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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Ambientalistas e cientistas estão preocupados com queda do interesse público pelas mudanças climáticas

Grupos ambientalistas tentam tornar a mudança climática atraente – A quantidade de gases de efeito estufa na atmosfera continua crescendo, mas o interesse público pela mudança climática está diminuindo. Os ambientalistas estão buscando novas formas de tornar o assunto mais atraente. Mas as táticas de choque podem ser um tiro pela culatra.

A mudança climática costumava sair nas manchetes. Mas hoje em dia o assunto parece ter sumido do radar. Reportagem de Axel Bojanowski, no Der Spiegel.

Líderes mundiais negociaram recentemente um novo acordo do clima na Conferência da ONU para a Mudança Climática em Cancun, México, mas o interesse do público pelo assunto foi limitado. Foi uma diferença marcante em relação à conferência climática de Copenhague, em dezembro de 2009, que foi considerada de importância histórica às vésperas do encontro, para depois fracassar de forma espetacular. O roubo de e-mails da Universidade de East Anglia prejudicou muito a imagem da pesquisa climática pouco antes da cúpula.

Ambientalistas e cientistas estão preocupados com uma queda massiva do interesse público pelo assunto durante o último ano. Agora eles estão buscando novas estratégias para mudar essa tendência. Eles estão procurando as chamadas “bombas mentais” – imagens muito fortes emocionalmente, que reduzem um problema complexo a uma mensagem essencial.

Fontes de sangue

Algumas organizações ambientais estão colocando suas apostas no fator do choque. Um comercial de uma campanha da organização ambientalista 10:10, com sede na Inglaterra, mostra um professor inflando dois alunos que não acreditavam em cortar suas emissões de carbono, com fontes de sangue espirrando por toda a sala. Outros vídeos da 10:10 dão o mesmo destino a funcionários de escritório e jogadores de futebol recalcitrantes. Mas a campanha fracassou – ela gerou protestos massivos e foi rapidamente retirada.

Um anúncio de TV do Greenpeace que tinha como alvo a multinacional Nestlé teve mais sucesso. O Greenpeace queria que o vídeo, no qual uma barra de chocolate se transforma no dedo ensanguentado de um gorila, fosse entendido como um símbolo dos danos à floresta tropical, onde a coleta de óleo palmeira para produzir chocolate destrói os habitats dos grandes símios. Depois que o vídeo causou uma reação considerável, a Nestlé prometeu parar de usar produtos que prejudiquem as florestas tropicais.

Anúncios de TV como o do Greenpeace atrem a atenção por um tempo curto, mas não são suficientes para deter a tendência da mídia de ignorar os assuntos climáticos, confirma Sebastian Metzger da organização co2online de Berlim, que mede regularmente o interesse do público pelo tema usando seu “barômetro do clima”.

“Cha-a-a-ta”

Os pesquisadores do clima confirmam um declínio perceptível nesse interesse. Hans Joachim Schellnhuber, diretor do respeitado Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto no Clima, lembra que seu telefone costumava tocar sem parar sempre que havia condições climáticas extremas. Agora quase ninguém liga, diz ele.

O aquecimento global é um assunto “frio” em termos de mídia, explicou recentemente um editor do jornal diário Tagesspiegel num programa de TV alemão. Na mesma linha, o grande jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung perguntou ironicamente em relação à cúpula de Cancun: “Espere, isso não tinha alguma coisa a ver com o clima?”

Enquanto os jornalistas debatem se o assunto da mudança climática se adequa à mídia, o New York Times citou um diretor de filmes de ciência que chamou a pesquisa sobre o clima de “cha-a-a-ta” e “provavelmente o assunto mais entediante que o mundo científico já apresentou ao público”. O problema de comunicação nessa área pode ser resolvido, mas exige que a pessoa ou o grupo certo encontrem a abordagem adequada para atingir o público.

O Greenpeace não parece ser esse grupo. Embora a organização esteja atraindo doações recordes, apenas 1% dos alemães associam o Greenpeace à proteção climática, reclama um especialista da organização ambientalista. O tópico é difícil de transmitir, disse ele, acrescentando que o Greenpeace tem uma nova campanha que deve finalmente atingir o “consumidor Zé da Silva médio”.

