Em ato simbólico inédito, representantes da sociedade civil deixaram em conjunto o centro de conferência, em Varsóvia.
Organizações da sociedade civil de várias partes do mundo, entre elas o Greenpeace, cansaram do esvaziamento da 19a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que acontece em Varsóvia, Polônia, e abandonaram as negociações na tarde de ontem (21). Em ato simbólico inédito, cerca de 800 pessoas vestiram camisetas brancas com as frases “Poluidores debatem, nós vamos embora” e “Nós voltaremos”, e deixaram em conjunto o Estádio Nacional, onde acontece o evento.
“O governo polonês fez o seu melhor para transformar essas conversas em uma vitrine para a indústria do carvão. Junto com o retrocesso adotado pelo Japão, Austrália e Canadá, e da falta de liderança significativa de outros países, os governos aqui deram um tapa na cara daqueles que sofrem com os perigosos impactos das mudanças climáticas. A União Europeia está sendo algemada pelo governo polonês e seus amigos da indústria fóssil. Mas se os países querem entregar um novo tratado com ações e metas verdadeiramente concretas, devem retomar já a liderança na agenda climática”, afirmou Kumi Naidoo, diretor-executivo do Greenpeace Internacional.
Veja abaixo o vídeo da saída das organizações da COP-19
O ato acontece no momento em que as negociações encontram-se em um impasse. Durante a semana que contempla as negociações de “alto nível”, ou seja, quando os chefes de Estado chegam à conferência, Japão e Austrália decidem voltar atrás em seus compromissos e se retirar da segunda fase do Protocolo de Kyoto. Além disso, na manhã de ontem, o primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, destituiu o ministro de Meio Ambiente, Marcin Korolec, em meio às negociações que ele próprio liderava, dando mais um indício de que nada sairá dessa conferência.
A crítica também se estende aos Estados Unidos, que se recusa a participar do processo multilateral da ONU, à falta de ambição por parte da União Europeia, à falta de vontade política em assumir mais responsabilidade por parte do grupo dos países em desenvolvimento, e também ao financiamento, que continua esvaziando o Fundo Verde para o Clima.
“Acreditamos neste processo. Nós nunca vamos desistir dele, porque as pessoas ao redor do mundo precisam desesperadamente de um tratado global que contenha o aumento da temperatura do planeta. Mas um novo tratado também deve ser significativo. As negociações em Varsóvia, apesar de ainda não terem finalizado, simplesmente não foram boas o suficiente. Mas a sociedade civil estará de volta no próximo ano com ainda mais vozes, mais determinação e mais ambição. Esperamos que os governos façam o mesmo”, defendeu Naidoo.
Do lado de fora, protesto lembra ativistas do Ártico
Enquanto as pessoas se retiravam do centro de conferências, cerca de 20 ativistas protestavam em frente ao Palácio da Ciência e Cultura, no centro de Varsóvia, para exigir ações urgentes para libertar aqueles que nada mais fizeram do que defender o clima, conhecidos como os 30 ativistas do Ártico.
Uma grande faixa foi pendurada na lateral do Palácio, de frente para o Estádio Nacional, onde acontece a COP-19, que dizia: “Salve o Ártico – Libertem nossos ativistas”. “O tufão Haiyan, que assolou as Filipinas, lembrou ao mundo que devemos agir sem demora, mas os governos de países como Austrália, Japão, Polônia e Canadá estão servindo à indústria do petróleo e do carvão, condenando muitos mais em todo o mundo ao sofrimento. As negociações sobre o clima são mantidos reféns por esses lobbies, igualmente aos nossos bravos e verdadeiros defensores do clima”, lembrou Kumi Naidoo.
* Publicado originalmente no site Greenpeace.
(Greenpeace)
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