Porto Espanha, Trinidad e Tobago, 28/11/2013 – A meteorologia extrema é uma constante para os agricultores do Caribe, mas a horta de limas de 1,2 hectare de Ramgopaul Roop é todo um exemplo do que se deve fazer para vencer ciclones e a mudança climática. Aqui se emprega a agricultura de conservação: coleta de água e cultivo de capim-limão como cobertura do solo. Por ser também uma erva, o capim-limão (Cymbopogon citratus), desestimula o crescimento de mato, evitando o uso de herbicidas químicos.
“Com esse sistema de capim-limão e árvores de cajá-manga (Spondias dulcis), que crescem uma altura menor do que as limeiras, meu terreno está coberto por vegetação e por isso podemos nos adaptar à mudança climática”, explicou Roop à IPS. “Se faz calor, essa manta vegetal protege o solo e conserva a umidade. Se chove, ajuda a reduzir a erosão”, detalhou. Roop é o administrador regional da Associação Caribenha de Agronegócios (Caba), cujo mandato emana da Comunidade do Caribe (Caricom, de 15 Estados membros) para ajudar grupos de agricultores a desenvolverem suas empresas.
A Caba atua também mediante atividades de promoção e assistência nas negociações comerciais. Roop, que cultiva há 25 anos, acredita que o cumprimento da norma ambiental do país é crucial para o sucesso. Isto é um fato em sua propriedade, a Rocrops Agrotech, horta-modelo para a Autoridade de Gestão Ambiental de Trinidad e Tobago. As estratégias de Roop permitiram que sua horta atendesse o abastecimento semanal constante de dez mil a 12 mil limas para empresas agroindustriais durante os últimos cinco anos.
“Se os agricultores adotassem os métodos que já implantei, poderiam desenvolver pequenas explorações para produzir durante todo o ano e aumentar seu nível de produção, para cumprir os compromissos que mantêm com as processadoras. As pequenas propriedades podem se converter em unidades sustentáveis a serem herdadas pela geração seguinte”, opinou Roop.
Em todo o Caribe, os agricultores buscam dados climáticos confiáveis para tomar melhores decisões no planejamento de seus cultivos. Para atender essa demanda, a União Europeia (UE) e o grupo África, Caribe e Pacífico (ACP) estão capacitando meteorologistas para trabalhar com os agricultores e passar informação precisa e oportuna sobre os padrões climáticos. Também são divulgados boletins agrícolas mensais ou trimestrais que analisam os possíveis efeitos para a agricultura das condições previstas pelos agrometeorologistas.
A Jamaica tem uma página na internet que oferece dois prognósticos diários para os agricultores, que podem colocar o nome do lugar para obter informação detalhada sobre temperatura, umidade, velocidade do vento e outros dados relevantes. A formação de agrometeorologistas e a publicação dos boletins são parte da Iniciativa Agrometeorológica do Caribe (Cami), um projeto maior da UE e dos países ACP, que procura melhorar a produtividade da região por meio da “melhor difusão e aplicação de informação sobre o tempo e o clima, mediante um enfoque integrado e coordenado”.
Os sócios da Cami são o Instituto Caribenho de Meteorologia e Hidrologia e o Instituto Caribenho de Pesquisa Agrícola e Desenvolvimento (Cardi), entre outros. O setor agrícola tem uma necessidade urgente de “acesso à informação sobre o que está acontecendo, o que, se espera, ocorra em relação à mudança climática, e como enfrentá-la”, disse Leslie Simpson, especialista em manejo de recursos naturais e mudança climática do Cardi. Nos painéis promovidos pelo Cardi, os produtores rurais “sempre perguntam: quando plantamos? quando choverá?”, afirmou.
A crescente variabilidade do clima dificulta decidir qual é o melhor momento para plantar. O tipo de cultivo semeado em um dado momento do ano depende da quantidade de chuva esperada. Conversações no âmbito regional revelam que as necessidades mais urgentes são as previsões climáticas de estação e interanuais, a previsão de enfermidades e pragas, bem como informação meteorológica fácil de usar.
Para Simpson, “enfrentar a variabilidade atual é o primeiro passo para poder lidar com qualquer mudança climática futura”. A Cami afirma que “as previsões de curto alcance normalmente estão disponíveis com um dia de antecedência, mas as práticas agrícolas modernas (…) exigem prognósticos meteorológicos com maior antecipação, que permitam tomar medidas paliativas”. Por isso, “a previsão meteorológica para lugares específicos e de nível médio (antecipação de três a dez dias) é muito importante. Essas informações devem estar disponíveis em um idioma que os agricultores possam entender”, acrescenta a Cami.
Um segundo projeto do Cardi tem o objetivo de identificar variedades resistentes à variabilidade do clima. A iniciativa é patrocinada pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento e administrada pela ACP. Arlington Chesney, diretor executivo do Cardi, explicou à IPS que o projeto se centrará primeiro nos amidos e nas proteínas vegetais, já que são “componentes críticos da dieta da maioria das pessoas na região”. Entre os cultivos que serão pesquisados estão batata-doce, mandioca, milho, ervilha e feijão.
O projeto analisou os tipos de solo e as mudanças nas temperaturas e nos padrões de chuvas em várias ilhas durante os últimos 20 anos, a fim de selecionar as melhores variedades, pontuou Chesney. “Tentamos caracterizar essas variedades por sua morfologia e genoma. Estamos analisando seu DNA para determinar se há características inerentes que são mais resistentes à mudança climática para que possamos, com o tempo, ter um grupo dessas variedades com uma probabilidade melhor que a média de prosperar nessas novas condições”, acrescentou o diretor do Cardi.
Grande parte do trabalho genético será feito pela sócia europeia do Cardi, a Universidade de Wageningen, considerada um dos centros acadêmicos agrícolas mais importantes da Holanda. A universidade “também buscará vínculos entre o rendimento dos cultivos por seu DNA e as medições ecológicas, as temperaturas e as precipitações”, detalhou Chesney. O Cardi prestará principalmente apoio logístico e técnico. Envolverde/IPS
(IPS)
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