
“Na verdade esses assuntos são de intenso debate da parte dos ambientalistas, mas pouco debatido junto aos demais parlamentares exceto os ligados aos ruralistas que tendem a se posicionar contra. Vez por outra, quando algum assunto ligado ao tema vem para plenário, há debates sérios”, revelou o deputado.
A qualificação de Fernandes está em sua própria formação. Ele é o primeiro funcionário de carreira do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e engenheiro formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), ambos de São José dos Campos, a ocupar um cargo no legislativo federal, o ex-prefeito do município faz uma avaliação crítica dos parlamentares quanto aos assuntos ambientais.
A temática ambiental vem sem força, porém não é por falta de conhecimento. Segundo Fernandes, a câmara possui um corpo técnico muito capacitado na área de consultoria legislativa, formada por servidores de carreira, inclusive no segmento do meio ambiente. Eles estão plenamente aptos a dar panoramas completos aos deputados para uma melhor compreensão do que está ocorrendo no Brasil e no Planeta em termos de mudanças.
Um dos grandes temores do meio científico, principalmente dos pesquisadores que tratam de temas que impactam diretamente a vida das pessoas, é o ‘analfabetismo científico’. Isso se traduz na grande dificuldade para compreender questões de cunho científico. Ao longo dos tempos essa foi uma das principais causas dos baixos orçamentos do próprio Inpe e de outras instituições cientificas do país.
“Nas Comissões de Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente e de Relações Exteriores e Defesa Nacional há uma boa compreensão da importância da ciência e de investimentos no setor, inclusive para analisar e mitigar os efeitos climáticos. Muitos parlamentares dessas comissões estão bem informados sobre o caráter sistêmico das mudanças climáticas. Eles orientam os outros quando há embates”, comentou Fernandes.
Um dos exemplos apontados pelos próprios pesquisadores e entidades de defesa ambiental como existe o uso político-econômico para favorecimento de um segmento foi o novo Código Florestal. A nova lei é considerada um retrocesso mesmo diante do código anterior, já considerado ultrapassado.
Entre as amostras apresentadas pelos críticos está a própria constituição da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, pois é formada por profissionais diversas, como advogado, dentista, dois produtores rurais, um ator, um comerciante e apenas um biólogo. Além de ter na suplência três agropecuarista, economista, empresários, médico, engenheiro agrônomo e professor.
“Não há dúvida que existe um debate forte e perene entre ambientalistas e ruralistas. Vários parlamentares têm um bom conhecimento sobre o assunto, embora não sejam de áreas ligadas à ciência. Mas, no geral, há radicalismos de ambas as partes baseado mais na percepção do que na lógica científica. Em função disso, do embate, os ambientalistas e os ruralistas procuram ocupar posições nas comissões” observa o deputado.
Fernandes conta que os ruralistas ocupam os espaços que podem na Comissão de Agricultura e Desenvolvimento Rural. Numa rápida avaliação dos currículo dos parlamentares do partido do governo, os sete integrantes apenas do PT, seis deles são agricultores. E os ambientalistas, em bem menor número, buscam pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. “Veja que até os nomes das comissões se opõem”, complementa.
* Júlio Ottoboni é jornalista e pós-graduado em Jornalismo Científico.
(O Autor)
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