo se tornaram salinos, e a evaporação da água teve um “efeito corrosivo”, segundo os agricultores, que matou a matéria orgânica fundamental para futuras colheitas.
As terras de pequenos produtores como Ramajayam, não maiores do que cinco hectares, se tornaram salinas. Nem mesmo as árvores que resistiram ao embate do tsunami sobrevieram à inundação de sal, recordou Kumar, outro agricultor. “Estávamos acostumados aos desastres naturais, mas a nada como o tsunami”, afirmou Ramajayam.
O Estado e as organizações de assistência ofereceram meios de vida alternativos aos que foram prejudicados, mas os cerca de dez mil pequenos produtores afetados, que trabalham essas terras há gerações, não estavam dispostos a mudar de ocupação. Muitos ignoraram os informes técnicos alertando que a recuperação do solo poderia demorar dez anos, e plantaram sementes apenas um ano depois do tsunami. Mas nenhuma brotou.
Foi então que entraram em ação várias organizações não governamentais (ongs) e começou um período de renovação e regeneração de solos orgânicos que se converteu em um modelo para diversos lugares afetados pela mudança climática. Uma das primeiras dessas organizações a intervir foi o Movimento de Produtores Orgânicos de Tamil Nadu (TOFarM), que adotou o povoado de South Poigainallur como local para seu trabalho-piloto.
O primeiro passo foi medir a magnitude do dano. Quando foi confirmado que a terra era incultivável, a ong elaborou soluções adaptadas para cada propriedade que incluiu seleção de sementes e equipamentos baseados nas condições do solo e da topografia. Foram eliminados os depósitos de lama marinha, levantadas estruturas de contenção e os campos arados.
Foram abertas profundas faixas nas áreas, nas quais foram colocadas as árvores arrancadas pelo tsunami. Na medida em que estas se decompunham areavam o terreno. Também foram plantadas sementes de dhaincha, uma leguminosa conhecida pelo nome científico Sesbania bispinosa.
A dhaincha “é conhecida como doutora da terra, porque é um cultivo de adubo verde que cresce bem em solos salinos”, explicou M Revathi, o fundador da TOfarM. Quando as plantas dhaincha, ricas em nutrientes, floresceram após 45 dias, a terra foi novamente arada para soltá-la e abrir seus poros. A compostagem e o adubo agrícola foram acrescentados em etapas antes de semeadora. Hoje em dia, o processo é uma mostra da capacidade que têm as soluções orgânicas.
Os agricultores pobres de Tamil Nadu dependem da ajuda pública para subsistirem. Todo mês o Sistema de Distribuição Pública do Estado entrega três toneladas de arroz a mais de 20 milhões de pessoas. Por sua vez, o Estado compra as colheitas por um preço fixo que é muito inferior ao do mercado, embora garanta aos produtores uma renda estável.
Desta forma, os aproximadamente 13 mil pequenos agricultores do Estado ganham apenas o suficiente para cobrir suas necessidades mensais. E em lugares como Nagapatnam, onde as fontes de água doce ficam 25 metros abaixo do nível do solo, os que dependem da agricultura de seca têm uma grande desvantagem.
Quando o tsunami se apoderou da terra, muitos temiam que nunca se recuperariam. “A quantidade de micróbios na cabeça de um alfinete, que deveria ser quatro mil em terra boa, caiu para menos de 500 nesta região”, disse Dhanapal, um agricultor de Kilvelur, em Nagapatnam e diretor da Associação de Agricultores do Delta Cauvery. Mas a ajuda não estava longe.
O produtor S. Mahalingam tem uma plantação de arroz de pouco mais de três hectares perto de um canal em North Poigainallur, cujos cultivos foram arrasados pelo tsunami. Várias ongs, com apoio privado e de organismos humanitários, bombearam a água marinha dos campos de Mahalingam e distribuíram sementes gratuitamente enquanto o governo estatal perdoou sua dívida pendente por um empréstimo agrícola.
Além do esterco produzido pela granja, Mahalingam utiliza as folhas de diversas árvores autóctones com adubo verde. As chuvas posteriores também ajudaram a eliminar parte da salinidade. O produtor semeou variedades tradicionais de arroz resistentes ao sal, chamadas kuruvikar e kattukothalai. Em dois anos sua propriedade se recuperou, o que lhe permitiu continuar com o cultivo de arroz e verduras.
A ong Kudumbam, com sede em Trichy, inovou com outros métodos, como o gesso, para reabilitar as terras inundadas. O agricultor P. I. Manikkavasagam, por exemplo, recebeu ajuda da organização para recuperar seus dois hectares de terras. Recorrendo a uma prática milenar, cavou trincheiras e as encheu de folhas de palmeiras que crescem em abundância ao longo da costa. A Kudumbam fornece biofertilizantes, como fosfobactéria, azospirilum e acetobacter, cruciais para dar vida à terra alagada.
“A percepção geral é que a agricultura orgânica necessita anos para gerar bons resultados e renda. Mas, durante os trabalhos de reabilitação após o tsunami, demonstramos que em menos de um ano os métodos orgânicos podem dar melhores resultados do que os químicos”, ressaltou Revathi, da TOFarM. Envolverde/IPS
(IPS)
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