Conferência do Clima das Nações Unidas sendo realizada na Polônia se aproxima do fim e o que transparece é que vivemos em um mundo profundamente dividido.
Varsóvia viu nos últimos dias todo o tipo de protestos, alguns pedindo por ações urgentes para reduzir as emissões de gases do efeito estufa para evitar as piores consequências das mudanças climáticas, outros defendendo o uso do carvão, considerado por muitos poloneses como a maior riqueza de seu país.
Esse ambiente de divisão é provavelmente ainda mais acirrado dentro do plenário onde está sendo realizada a décima nona Conferência das Partes da Convenção-Quadro da Organização das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 19).
A menos que algo de muito extraordinário aconteça nas próximas horas, o evento, que termina nesta sexta-feira (22), terá deixado como grande lição apenas a lembrança de que o mundo é regido por muitos interesses diferentes, geralmente conflituosos entre si.
O mais recente exemplo dessa divisão foi o aparente colapso das negociações sobre “Perdas e Danos”, que chegaram a ser consideradas um dos pontos principais dos debates no começo da COP 19.
A ideia era criar um novo mecanismo de compensação para que nações mais vulneráveis pudessem ter acesso rápido a recursos para reconstrução. Um exemplo evidente de quem se beneficiaria dessa ferramenta é as Filipinas, que ainda está sofrendo com as consequências do super tufão Haiyan.
No entanto, diante da oposição dos Estados Unidos e de outros países desenvolvidos, nesta quarta-feira (20), as nações menos desenvolvidas (LDCs) e o G77 + China deixaram a mesa de negociação, alegando que estava impossível avançar.
“Esta é uma linha vermelha para nós. Estamos estudando como fortalecer nossa posição, ao ponto de abandonarmos as negociações”, afirmou Munjural Khan, porta-voz dos LDCs, ao jornal britânico The Guardian.
A divisão não é somente entre ricos e pobres, mas também entre países desenvolvidos e grandes nações emergentes. Trata-se de uma questão recorrente nas COPs: será que Brasil, China e Índia devem mesmo receber tratamento diferenciado?
Para os Estados Unidos a resposta é não, e o novo acordo climático global não pode ser como o Protocolo de Quioto, que não exige metas de redução de emissões dos emergentes.
“Existem muitos países se esforçando para um acordo à antiga, com uma divisão entre as nações. Assim, defendem que os em desenvolvimento estejam em uma parte do acordo e os desenvolvidos, em outra. Para nós, essa postura já significa que não começaremos a negociar”, explicou Todd Stern, chefe da delegação dos EUA.
Os norte-americanos não se cansam de citar que atualmente a China é a segunda maior economia do planeta e o maior emissor de gases do efeito estufa. Assim, é impossível querer classificá-la como uma nação que mereceria tratamento especial em um novo acordo climático.
A União Europeia é um pouco mais tolerante, ainda aceitando no novo acordo o conceito de “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”, que destaca caber às nações industrializadas há mais tempo arcar com os maiores compromissos. No entanto, o bloco também defende que os grandes emergentes não podem ficar sem metas de corte de emissões.
O Brasil chegou a propor uma possível alternativa para essa situação, apresentando a proposta de que o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) ficasse responsável por criar um cálculo da emissões históricas de cada país, e que esse dado fosse levado em conta no futuro acordo climático.
Porém, os representantes das nações desenvolvidas rejeitaram essa possibilidade, argumentando que a discussão ainda está no plano da política, e não no da ciência.
Por outro lado, para não se ter a ideia de que os emergentes são bonzinhos e os ricos os maus, outras linhas das negociações estão travadas por obstrução da China, Índia e Brasil.
As conversas sobre novos padrões para os mercados de carbono, uma medida que facilitaria a implementação desses esquemas e a ligação entre eles, pararam logo na primeira semana da COP 19, com os emergentes alegando que os países desenvolvidos buscam saídas “baratas” e “não tão confiáveis” para reduzir suas emissões.
Também por pressão dos grandes emergentes, estão fracassando as negociações com relação a estabelecer regras para as emissões da agricultura.
No último dia 13, a secretária executiva da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas, Christiana Figueres, disse que “o mundo está pronto” para um acordo climático. Infelizmente, parece não estar não.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)
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