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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

RIO GRANDE DO SUL : Fósseis são encontrados na Região Central do Estado

Tecodonte e dicinodonte estavam a seis metros de distância um do outro.

Paleontólogos encontraram fósseis de um tecodonte e de um dicinodonte na ERS-287, em Paraíso do Sul, na Região Central.

Conforme a assessoria de imprensa da Ulbra, universidade que está por trás da descoberta, o fóssil do tecodonte tem cerca de três metros de comprimento, com o esqueleto quase completo, faltando apenas o crânio.

O esqueleto do dicinodonte foi encontrado a seis metros de distância do tecodonte. Ele era uma das presas favoritas do tecodonte, o que sugere que os dois animais morreram no mesmo evento climático, informa a assessoria da Ulbra.

A descoberta foi feita pelos pesquisadores da universidade Sérgio Furtado Cabreira e Lucio Ribeiro da Silva. No final da manhã desta terça-feira, eles apresentarão os fósseis no local da descoberta darão mais detalhes sobre a importância do achado.

Fósseis de tecodonte e de dicinodonte, de 238 milhões de anos, ajudam no estudo da evolução dos répteis. Foi preciso passar várias vezes pelo mesmo local – a BR-287, em Paraíso do Sul – para que a equipe do paleontólogo Sérgio Furtado Cabreira encontrasse mais um sítio fossilífero (local onde podem ser encontrados fósseis) na Região Central. Muitas dessas tentativas não dão em nada, mas desta vez, duas ossadas foram encontradas. A primeira era de um tecodonte, e a segunda, de um dicinodonte. Os animais, que viveram no Período Triássico, há 238 milhões de anos, vão ajudar a elucidar a evolução dos répteis. Os tecodontes são ancestrais dos dinossauros e dos crocodilos, e os dicinodontes, dos mamíferos.

Os fragmentos de fósseis foram encontrados há aproximadamente um ano. Da estrada, os integrantes da equipe, que são da Ulbra de Cachoeira do Sul e da Ulbra de Canoas, avistaram a rocha, característica do Período Triássico. A chuva se encarregou de revelar o que eles tanto buscavam. Por causa de outros trabalhos, o grupo só conseguiu iniciar a escavação no último sábado. O tecodonte, considerado o mais raro e mais completo, foi o primeiro a ser desenterrado.

– Comparando com o outro tecodonte encontrado em 2010, esse é de tamanho menor, mais leve, com mais mobilidade. Podemos ter uma ideia da diferença se pensarmos no que vemos na África hoje. Lá, temos leões, guepardos, leopardos, e todos são felinos, mas de tamanhos e comportamentos diferentes – explica.

Boa parte da ossada do tecodonte já foi desenterrada, mas a previsão é que seja preciso escavar ainda mais um metro para que o bloco seja removido da terra. O material deve ser retirado em uma semana. O dicinodonte foi achado em seguida. Apenas parte de sua ossada está exposta. O restante do fóssil só poderá ser retirado quando o terreno estiver mais seco.

– Provavelmente, os animais morreram por causa de uma grande seca ou por uma enchente. O tecodonte deve ter sido soterrado logo depois de morrer, por isso sua ossada está bem completa. O dicinodonte deve ter sido soterrado bem depois de morrer, por isso, seus ossos estão espalhados – diz o biólogo Lúcio Roberto da Silva.

A hipótese mais provável é que os dois dinossauros estivessem ali atraídos por um rio que existia no local. O curioso é que o tecodonte, carnívoro, é um predador em potencial do dicinodonte, herbívoro. Mas, apesar da proximidade (eles estavam a cerca de seis metros um do outro), não é possível afirmar que exista relação entre eles.

– Potencialmente, o tecodonte teria como presa um dicinodonte menor, filhote ou mais velho, mas não podemos dizer que esses dois tiveram contato. Viveram no mesmo período, mas pode haver uma diferença de 500 anos ou menos entre eles – conta Cabreira.

Segundo os pesquisadores, as descobertas são importantes para a paleontologia brasileira e mundial.

– É muito importante a descoberta desse novo afloramento fossilífero. Outros pesquisadores, de outras universidades, vão poder realizar mais estudos aqui e, com certeza, outros fósseis poderão ser encontrados – avalia o professor.

Depois que o material for retirado da terra, vai ser enviado para um centro de estudo na Ulbra de Cachoeira do Sul. Os pesquisadores garantem que, com os fósseis, vai ser possível produzir réplicas dos esqueletos.

Região – O professor do Departamento de Geociências da UFSM Átila Augusto Stock da Rosa ressalta que é sempre importante descobrir fósseis. Ele explica que, na década de 30, em São Pedro do Sul, e na década de 70, em Candelária, fósseis do mesmo grupo foram encontrados, mas avalia que, mesmo diante de mais uma descoberta histórica, o Estado ainda precisa trilhar um longo caminho na área de pesquisas.

– A paleobiodiversidade do Rio Grande do Sul é muito pouco conhecida. Mas não é por falta de pesquisadores e, sim, porque falta muito esforço de coleta de material. Ainda estamos arranhando o conhecimento sobre a paleobiodiversidade. Ainda há muitos fósseis e sítios fossilíferos a serem encontrados – diz.
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FONTE : jorn. LUÍS EDUARDO SILVA, Diário de Santa Maria, edição de 12/1/2011.

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