por Júlio Bernardes, da Agência USP
O fitoplancton é composto por algas e cianobactérias que habitam os ambientes aquáticos. A pesquisa revisou o ICF, um dos índices multimétricos desenvolvidos e utilizados pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) no monitoramento qualidade das águas do Estado. “Rios degradados apresentam carga orgânica e concentrações de nitrogênio e fósforo elevados, fazendo que apenas alguns grupos de organismos do fitoplancton mais resistentes à estas condições se desenvolvam. Essa dinâmica serve de indicador do comprometimento da qualidade ambiental”, diz o biólogo. “Além do ICF, o monitoramento considerou dados físico-químicos, microbiológicos e os outros índicadores ambientais comumente utilizados, como o Índice de Vida Aquática (IVA) e o Índice de Estado Trófico (IET), relacionado a presença de substâncias que influenciam no desenvolvimento das algas”.
A pesquisa adaptou para utilização em rios a metodologia utilizada para verificação do ICF em reservatórios de água. “Nos rios a densidade do fitoplâncton, ou seja a quantidade de organismos existentes, tende a ser menor”, aponta Oliveira. “Os critérios de indicação da qualidade da água do ICF foram ampliados com o estabelecimento de cinco níveis: excelente, boa, regular, ruim e péssima. Desse modo, a avaliação acompanhou com mais fidelidade os resultados obtidos nas demais medições”.
O novo critério de avaliação do ICF, combinado com outros parâmetros físico-químicos (precipitação, vazão, temperatura, pH, oxigênio dissolvido, turbidez, condutividade, carga orgânica e nutrientes) e microbiológicos (Coliformes termotolerantes e clorofila), além da comparação com os padrões da Resolução 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), conseguiu separar de forma bastante precisa os rios conforme a sua qualidade da água. “Nos rios Sorocamirim, próximo a São Roque e Atibaia, ela é boa. No Corumbataí, na região de Piracicaba, e no São Miguel Arcanjo, é regular”, conta o biólogo. “A pior qualidade da água foi verificada no rio Piracicaba, que teve dois pontos de coleta, no Água do Norte, próximo a Marília, e no rio Jundiaí-Mirim”.
Fitoplancton
As análises realizadas em oito pontos de coleta durante um ano, com medições bimestrais, também identificou os grupos mais característicos do fitoplâncton existente nestes rios. “Houve um maior predomínio de diatomáceas, organismos que foram associados a condições mais satisfatórias da qualidade da água”, relata Oliveira. “Também foram identificados outros grupos como clorofíceas, flagelados e cianobatérias, sendo as últimas relacionadas com a água de qualidade péssima no índice, devido ao potencial de produção de toxinas nocivas, bem como relacionado aos outros dados”.
O biólogo destaca que as características hidráulicas e hidrológicas dos rios influenciaram na densidade do fitoplâncton. “Normalmente, a densidade das espécies é menor nos rios, mas alterações como a construção de barragens e a presença de lagoas marginais ao longo do rio aumentam essa concentração”, afirma. “O índice pode fazer parte de uma rotina de biomonitoramento, pois refletiu de forma mais sensível os outros parâmetros de qualidade, e os resultados da pesquisa indicam que o controle da poluição deve ser melhorado em alguns dos locais”.
A pesquisa faz parte de dissertação de mestrado apresentada na FSP em outubro de 2012, orientada pelo professor José Luiz Negrão Mucci. Oliveira lembra que alguns grupos de cianobactérias existentes no fitoplâncton podem produzir toxinas que causam riscos à saúde humana em caso de consumo da água.
“Índices de qualidade da água como este, além de facilitar a compreensão dos dados de monitoramentos, fornecem uma indicação dos grupos que mais ocorrem nos rios e permite a elaboração de planos de prevenção e acompanhamento de medidas de controle”, ressalta o biólogo. “Também outros tipos de algas podem proporcionar gosto e odor na água, tornando-a inadequada para o consumo”.
* Publicado originalmente no site Agência USP.
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