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quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A desertificação como problema macroeconômico


A concepção da desertificação como um problema macroeconômico que envolve aspectos financeiro, produtivo, ambiental e da sociedade civil, é um objetivo primordial de Christian Mersmann, do Mecanismo Mundial da Conservação das Nações Unidas de Luta contra a Desertificação. Trata-se de um órgão subsidiário da Convenção, cujo mandato é elevar a efetividade e a eficiência dos instrumentos financeiros existentes e promover ações no sentido de mobilizar recursos para os países em desenvolvimento afetados pela desertificação.

Mersmann, diretor-executivo do Mecanismo, participa da Nona Sessão da Conferência das Partes (COP 9) da Convenção, que acontece em Buenos Aires desde segunda-feira até 2 de outubro e que reúne 2.500 especialistas e interessados em combater a degradação dos solos, uma tendência que nos próximos 40 anos poderia forçar o deslocamento de centenas de milhões de pessoas no mundo, segundo diversos estudos. Em Buenos Aires são avaliados os primeiros passos da estratégia global para a década 2008-2018, adotada em Madri há dois anos durante a COP 8.

“É necessário internacionalizar a ideia de que quando se degrada o meio ambiente isso afeta o preço dos tomates na quitanda ou no supermercado”, disse o funcionário das Nações Unidas entrevistado pela IPS em um hotel da região central de Puerto Madro, na capital argentina. Mersmann ressaltou que “os governos da América Latina, não todos, mas muitos, veem de maneira crescente o papel macro que tem a degradação da terra. Cada vez mais se conscientizam de que custa enormes investimentos recuperar solos produtivos degradados”.

“Todos sabemos que os ministros das Finanças têm outras prioridades, mas, considerando a perda de produção agrícola e empregos, nossa tarefa não é convencer esse ministro a outorgar fundos, mas estabelecer uma agenda multilateral para analisar quais programas públicos, investimentos privados e financiamento local e internacional são necessários”, disse Mersmann. Nos primeiros três dias da COP 9, muitos conferencistas insistiram que a degradação da terra não é um conceito que se restringe aos solos, mas que se estende à disponibilidade de água, à vegetação e ao desenvolvimento humano.

O antropólogo Mersmann, com ampla experiência em programas de recuperação de terras degradadas na África, destacou o risco que implica a concepção estendida na América Latina de que “os solos são inesgotáveis”, pelas grandes extensões produtivas ou semiprodutivas que se encontram sem exploração. “É um recurso escasso”, insistiu. Consultado sobre o efeito das monoculturas ou plantações dominantes, como a soja, que pelo desenvolvimento genético e cotações internacionais ocupam o lugar da pecuária e de outras plantações tradicionais, o funcionário disse que se trata de uma tendência “extremamente perigosa” pela “completa quebra” que pode causar à economia de um país as variações bruscas nos mercados internacionais.

Mersmann alertou que a produção em massa de soja tem efeitos negativos, ao encarecer outros produtos, como vem ocorrendo na Argentina, o que desatou a partir de 2008 enorme conflito político-econômico entre sindicatos de agricultores e o governo de Cristina Fernández. O especialista disse que “a revolução verde através dos trangênicos é absolutamente desnecessária”.

Por um lado, Mersmann avaliou que “as técnicas atuais permitem evitar o uso de sementes geneticamente modificadas”, enquanto no plano da sustentabilidade econômica “o mercado crucial da Europa e, seguramente, dos Estados Unidos, não serão aptos no futuro para produtos alterados”. Por fim, Mersmann analisou que o mundo “já está em meio a um enorme conflito pela água, que se apresenta em conflitos locais. Em 10 anos não vai haver uma guerra tradicional em termos de armas entre um lado e outro, mas haverá conflitos locais com muito impacto na vida das pessoas”.

Na jornada inicial da COP 9, o secretário do Meio Ambiente da Argentina, Homero Bibiloni, reconheceu em entrevista coletiva que em seu país “se tem uma visão de Pampa úmido (uma região agrícola altamente produtiva no centro do país que inclui as províncias mais ricas) apesar de ser uma superfície menor em relação ao território” nacional. Na Conferência Científica paralela à COP 9, o diretor-geral do Centro Internacional para a Pesquisa Agrícola em Áreas Secas, o libanês Mahmoud Solh, alertou que “nossa segurança alimentar está em perigo”. Quarenta por cento da terra estão afetados por algum grau de desertificação, e isso altera a vida de 1,7 bilhão de pessoas, afirmou.

A geógrafa e pesquisadora argentina Elena Abraham, que integra o oficial Projeto Degradação de Terras em Zonas Áridas, afirmou que em três quartos do território argentino, considerados áreas secas, gera-se a metade da produção pecuária. O corte de 850 mil hectares de floresta nativa permite prever que até 2036 não haverá mais selva para destruir neste país, acrescentou a cientista e diretora do Instituto Argentino de Pesquisas das Zonas Áridas. Como dado positivo, o secretário-executivo da Convenção, Luc Gnacadja, de Benin, informou que “entre 1991 e 205, 16% da área global de terras áridas melhoraram graças aos esforços de governos regionais e nacionais”.
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FONTE : IPS/Envolverde

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