Estratégia falha

Uma pesquisa feita com 13 mil pessoas em 18 países, apresentada pela rede de televisão pública internacional alemã Deutsche Welle no Fórum Global de Mídia em Bonn em junho, sugere que os cidadãos comuns estão menos interessados na mudança climática do que se imaginava. A pesquisa mostrou, por exemplo, que apenas um em cada três holandeses estão preocupados com a mudança climática – embora a Holanda seja especialmente considerada uma área de risco por causa do aumento do nível do mar.

A revista científica britânica Nature identificou dois motivos para esta perda de credibilidade. Um deles foram os erros, que vieram a público há mais ou menos um ano, no relatório do clima da ONU de 2007. O outro foi o escândalo conhecido como “Climagate”, que envolveu o roubo de e-mails de pesquisadores do clima na Universidade de East Anglia. O vazamento de correspondência revelou a grande divisão entre os cientistas, que fazia com que eles escondessem alguns dados e defendessem seus próprios resultados a todo custo.

O pesquisador de comunicação Martin Ludwig Hofmann da Universidade Ostwestfalen-Lippe de Ciências Aplicadas acredita que o escândalo causou um sério prejuízo. “A estratégia de comunicação até lá dependia principalmente da credibilidade dos cientistas”, diz Hofmann. O London Times considerou os danos de relações públicas piores do que o da BP depois do vazamento de óleo no Golfo do México.

Sexo, emoção e um novo Messias

Os ambientalistas inventaram várias abordagens para tornar o tópico da mudança climática atraente novamente. A Spiegel Online apresenta um resumo de suas ideias.

* Uma mensagem emotiva: ambientalistas de cabelos longos em botes de borracha entraram numa área de caça a baleias no norte do Pacífico, capturando imagens de baleias sangrando até a morte por ferimentos de arpão. Essas fotos serviram de base para a campanha “Salve as Baleias” do Greenpeace. Foi uma “bomba mental” que encontrou um alvo direto, e as fotos de baleias tornaram não só a campanha mas também o Greenpeace mundialmente famosos.

Mas o que funcionou para a conservação das baleis não deu certo para a proteção climática – todos os motivos simbólicos propostos fracassaram. Um urso polar sozinho num pedaço de gelo flutuante é “distante demais das pessoas”, diz Metzger da co2online. A imagem de uma nuvem de furacão – que Al Gore usou para divulgar seu filme “Uma Verdade Inconveninente” – só faz sentido em algumas regiões do mundo. O impressionante gráfico em formato de taco de hóquei das temperaturas globais, chamado assim por causa do aumento drástico na época da Revolução Industrial, é controverso entre os cientistas. Imagens de pessoas sofrendo desastres ambientais esbarram no problema de que há muita incerteza em relação ao aquecimento global ter sido de fato responsável por determinadas catástrofes. E as fotos de células solares ou turbinas eólicas não são “suficientemente comoventes”, diz Klaus Merten, pesquisador de comunicação na Universidade de Münster.

* Sexo: Talvez a arma mais potente da propaganda também possa ser usada para a proteção climática. Um experimento inicial mostrou uma pesquisadora atraente posando de maiô em frente ao gelo do Ártico. “A mudança climática é atraente” também foi o tema de vários grupos de trabalho no Fórum Global de Mídia em Bonn.

A Índia até conseguiu transformar um símbolo sexual num ícone para a proteção climática. O Shiva Lingam de gelo, uma enorme estalagmite de gelo nas cavernas Amarnath no norte da Índia, é reverenciado como um símbolo de fertilidade. Grandes veículos noticiosos do país começaram a reportar o aquecimento global desde que o símbolo fálico congelado começou a derreter.

* Um novo tipo de jornalismo: ativistas pelo clima começaram a direcionar milhões para financiar programas de treinamento para jornalistas ambientais, com o objetivo de encorajar o chamado “jornalismo de causa”. Esse tipo de jornalismo está “praticamente morto na Europa”, diz Markus Lehmkuhl, especialista em mídia na Universidade Livre de Berlim. O jornalista científico britânico Alexander Kirby alerta que os jornalistas que permanecem neutros em relação ao assunto podem prejudicar a causa da proteção climática, mas muitos de seus colegas se recusam a assumir um lado. O jornal suíço Neue Zürcher Zeitung, por exemplo, teme que a linha que separa o jornalismo científico da propaganda possa se tornar confusa. Owen Gaffney, diretor de comunicações na Academia Real de Ciências da Suécia, aconselha que, em vez de deixar que a mídia reporte sobre a mudança climática, os cientistas devem estabelecer seus próprios canais de mídia, de preferência online. “Temos mais credibilidade do que os jornalistas e precisamos tirar vantagem disso”, diz Gaffney.

