ONG denuncia comércio de tigres na China
por Jeremy Hance, do Mongabay
O relatório, chamado ‘Hidden in Plain Sight’ (algo como Escondidos em plena vista), alega que apesar de governo chinês ter assumido uma posição forte na conservação dos tigres no exterior, em casa tem secretamente criado demanda para o comércio internacionalmente proibido.
Poucos animais no mundo atraíram tanta atenção para a conservação como o tigre (Panthera tigris), incluindo uma conferência internacional realizada em 2010 que arrecadou milhares de dólares para os felinos.
“A cruel contradição entre a postura internacional da China apoiando os esforços para salvar os tigres selvagens e as suas políticas internas que estimulam a demanda e, especialmente, instigam a caça ilegal de tigres selvagens representa uma das maiores trapaças já perpetradas na história da conservação dos tigres”, comentou Debbie Banks, chefe da campanha pelos tigres da EIA.
Em 1993, a China proibiu o uso de ossos de tigre, um item popular da sua medicina tradicional. Entretanto, investigações sigilosas feitas pela EIA revelaram que “ossos de tigre provenientes de animais de cativeiro não estão sendo destruídos, levando ao que provavelmente é um estoque massivo e à presunção dos consumidores de que o comércio é legal ou que será em breve”.
Vinho feito com ossos de tigre ainda é produzido e vendido na China, e segundo a EIA, o governo até incentiva a atividade através de uma notificação “secreta” emitida para os comerciantes em 2005. Sob a notificação, qualquer criação de tigres com mais de 500 animais pode produzir e vender vinho de ossos de tigre. Para contornar a lei de 1993, os ossos simplesmente não são listados como ingredientes.
“Se você conseguir uma permissão especial, pode vender ossos de tigres para fábricas voltadas à medicina e os produtos serão diretamente circulados nos hospitais”, comentou um comerciante à EIA.
A medicina tradicional não é a única ameaça aos tigres na China. A EIA relata que a pele dos tigres está sendo vendida, e em muitos casos, ilegalmente. Apesar de esse tipo de comércio legal ser estritamente regulado na China, a EIA diz que o sistema é “falho” e fornece “uma cobertura para atividades do mercado negro, incluindo re-uso de permissões e falsificação da origem”, segundo o relatório. A ONG alega que o comércio de pele de felinos na China não apenas incentiva o consumo de animais de cativeiro, mas também a caça de tigres selvagens.
“Durante apenas alguns dias, os investigadores da EIA receberam ofertas de três peles frescas de tigre, uma de leopardo, uma de leopardo das neves e ossos, dentes e patas de grandes felinos”, diz o relatório. Em 2011, a ONG alertou que a China tinha reaberto o comércio de pele de felinos selvagens.
A EIA denuncia que as políticas chinesas estão ativamente estimulando a demanda por partes de tigres, minando os esforços globais para dobrar as populações desses animais até 2022.
Os tigres são atualmente listados como Ameaçados pela Lista Vermelha da IUCN. Especialistas dizem que apenas cerca de 3,5 mil sobrevivem na natureza contra cerca de 5 mil nas duzentas fazendas da China.
Em 1900, as estimativas eram de que cerca de 100 mil tigres sobreviviam ao redor do planeta, o que significa que a população caiu impressionantes 96,5% em apenas mais de um século. Apesar de a caça ilegal e do comércio terem ajudado a dizimar os grandes felinos, eles também têm declinado devido à perda de habitat e desaparecimento das suas presas.
Banks diz que a China precisa “lidar vigorosamente e acabar com esta discordância intolerável entre as palavras e os gestos, que prejudicam os esforços internacionais para salvar os tigres”.
A EIA pede que a China mude a sua legislação para proteger os animais, destrua os estoques de partes de tigres e faça os comerciantes saberem que “o objetivo é acabar com toda a demanda e o comércio”.
Banks completa que não são apenas estrangeiros que estão pedindo as mudanças, mas muitos chineses também.
“Um movimento da sociedade civil chinesa já apelou por mudanças nas leis de proteção da vida selvagem na China, e parlamentares submeteram várias propostas nos últimos anos para modificar as leis e regulamentações… e para acabar com o uso comercial de espécies como ursos e tigres”, enfatizou.
Leia o original no Mongabay (inglês)
* Traduzido por Fernanda B. Muller, do CarbonoBrasil.
** Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
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