Os países em desenvolvimento podem manter sua versão de que as nações desenvolvidas não querem colocar dinheiro na mesa. Pura verdade: o que a CoP19 entregou foram apenas US$ 100 milhões para adaptação e as regras para REDD – que, junto com a aprovação do mecanismo de Perdas e Danos, são as únicas boas notícias da conferência. Sobre os US$ 100 bilhões ao ano até 2020, prometidos em Copenhague, nada se avançou.
Os países desenvolvidos, por sua vez, poderão justificar a seus cidadãos que a conferência não avançou por causa das nações em desenvolvimento, que hesitam diante da perspectiva de assumir compromissos e metas obrigatórias de redução nas emissões.
E todos, desenvolvidos e em desenvolvimento, ocidentais e orientais, norte e sul, poderão apontar o dedo para a Polônia, que vexatoriamente conduziu a CoP19 para o fracasso. Do ostensivo lobby de grandes poluidores à tentativa de aproximação com a indústria do carvão, passando pela constrangedora demissão do presidente da conferência de seu cargo no ministério de meio ambiente, a Polônia fez de tudo para que estas duas semanas de negociação resultassem em pouco, muito pouco.
Considerando-se que a CoP19 falhou também na missão de entregar um plano claro de trabalho para os próximos anos e que os documentos que embasarão as futuras negociações estão recheados de termos vagos, será preciso um esforço enorme das próximas presidências – Peru, em 2014, e França, em 2015. Talvez então a Polônia possa servir de exemplo e inspiração. Exemplo do que evitar na organização e condução das negociações. Mas inspiração na capacidade de resistência e de superação deste povo. Reerguida das cinzas a partir de seus escombros, Varsóvia hoje integra a lista da UNESCO de Patrimônios da Humanidade. É a esse esforço e senso de urgência que precisaremos recorrer para reconstruir das cinzas e da fuligem do carvão um processo multilateral que efetivamente atenda às necessidades dos cidadãos deste planeta.
* Publicado originalmente no site Vitae Civilis.
(Vitae Civilis)
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