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quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Grandes dúvidas sobre grandes represas
Com capacidade para gerar apenas 190 megawatts, a hidrelétrica de Dak Mi 4, que se constrói na central província vietnamita de Quang Nam, é pequena, segundo os padrões internacionais. Mas, está dando muita dor de cabeça ao governo central. A construção da represa provoca a feroz oposição dos moradores locais, que se queixam de que será desviada a corrente do rio Vu Gia, para outro, o Thu Bon. Afirmam que isto impedirá que a água flua naturalmente para a cidade costeira de Da Nang.
No final de agosto, o Ministério do Comércio e da Indústria rejeitou uma petição do Comitê Popular de Da Nang exigindo que o projeto fosse suspenso, dizendo que não prejudicará o fornecimento hídrico, como muitos temem. A petição argumentava que o projeto da represa, de US$ 290 milhões, terá serio impacto no fluxo hídrico para a cidade costeira e deixará Da Nang “sem água doce suficiente”. O sistema dos rios Vu Gia e Thu Bon tem origem na cadeia montanhosa de Truong Son, no ocidente do Vietnã central, e abastece de água doce uma serie de áreas baixas e comunidades locais.
A construção da hidrelétrica começou em 2007, e seu término está previsto para 2010. O conflito em torno da represa é ilustrativo das preocupações mais amplas sobre como equilibrar preservação ambiental e desenvolvimento hidrelétrico em um país como o Vietnã, cujo produto interno bruto aumentou, na média, 7,5% entre 2000 e 2007. Embora este número tenha diminuído devido à crise financeira mundial, projeta-se para este ano que o PIB será de 4,5% e se recupere nos próximos anos.
Apesar de no país existirem alguns projetos hidrelétricos enormes, como a represa de Son La (2.700 MW), a maioria delas é de pequena escala, gerando entre 10 e 30 MW. Pretende-se construir 68 hidrelétricas principalmente modestas embora de vários tamanhos, somente nos rios da província de Quang Nam, incluídos o Vu Gia e o Thu Bon. Também há outras em construção ou projetadas para outros rios em todo o pais. Oficialmente, estes projetos são criados para atender a crescente demanda por energia no país, que é superior à oferta, particularmente no verão.
O governo situa o aumento da demanda elétrica em 15% ao ano, e o Vietnã importa energia da vizinha China. As preocupações do governo vietnamita são tais que planeja ter sua primeira central nuclear em cinco anos e obter 10% de sua energia de fontes nucleares ate 2030. Mas, casos como o projeto de Dak Mi também anima o debate sobre as diferentes maneiras de administrar esta demanda e de avaliar o impacto da construção das represas, inclusive as pequenas.
Por exemplo, Ngueyn Quoc An, assistente do presidente da Associação de Energia do Vietnã, disse que o total de energia gerada por hidrelétricas de pequena escala é insignificante em comparação com as necessidades nacionais. Isto se deve ao fato de estas centrais operarem principalmente na estação chuvosa, quando há menos demanda por energia. “Investir em usinas de pequena escala neste momento pode não ser a melhor opção”, disse à IPS. Para muitos investidores em hidrelétricas na província de Lao Cai já está difícil vender seu produto para a Energia do Vietnã, única compradora de eletricidade no país, disse An.
Suas usinas estão muito distantes da rede elétrica nacional e não têm a capacidade financeira para construir linhas de transmissão que as conectem com os consumidores. Mas, funcionários do Ministério do Comércio disseram que o setor elétrico está disposto a utilizar plenamente os recursos hídricos do país e a superar a excessiva dependência da eletricidade gerada a partir do carvão e do gás, que representa 60%.
“Em muitos outros países entre 80% e 90% da energia são gerados a partir de hidrelétricas”, disse à revista Saigon Marketing Weekly Ho Sy Du, diretor do departamento de hidrelétrica na Faculdade de Irrigação de Hanói. “No Vietnã usamos apenas entre 30% e 40% da energia hidrelétrica. Por isso devemos usar muito mais no futuro”, afirmou.
De todo modo, realizando uma concessão diante da postura dos moradores de Da Nang, funcionários do Ministério do Comércio disseram ter pedido aos investidores do projeto de Dark Mi que calculassem quanto água realmente o rio fornecerá à comunidade quando as obras estiverem completadas. Também continuam em pé os planos de construir represas em diferentes partes do país. A montanhosa província de Lao Cai tem 21 projetos hidrelétricos, com capacidade total de 465 MW.
Aos investidores em hidrelétricas de pequeno porte não são pedidos informes de impacto ambiental para que o governo central os aprove, tornando mais fácil sua implementação. Apenas necessitam que seus projetos sejam aprovados pelas autoridades da comunidade ou aldeia. No balanço que fazem países como o Vietnã em um momento em que há muitos projetos hidrelétricos em diferentes partes do rio Mekong, os analistas afirmam que frequentemente se vê as represas como uma fonte mais limpa do que o carvão ou a energia nuclear.
Mas, também dizem que os projetos pequenos mal concebidos podem causar um dano ambiental maior, acrescentando que o impacto acumulado de mais de um projeto no mesmo rio também trás outras preocupações. A construção da hidrelétrica de Dak Mi 4 e os outros projetos para os rios Vu Gia e Thu Bon são alguns exemplos. “A construção de tantas hidrelétricas sobre o mesmo rio afetará o fluxo de água corrente abaixo”, disse Huynh Van Thang, vice-presidente do Departamento de Desenvolvimento Agrícola e Rural de Da Nang.
“Severas secas e a invasão de água do mar nas áreas baixas estão entre os efeitos adversos de várias hidrelétricas mal planejadas, construídas ao longo do sistema fluvial”, disse Thang. “Não basta avaliar os impactos de cada usina em um trecho do rio”, disse aos jornalistas Ruth Matthews, do Fundo Mundial para a Natureza. “Deve-se estudar toda a bacia para que os planejadores e funcionários tenham um ponto de vista exaustivo sobre os impactos acumulativos de todos os projetos sobre um rio”, acrescentou.
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FONTE : Tran Dinh Thanh Lam, da IPS,Ho Chni Minh, Vietnã, 16/09/2009 (IPS/Envolverde)
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