Considerada uma verdadeira “terra de contrastes” ao abrigar, simultaneamente, tradicionais comunidades ribeirinhas e indígenas e empresas do polo industrial, shoppings centers de luxo e um número crescente de turistas, sobretudo, estrangeiros, a Amazônia é um cenário típico para vivenciar o local e o global. É a partir desse ambiente um tanto que paradoxal que, desde o início do ano, o Amazonarium Experiências, empresa que realiza viagens educativas na região Amazônica, criou um roteiro direcionado a jovens de ensino médio para que conheçam os aspectos culturais locais e se tornem cidadãos mais responsáveis quanto ao futuro sustentável da região.
A experiência, chamada de Amazônia Sustentável: do Local ao Global, é destinada especialmente para jovens a partir do 9o ano do ensino fundamental ao 3o ano do ensino médio. “É uma viagem mão-na-massa. Os alunos participam de palestras, conhecem regiões naturais, visitam florestas e o mais importante: entram em contato com as pessoas que, de verdade, habitam a região”, diz o educador e biólogo Edson Grandisoli, um dos coordenadores das viagens educativas. Nessa faixa etária, afirma, os alunos já estão têm maturidade acadêmica e condição física para participar da experiência, que dura uma semana, saindo de São Paulo em um voo direto a Manaus, capital do Amazonas.
A iniciativa, diz, surgiu como forma de tapar o buraco da abordagem ainda considerada rasa nas escolas, principalmente nos colégios de São Paulo onde trabalha, além de partir da necessidade de estabelecer um vínculo maior entre os jovens e a região amazônica. “Nós, paulistanos, estamos a uma distância muito grande de lá, o fato da esmagadora maioria da população brasileira viver fora da região amazônica ajuda a gerar uma certa indiferença. O senso comum acredita que o que acontece na Amazônia é problema da população local e que não temos responsabilidade em relação ao que acontece lá. O que não é verdade”, afirma.
A primeira viagem, pensada inicialmente como um piloto, aconteceu em julho deste ano com 15 alunos do Colégio Bandeirantes, em São Paulo. De acordo com Grandisoli, a iniciativa deu certo e o próximo passo é expandir as viagens educativas para outras escolas do país. “Já recebemos alguns contatos de instituições de Brasília”, diz. Todas as atividades do roteiro são baseadas em entrevistas, na qual os estudantes assistem a palestras e depois têm um momento para fazer perguntas.
Roteiro
A viagem inicia com uma visita à Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus). Lá, eles conhecem os administradores do local e aprendem como a zona franca se tornou um dos principais polos industriais do país. Em seguida, passam por outros pontos importantes da cidade como o Teatro Amazonas, Porto, Alfândega, Mercado Municipal e o Museu de História Natural.
Para compreender a relação entre os aspectos local e global, outro destino é o Mercado do Peixe. No comércio, os alunos buscam entender a dinâmica de como funciona a venda dos produtos. Um exercício, por exemplo, é mapear a origem dos peixes e depois para quais regiões eles são destinados. “A medida que os alunos conversam com essas pessoas que trabalham no comércio, que pescam e vendem os peixes e comercializam outros produtos de exploração florestal, eles passam a entender melhor como funciona essa dinâmica”, diz.
Outra parada obrigatória é em São Tomé, comunidade ribeirinha a uma hora e meia de barco de Manaus. Nela, os estudantes observam como funciona a produção local, a agricultura familiar, a captação de látex para a fabricação de borracha ou até mesmo a pesca artesanal, para o consumo. “Eles começam a associar melhor a relação dos moradores dessas comunidades tradicionais com os aspectos globais com os quais se depararam”, diz.
Ainda próximo à comunidade, o roteiro inclui também uma visita à tribo dos índios tucanos, para conhecer o turismo na região. “Na verdade, há mais turistas estrangeiros que brasileiros. Tentamos investigar se o turismo que é efeito hoje é mais sustentável que antes. Se ele está acabando com os rituais das comunidades ou se, ao contrário, está incentivando as comunidades a manterem esses rituais para mostrá-los aos turistas”, afirma. “Essas discussões são tratadas sob o ponto de vista do bom ou ruim, mas servem como subsídios para que os estudantes possam entender o que é a Amazônia hoje”, afirma.
Considerado um destino pouco ou quase sem nenhum interesse por parte dos jovens, Grandisoli afirma que mais do que falta de oportunidade, falta desejo nas crianças e nos adolescentes quando se trata da Amazônia. “Eles não imaginam o que essa região é extremamente rica em termos de atrações, lugares e pessoas interessantes para conhecer e conversar”, afirma ele, que há 10 anos participa de estudos e projetos ligados à Amazônia.
