por Neuza Árbocz*
A afirmação foco do encontro gerou acalorados debates. Gary Gardner do Worldwatch Institute mostrou como muitos recursos naturais estão se tornando escassos e, portanto, mais caros. “Não há mais tempo para desperdícios. Precisamos de cadeias econômicas circulares”, disse referindo-se a ciclos onde nada se perde e os resíduos de uma atividade são reabsorvidos em sua própria produção ou na de outros artigos.
Foi lembrado que a natureza não produz lixo. Tudo que é criado sem a intervenção humana pode ser reabsorvido nos ciclos naturais. “Esqueçam o crescimento. Não podemos transformar o mundo em um grande aterro”, salientou Sergio Ulgiati, da Universidade de Nápoles.
Robert U. Ayres, do Instituto para Sistemas Aplicados de Análises (IIASA), demonstrou contudo como um fluxo de substâncias químicas é necessário na fabricação de diversos produtos da atualidade. “Sempre haverá lixo, pois há processos dos quais resultam sobras impossíveis de reaproveitar ou reutilizar, seja no que for”, explicou.
Mesmo assim, há muito que se aprimorar nos modos de produção, tanto para economizar as substâncias de origem, como para gerar menos resíduos. Foi o que defenderam diversos palestrantes convidados. Como Tommaso Sodano, do departamento do meio ambiente de Nápoles, que demonstrou os esforços do município na implantação de centrais de triagem e de indústrias de reciclagem locais.
A cidade passou por recente escândalo com a descoberta de inúmeros aterros clandestinos e depósitos ilegais que incineravam lixo, sem cuidados ambientais, em um esquema apelidado de ‘ecomáfia’. O combate a estas práticas está levando à instalação de grandes centros mecanizados, que hoje, já processam 50% de todo o resíduo de plástico tipo PET, sacolinhas plásticas e de papéis e papelões da região, conforme dados da empresa responsável Erreplast.
Vittorio Sangiorgio, presidente do braço jovem do coletivo de produtores rurais Coldiretti, falou de como é possível alcançar lixo zero na agricultura. Exposição reforçada por Enzo Favorino, da escola agrícola de Monza, que defendeu a compostagem de todas as sobras orgânicas. Este processo controlado de decomposição dos restos de alimentos gera adubo e fertilizante e ainda alivia a pressão sobre os lixões.
Já o sociólogo e professor Héctor Castilho Berthier, da Universidade Nacional Autônoma do México, deu um tocante depoimento sobre como cadeias de poder dominam a coleta do lixo nas grandes cidades e exploram os catadores e os que vivem junto aos lixões.
Belthier realizou o primeiro estudo e coletou os primeiros dados sobre esta realidade, em todo o mundo. Para isto, trabalhou ele próprio como lixeiro e depois viveu junto do maior lixão da Cidade do México. Ali, viu de perto como atuam os ‘caciques do lixo’. Ao publicar seu estudo sobre as redes que sustentam a má gestão dos resíduos – e geram fortunas com isto – chegou a ser agredido fisicamente e ameaçado de morte.
Nos três dias de diálogos e troca de informações, ainda foram abordados a necessidade de maior eficiência no uso de energia, um planejamento integrado para lidar com resíduos das atividades humanas e o papel das autoridades em alavancar as mudanças necessárias, através de leis, incentivos e sanções.
Jon Dee, jornalista australiano responsável pelo portal “Do Something” (Faça Alguma Coisa), lembrou a necessidade das modificações acontecerem em todas as camadas. Desde a produção, até o consumo. Ele mostrou uma campanha de seu site que convida as pessoas a prestarem atenção ao que colocam no prato, na hora das refeições. Cada alimento consumido está ligado a uma longa cadeia de produção. Mesmo assim, ainda há muito desperdício e muita comida é jogada fora simplesmente porque as pessoas não comem tudo que pegam.
“Lixo zero é uma utopia necessária. Incinerar simplesmente é perder oportunidades de criar empregos e negócios, enquanto que a logística reversa, a compostagem e reciclagem estimulam a economia”, resumiu Paul Connett, cientista, criador da Zero Waste Strategy.
* Neuza Árbocz é jornalista e especialista em Desenvolvimento Sustentável.
(A Autora)
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