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quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Entrevista com Yann Arthus-Bertrand, diretor do filme Home


Em algumas poucas décadas, a Humanidade interferiu no equilíbrio estabelecido no Planeta há aproximadamente quatro bilhões de anos de evolução. O preço a pagar é alto, mas é tarde demais para ser pessimista. A Humanidade tem somente dez anos para reverter essa situação, observar atentamente a extensão da destruição das riquezas da Terra e considerar mudanças em seus padrões de consumo.

Ao longo de uma seqüência única através de 54 países, toda filmada dos céus, Yann Arthus-Bertrand divide conosco sua admiração e preocupação com o filme “Home - Nosso Planeta, Nossa Casa” e finca a pedra fundamental para mostrar que, juntos, precisamos reconstruí-lo.

Mais do que um filme, “Home - Nosso Planeta, Nossa Casa” é um grande evento internacional: pela primeira vez um filme foi exibido no mesmo dia: 5 de Junho de 2009, em 181 países e por 81 canais de TV. O Dia Mundial do Meio Ambiente foi escolhido como a data mais simbólica para essa exibição simultânea, em grande parte gratuitamente, em vários formatos, como cinema, televisão, DVD e internet (on-line pelo http://www.youtube.com/homeproject). O objetivo do diretor Yann Arthus-Bertrand, dos distribuidores Luc Besson e Denis Carot, e o de François-Henri Pinault, presidente da PPR, principal patrocinadora do filme, é atingir a maior audiência possível e convencer a todos das nossas responsabilidades individuais e coletivas com relação ao Planeta.

Quando você sentiu que deveria realizar este filme?

Quando convidei a Al Gore para apresentar seu filme “Uma Verdade Inconveniente” no Parlamento francês, percebi o grande impacto que teria o filme; muito mais do que um programa de televisão. Eu vi como o público ficou comovido; em alguns casos chegaram às lágrimas, e eu disse para mim mesmo que o cinema seria um excelente meio de chegar às pessoas. Também me pareceu ser um desdobramento natural da fotografia e dos programas de TV. Percebi que ao tirar fotografias da Terra eu falava do Homem, e essa é a mesma lógica que encontrei no cinema.

Este é o seu primeiro filme de longa-metragem e também é um projeto de rara dimensão: da produção, até a montagem, passando pela filmagem. O senhor encontrou muitas dificuldades?

Fui apresentado a Denis Carot, produtor do filme “Va, vis et deviens”, por Armand Amar, compositor e meu amigo. Ele concordou participar do projeto imediatamente, assim como Luc Besson. Foi quando a coisa ficou difícil! Quando lhe dão tanto dinheiro para fazer um filme inédito com “Home”, inteiramente filmado desde um helicóptero e em alta definição (HD) é uma responsabilidade enorme e um estresse constante. Eu trabalhei por instinto e, como sempre, aprendendo na medida em que trabalhava. Logo percebemos que a equipe dentro do helicóptero teria que ser reduzida ao piloto, o cameraman e o engenheiro de imagem. Assim, tivemos que dominar questões técnicas começando pela câmera que estávamos usando e as condições de filmagem, que eram diferentes em cada país que sobrevoávamos. Também, eu fiz o filme sem roteiro, baseado em uma sinopse de apenas uma página. Eu sabia a história que queria contar, mas a narração só surgiu enquanto filmávamos - principalmente o tema central de energia – primeiro a energia da força do músculo humano, depois a revolução desencadeada pelo que chamamos de “bolsas de luz solar”, o petróleo. O resultado final é realmente o filme de um fotógrafo que não está acostumado a restrições.

Qual é a mensagem central do filme?

O filme é um verdadeiro manifesto. O nosso impacto sobre a Terra é muito mais forte do que ela pode suportar. Nós consumimos em excesso e estamos extinguindo os recursos da Terra. Desde o céu, podemos ver claramente os lugares onde a Terra foi ferida. Assim, “Home - Nosso Planeta, Nossa Casa” explica simplesmente os problemas atuais, sempre afirmando que existe uma solução. O subtítulo do filme poderia ser “É tarde demais para ser pessimista”. Nós chegamos a uma encruzilhada. Decisões importantes devem ser tomadas para mudar o mundo. Todos sabem sobre o que tratamos no filme, mas ninguém quer realmente acreditar nisso. Assim “Home - Nosso Planeta, Nossa Casa” é então um tijolo a mais no edifício construído pelas organizações ambientais, de retorno ao bom senso para mudar o nosso modo de consumir e de viver.

Isto também envolve o fato do filme ser distribuído de uma forma sem qualquer precedente...

Tive a idéia de distribuir o filme em todos os formatos possíveis e gratuitamente, sempre que possível, depois de conversar com Patrick de Carolis, que queria investir no filme para a France Télévisions. Ele me disse que só poderia exibi-lo dois anos após a exibição nos cinemas. Procurei Luc Besson e disse que devíamos distribui “Home - Nosso Planeta, Nossa Casa” gratuitamente. Ele disse que era impossível, antes de ser render à idéia de ver um filme acessível a todos, lançado de forma gratuita em todo o mundo e no mesmo dia. Aquilo nunca havia sido feito antes e somente foi possível graças a François-Henri Pinault, Presidente e diretor Executivo do Grupo PPR, que aceitou ser o nosso parceiro no filme. O que eu realmente quero é que “Home” seja visto pelas pessoas cujo consumo tem um impacto direto sobre a Terra, e que percebam a necessidade de mudar seu modo de vida depois de assistirem o filme.

Como você elaborou a narração e a música?

O texto da narração era crucial, é claro. Eu fui muito inspirado pelo trabalho de Lester Brown, o famoso ambientalista estadunidense e pelo seu livro O Estado do Mundo (State of the World). Eu também trabalhei com Isabelle Delannoy, minha colaboradora de longa data. Com relação à música, evidentemente que a encomendei a Armand Amar, o melhor amigo do mundo e o melhor músico francês. Ele é também um especialista em vozes e em músicas de diversas partes do mundo e eu queria esse tipo de mistura cultural para a trilha sonora.

Como você desenvolveu o ritmo do filme?

Eu gosto da lentidão da admiração, por isso eu queria que um filme que tivesse seu próprio tempo. Restrições técnicas ligadas ao peso do helicóptero e da câmera que estávamos usando, levou-nos a filmar muitas cenas em câmera lenta. É isso o que eu gosto no filme: ele é contemplativo. É também um filme que nos faz ouvir e parar para pensar. No filme há muitas coisas difíceis de entender, mas eu não estava pronto para fazer concessões.

Por que o título Home?

Foi idéia de Luc Besson e era a escolha óbvia. É muito simbólico, pois a ecologia é a ciência da casa.

“Home - Nosso Planeta, Nossa Casa” foi feito com compensações do carbono emitido. Que significa isso?

Todas as emissões de CO2 produzidas pela produção do filme são calculadas e compensadas por quantias em dinheiro, usadas para fornecer energia limpa àqueles que não a têm. Todo o meu trabalho, nos últimos dez anos, tem sido realizado com compensação de emissões.

O que você gostaria que o filme suscitasse entre o público?

Além de mudar as suas vidas, eu gostaria que as pessoas quisessem ajudar, compartilhar. O naturalista e ecologista francês Théodore Monod disse uma frase extraordinária: "Nós tentamos de tudo, exceto amar". Eu espero que esse filme seja sinônimo de muito amor.
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FONTE : Mathilde Lorit (Jornalista da Europacorp - Elzevir Films)
Para assistir ao filme, acesse: http://www.youtube.com/homeproject

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