Chuvas fortes e secas prolongadas não são novidades no Brasil e vão aumentar de frequência e intensidade ao longo desta década. Também não são novidades as enchentes, os deslizamentos, as populações desprevenidas, que ficam sem águas, as perdas associadas a esses eventos.
Com o tenho insistido aqui, não existem ‘desastres naturais’. Existem desastres associados a fenômenos naturais. Um tsunami em alto mar, sem ilhas habitadas ou navios por perto não vira desastre se não chegar a áreas habitadas. Permanece apenas como registro científico de um fenômeno natural. Tudo se agrava quando o ‘ambiente construído’ é mal planejado e mal construído. Além de não prever e levar em consideração a possibilidade de eventos climáticos extremos, não é construído de forma a evitar resistir a eles. Pontes e prédios agravam as enchentes ao barrar o fluxo das águas. Prédios e casas desabam porque não foram feitos para resistir à forças das águas ou do vento. Não há abrigos, rotas de escoamento, planos de remoção. Não temos um sistema de alerta para eventos iminentes, somos muito deficientes na análise, classificação e gestão de riscos de desastres. Fazemos muito pouco para prevenir, mitigar ou evitar o desastre, não os eventos climáticos, que são inevitáveis.
O ministro Aloizio Mercadante, da Ciência e Tecnologia, disse que quer criar um “grande programa de previsão de catástrofes naturais”. Ele está certo. Mas precisamos mais que apenas um sistema de previsão ou de “georreferenciamento de áreas de risco e previsão meteorológica que tenha maior capacidade de se antecipar aos fenômenos”. Isso, segundo o ministro, permitiria que a gente tivesse, “com a Defesa Civil e o apoio das Forças Armadas, condições de prevenir desastres naturais”.
Não podemos evitar um terremoto ou uma tempestade tropical. Mas podemos usar o conhecimento científico e tecnológico que já temos e que possamos desenvolver para definir áreas de risco e remover populações dessas áreas; melhorar as obras de infra-estrutura em função do comportamento das águas; evitar deslizamentos; criar sistemas de sensores para alertar as comunidades e organizar respostas adequadas das autoridades da defesa civil e da própria comunidade. A defesa civil pode mesmo se beneficiar de inteligência – pesquisa e sistemas de alerta prévio – novas tecnologias, melhores equipamentos. Além disso, precisamos pesquisar os riscos de novos eventos extremos que enfrentaremos no futuro próximo com a mudança climática. Temos grande incidência de tornados no país e sequer nos damos conta disso.
É preciso ter pesquisa permanente sobre os riscos e os tipos de desastres possíveis no Brasil e como e onde os eventos que podem levar a tragédias humanas se agravarão com a mudança climática. Precisamos de desenvolver novas tecnologias em todas as áreas pertinentes à prevenção e mitigação de desastres. E conhecer melhor o nosso futuro climático.
O Japão é um bom caso de sistema desenvolvido de ciência e tecnologia para prevenção de desastres. Desde o após-guerra investiu muito nesse campo. Tem muita tradição nesse campo. O Instituto de Pesquisa em Prevenção de Desastres de Quioto, por exemplo, estuda controles de segurança para o espaço urbano; planejamento para a mitigação de desastres no ambiente construído; inovações em prevenção de desastres; sistemas sociais para a governança de risco de desastres. Em áreas relacionadas a tempestades, há estudos importantes sobre o ambiente climático; o ambiente atmosférico e de tempestades extremas; desastres hidrometeorológicos, entre muitas outras áreas de pesquisa em desastres.
No EUA há numerosos centros que se dedicam à pesquisa sobre desastres e desenvolvimento de tecnologias e sistemas sociais de governança. Tem também um extenso programa federal de financiamento à pesquisa de prevenção e mitigação de desastres.
A ONU tem uma Estratégia Internacional para Redução de Desastres.
A Índia tem um programa extenso de gestão de desastres. A China tem um Instituto de Ciência e Tecnologia de Prevenção de Desastres bastante desenvolvido.
E não é só o Governo Federal que deve se dedicar a isto não. Os governos dos estados e das grandes capitais também.
Esta é uma área de pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico estratégica no século 21 não apenas para a segurança coletiva e proteção da população. Ela é crucial para a segurança econômica, alimentar, energética do país. Portanto, parte do conceito correto de segurança nacional.
Para ouvir o comentário do autor na rádio CBN acesse http://www.ecopolitica.com.br/2011/01/11/precisamos-de-ciencia-e-tecnologia-de-prevencao-de-desastres-associados-a-eventos-climaticos/
*Para conhecer o Ecopolítica acesse http://www.ecopolitica.com.br/
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FONTE : Sérgio Abranches (Envolverde/Ecopolítica).
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