As rodovias gaúchas estão entre as rotas mais utilizadas do
país por traficantes de animais silvestres. A informação é do Conselho Regional
de Medicina Veterinária (CRMV), que desde setembro realiza uma campanha para
combater essa prática. Segundo o presidente da autarquia, Rodrigo Lorenzoni,
cerca de 80% dos animais traficados são aves.
“As regiões Norte e Nordeste
têm a maior incidência de retirada de animais, mas os estados com o maior
mercado consumidor estão nas regiões Sul e Sudeste”, afirma Lorenzoni. De acordo
com ele, animais oriundos de outros estados – e também de reservas naturais do
Rio Grande do Sul – são transportados pelas rodovias gaúchas em direção ao
Uruguai. De lá, seguem para Europa e Ásia.
Um relatório produzido pela
Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Selvagens apontou que entre as
estradas mais utilizadas estão a BR 290, na região de Cachoeira do Sul, a BR
158, em direção a Santana do Livramento, a BR 287, na Fronteira-Oeste, e BR 116,
devido à ligação com o estado de Santa Catarina. Uma parcela menor dos animais é
vendida em beiras de estradas por pequenos traficantes, enquanto que a maior
parte tem como destino o exterior.
“Eles têm técnicas para esconder
esses animais, o que muitas vezes dificulta ainda mais a fiscalização em regiões
como a nossa, em que há muita fronteira seca”, avalia Lorenzoni. Ele ressalta
que o Comando Ambiental da Brigada Militar e o Ibama dispõem de um efetivo
reduzido para combater o crime. Entre as espécies mais visadas, no Rio Grande do
Sul, o presidente do CRMV no Estado cita o tucano-de-bico-verde, o
papagaio-charão e o canário-da-terra.
As consequências do tráfico de
animais vão muito além da prática criminosa. “Causa um desequilíbrio no
ecossistema, porque podemos estar tirando o alimento de um predador ou
eliminando um predador que teria uma função”, observa Lorenzoni. Além disso,
segundo ele, há o problema relacionado às zoonoses, já que muitas doenças podem
ser transmitidas de animais para seres humanos.
Para o presidente do
CRMV, a recente resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) sobre a
guarda provisória de espécies da fauna silvestre é um retrocesso no combate ao
tráfico. A medida regulamenta uma lei de 1998, que prevê que os órgãos
ambientais podem encaminhar animais apreendidos, resgatados ou recebidos
espontaneamente para serem cuidados por pessoas cadastradas. Em último caso,
quando não houver condições de transporte ou abrigo em instalações adequadas ou
mesmo guardador cadastrado, a guarda pode ser dada provisoriamente à pessoa
encontrada em posse do animal. “É quase um atestado de incompetência, um
problema não justifica o outro.”
Pássaros somam mais de
60%Além dos animais vindos de outros estados, espécies encontradas
no Rio Grande do Sul abastecem o tráfico, em especial o mercado interno. Segundo
o major Rodrigo Gonçalves Santos, do Comando Ambiental da Brigada Militar
(CABM), as três principais regiões fornecedoras são o Vale do Taquari, a
Fronteira-Oeste e o Noroeste. Mais de 60% dos animais traficados são pássaros.
Em seguida, aparecem répteis, anfíbios e primatas.
“O Rio Grande do Sul
tem um mercado interno muito forte. Os animais daqui, notadamente os pássaros,
ficam dentro do Estado”, observa. De acordo com ele, a região Metropolitana é o
principal destino das aves traficadas dentro do território gaúcho. Entre os
répteis e anfíbios, segundo o major Rodrigo, muitos são utilizados para fins de
pesquisa.
A pena prevista para quem comete a prática é de seis meses a
um ano de prisão, além de uma multa administrativa de até R$ 500. Apesar dessa
realidade, a aplicação das penas é rara.
O major Rodrigo afirma que o
máximo de tempo que viu um acusado permanecer preso foi 30 dias. “O ato
criminalizado é a captura do animal e a sua manutenção em cativeiro. Não tem
agravante pelo fato de conseguir comprovar o tráfico, como ocorre no caso das
drogas, por exemplo.” No entanto, ele não considera que a lei seja
branda.
Apreensões já superam 2012Desde o início deste
ano, o Comando Ambiental da Brigada Militar (CABM) apreendeu 934 aves
provenientes do tráfico – a maioria da ordem passeriformes, que inclui diversas
espécies de pequenas dimensões. “A maioria desses animais é capturada na
natureza e forçada a se domesticar”, afirma o major Rodrigo Gonçalves Santos.
Dessas, 51 aves foram encontradas mortas, possivelmente devido aos maus-tratos
sofridos após a captura. O número já é maior do que o total registrado durante
todo o ano de 2012, que foi de 821 aves.
Entre mamíferos, répteis e
anfíbios, o número de apreensões chegou a 134 nos últimos 11 meses. De acordo
com o major Rodrigo, há uma grande dificuldade em se combater esse tipo de
crime. “Não tem como coibir essa prática apenas com patrulhamento. É necessário
um grande trabalho de inteligência”, observa.
Fonte: Danton Júnior /
Correio do Povo
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