Essas reflexões, diz Grandisoli, também ajudam a trabalhar questões como o consumismo e a relação dos jovens com o “ter”– muito presente na adolescência –, buscando torná-los cidadãos mais socialmente responsáveis. “É uma maneira de mostrá-los que grande parte da madeira do sofá que ele se sentam vem das florestas desmatadas, assim como o corante utilizado para embelezar as paredes das casas. Ou até mesmo as castanhas-do-pará, que são sementes que consumimos no dia a dia”, afirma.
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FONTE : * Publicado originalmente no site Porvir.
A experiência, chamada de Amazônia Sustentável: do Local ao Global, é destinada especialmente para jovens a partir do 9o ano do ensino fundamental ao 3o ano do ensino médio. “É uma viagem mão-na-massa. Os alunos participam de palestras, conhecem regiões naturais, visitam florestas e o mais importante: entram em contato com as pessoas que, de verdade, habitam a região”, diz o educador e biólogo Edson Grandisoli, um dos coordenadores das viagens educativas. Nessa faixa etária, afirma, os alunos já estão têm maturidade acadêmica e condição física para participar da experiência, que dura uma semana, saindo de São Paulo em um voo direto a Manaus, capital do Amazonas.
A iniciativa, diz, surgiu como forma de tapar o buraco da abordagem ainda considerada rasa nas escolas, principalmente nos colégios de São Paulo onde trabalha, além de partir da necessidade de estabelecer um vínculo maior entre os jovens e a região amazônica. “Nós, paulistanos, estamos a uma distância muito grande de lá, o fato da esmagadora maioria da população brasileira viver fora da região amazônica ajuda a gerar uma certa indiferença. O senso comum acredita que o que acontece na Amazônia é problema da população local e que não temos responsabilidade em relação ao que acontece lá. O que não é verdade”, afirma.
A primeira viagem, pensada inicialmente como um piloto, aconteceu em julho deste ano com 15 alunos do Colégio Bandeirantes, em São Paulo. De acordo com Grandisoli, a iniciativa deu certo e o próximo passo é expandir as viagens educativas para outras escolas do país. “Já recebemos alguns contatos de instituições de Brasília”, diz. Todas as atividades do roteiro são baseadas em entrevistas, na qual os estudantes assistem a palestras e depois têm um momento para fazer perguntas.
Roteiro
A viagem inicia com uma visita à Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus). Lá, eles conhecem os administradores do local e aprendem como a zona franca se tornou um dos principais polos industriais do país. Em seguida, passam por outros pontos importantes da cidade como o Teatro Amazonas, Porto, Alfândega, Mercado Municipal e o Museu de História Natural.
Para compreender a relação entre os aspectos local e global, outro destino é o Mercado do Peixe. No comércio, os alunos buscam entender a dinâmica de como funciona a venda dos produtos. Um exercício, por exemplo, é mapear a origem dos peixes e depois para quais regiões eles são destinados. “A medida que os alunos conversam com essas pessoas que trabalham no comércio, que pescam e vendem os peixes e comercializam outros produtos de exploração florestal, eles passam a entender melhor como funciona essa dinâmica”, diz.
Outra parada obrigatória é em São Tomé, comunidade ribeirinha a uma hora e meia de barco de Manaus. Nela, os estudantes observam como funciona a produção local, a agricultura familiar, a captação de látex para a fabricação de borracha ou até mesmo a pesca artesanal, para o consumo. “Eles começam a associar melhor a relação dos moradores dessas comunidades tradicionais com os aspectos globais com os quais se depararam”, diz.
Ainda próximo à comunidade, o roteiro inclui também uma visita à tribo dos índios tucanos, para conhecer o turismo na região. “Na verdade, há mais turistas estrangeiros que brasileiros. Tentamos investigar se o turismo que é efeito hoje é mais sustentável que antes. Se ele está acabando com os rituais das comunidades ou se, ao contrário, está incentivando as comunidades a manterem esses rituais para mostrá-los aos turistas”, afirma. “Essas discussões são tratadas sob o ponto de vista do bom ou ruim, mas servem como subsídios para que os estudantes possam entender o que é a Amazônia hoje”, afirma.
Considerado um destino pouco ou quase sem nenhum interesse por parte dos jovens, Grandisoli afirma que mais do que falta de oportunidade, falta desejo nas crianças e nos adolescentes quando se trata da Amazônia. “Eles não imaginam o que essa região é extremamente rica em termos de atrações, lugares e pessoas interessantes para conhecer e conversar”, afirma ele, que há 10 anos participa de estudos e projetos ligados à Amazônia.
Essas reflexões, diz Grandisoli, também ajudam a trabalhar questões como o consumismo e a relação dos jovens com o “ter”– muito presente na adolescência –, buscando torná-los cidadãos mais socialmente responsáveis. “É uma maneira de mostrá-los que grande parte da madeira do sofá que ele se sentam vem das florestas desmatadas, assim como o corante utilizado para embelezar as paredes das casas. Ou até mesmo as castanhas-do-pará, que são sementes que consumimos no dia a dia”, afirma.
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FONTE : * Publicado originalmente no site Porvir.
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