Neste ano, cerca de 2.500 líderes globais de empresas, governos e ONGs se reunirão em Davos para mais uma edição do Fórum Econômico Mundial (Fem). Entre as pautas, assuntos costumeiros como segurança internacional e recessão econômica. No entanto, outro tema de igual importância parece estar finalmente recebendo a atenção merecida: as mudanças climáticas.
Cerca de 30 reuniões, ou 15% do programa do Fem, tratarão sobre as mudanças climáticas e assuntos relacionados, como resiliência ambiental, segurança alimentar e manejo de recursos naturais.
Não é para menos. Com os recentes acontecimentos de eventos climáticos extremos, como as secas e o furacão Sandy nos UEA, as secas e altas temperaturas na Austrália, e o derretimento recorde no Ártico e seus impactos na economia mundial, fica cada vez mais difícil negar as mudanças climáticas e seus efeitos não apenas no meio ambiente, mas também na vida do ser humano.
Para se ter uma ideia da gravidade da situação, um relatório lançado pelo fórum há duas semanas, baseado em uma pesquisa de mais de 1.000 especialistas da indústria, analisou 50 riscos globais em termos de impactos, probabilidade e interconexões, e classificou o aumento das emissões de gases do efeito estufa como o 3º maior risco global enfrentado atualmente.
O documento afirma que os eventos climáticos extremos, aliados às difíceis condições financeiras, representam uma combinação “cada vez mais perigosa” para a economia mundial.
“Na frente econômica, a resiliência global está sendo testada por políticas fiscais austeras. Na frente ambiental, a resiliência da Terra está sendo testada pelo aumento das temperaturas globais e eventos climáticos extremos que provavelmente se tornarão mais frequentes e severos. Um colapso grande e repentino em uma frente certamente prejudica a chance da outra de desenvolver uma solução efetiva e em longo prazo”, diz o texto.
Para lidar com esse impasse, John Drzik, diretor executivo do Fem, pediu que os criadores de políticas tomem medidas urgentes para combater os riscos ambientais e econômicos e sua relação.
“Duas tempestades – ambiental e econômica – estão a caminho de uma colisão. Se não alocarmos os recursos necessários para mitigar o crescente risco de eventos climáticos severos, a prosperidade global para futuras gerações pode ser ameaçada. Líderes políticos, líderes empresariais e cientistas precisam se unir para administrar esses riscos complexos”, comentou Drzik.
Nesse sentido, outro relatório, divulgado nesta segunda-feira (21) em Davos, declara que os US$ 5 trilhões anuais investidos em infraestrutura devem se tornar mais sustentáveis, a fim de estimular um desenvolvimento econômico ‘verde’.
De acordo com o documento, tornar a infraestrutura mais sustentável é incentivar, por exemplo, outras formas de geração de energia, como a solar e a eólica, e promover a eficiência energética em setores como a construção, a geração de energia, a indústria e os transportes. Isso, além de contribuir para um meio ambiente mais limpo, contribuiria também para um crescimento econômico maior e mais igualitário.
O texto indica que há alguns sinais positivos de mudanças, como o fato de que o investimento mundial em energias renováveis bateu um novo recorde em 2011, chegando a US$ 257 bilhões – uma alta de 17% em relação a 2010 – e que o investimento na mitigação e adaptação das mudanças climáticas chegou a US$ 268 bilhões no setor privado e US$ 96 bilhões no setor público em 2011, uma alta de 93% com relação a 2007.
No entanto, o relatório sugere que o que está sendo feito é pouco, e que ainda há muito investimento sendo feito em tecnologias e projetos poluentes e ineficientes. “Ainda há dinheiro do setor privado indo para a destruição climática”, lamentou Jake Schmidt, diretor internacional de políticas climáticas do Conselho Nacional de Defesa dos Recursos de Washington.
O documento mostra que, se uma pequena parcela dos investimentos vier do setor público, isso estimulará o setor privado a investir uma quantia muito maior. “Há muitos casos de sucesso no qual os governos orientam estrategicamente seus fundos públicos para mobilizar somas significativas de investimento privado para infraestrutura verde. É hora de ampliar essas soluções”, observou Thomas Kerr, diretor de Iniciativas de Mudanças Climáticas do Fem.
Por exemplo, o texto aponta que, se os atuais US$ 90 bilhões em gastos públicos globais contra as mudanças climáticas fossem aumentados em US$ 36 bilhões, chegando a US$ 126 bilhões, eles poderiam levar a um investimento privado de até US$ 570 bilhões anuais.
Além dos relatórios apresentados pelo Fem, documentos anteriores lançados por outros órgãos também estão sendo discutidos, como um texto do Pnuma que afirma que o planeta está a caminho de um aquecimento de 4ºC até 2100.
Outros assuntos, como a resposta do setor de seguros às mudanças climáticas, a segurança alimentar, e a necessidade de se investir em energias limpas para controlar o aquecimento global, também estão sendo abordados.
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FONTE : * Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
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