* Debate crítico: O pesquisador de comunicações Klaus Merten critica as conferências ambientais como o Fórum Global de Mídia em Bonn, que, segundo ele, costumam parecer festas particulares. Ele acredita que o debate corre o risco de se reduzir e acabar, e diz que é limitante quando todos fazem parte de um grupo pequeno que nunca discorda: “as críticas dão espaço para a criatividade”. Os ativistas pela proteção climática também arriscam prejudicar sua causa quando tentam apresentar a si mesmos como totalmente objetivos, sugere Merten. “Os ambientalistas têm seus próprios interesses, como qualquer um, e eles devem revelá-los”, diz – do contrário, arriscam sua credibilidade.

* Pense pequeno: “Muitas pessoas ainda veem a catástrofe climática como algo abstrato que não têm consequências concretas”, diz Hofmann, pesquisador de comunicação. Ele recomenda uma abordagem em três etapas: isolar um problema individual causado pelo clima, reduzir esse problema a um aspecto, e então criar uma área-alvo que pode funcionar como um objetivo para medidas de proteção climática. Campanhas para “salvar a floresta tropical” foram bem sucedidas com este método, concentrando-se na perda de habitat dos orangotangos. “As pessoas querem ajudar os macacos, então apoiam a conservação das florestas”, explica Hofmann. Metzger também acredita que é necessária uma nova abordagem, uma com “menos lições e mais incentivos para tomar atitudes”. “Precisamos falar sobre soluções, não sobre problemas”, disse Ken Caldeira, pesquisador ambiental na Universidade Stanford nos EUA, na conferência em Bonn.

* Fale menos: A Anistia Internacional vem demonstrando durante os últimos 50 anos que também é possível ter sucesso usando métodos mais silenciosos. Enquanto os ativistas ambientais estavam ocupados tentando causar uma comoção, a organização de direitos humanos conseguiu um sucesso considerável enfatizando a modéstia. “Fato e ato” é o lema da organização – sem exageros, sem um foco único e permitindo aos membros decidirem por si mesmos em que áreas querem ajudar. “Em comparação”, diz Merten, “as organizações ambientais às vezes parecem corporações estéreis”.

* A busca por um novo messias: Assim como Martin Luther King Jr. despertou o movimento pelos direitos civis, a causa climática precisa de seu próprio messias, diz o pesquisador ambientalistas Andreas Ernst da Universidade Kassel. A mensagem análoga desse messias pode ser algo parecido com “Eu tive um pesadelo”, sugere Ernst. Al Gore, que ganhou um prêmio Nobel da Paz por seu filme que sacudia os espectadores para fora da complacência, pareceu exercer esse papel com sucesso por algum tempo, mas desde então ele desapareceu da vista do público.

* Uma nova linguagem científica: Os pesquisadores do clima começaram a montar novas organizações para comunicar melhor seus dados. Um pioneiro é o Centro de Serviço Climático (CSC) em Hamburgo, uma nova instituição de pesquisa de nível federal. O Conselho Nacional de Pesquisa dos EUA tem planos para estabelecer uma organização semelhante, e os pesquisadores do renomado instituto australiano CSIRO sugeriram até mesmo compor uma “instituição nacional de comunicação” para coordenar melhor a comunicação dos resultados dos pesquisadores do clima para os políticos e cientistas.

O Painel Intergovernamental da Mudança Climática também quer um uso mais cuidadoso da linguagem. O órgão internacional enviou aos cientistas um código de conduta para suas interações com os jornalistas. Os cientistas devem evitar usar palavras como “risco” e “incerteza” em suas entrevistas, diz o documento, para evitar mal-entendidos – e evitar prejudicar ainda mais o movimento de proteção climática.
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FONTE : Reportagem do Der Spiegel, no UOL Notícias. Tradução: Eloise De Vylder. (EcoDebate, 05/01/2011).

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