Agência Internacional de Energia afirma que uma parte muito pequena do financiamento climático vai para projetos de eficiência energética, principalmente nos países mais pobres, e recomenda mais investimento no setor
A Agência Internacional de Energia (AIE) publicou no último mês um relatório que analisa o papel dos fundos climáticos no financiamento de projetos de eficiência energética em países em desenvolvimento, bem como as possibilidades de direcionar recursos para esse setor.
A avaliação do Plugging the Energy Efficiency Gap with Climate Finance (algo como Ligando a Lacuna em Eficiência Energética ao Financiamento Climático) é de que uma quantia muito pequena dos US$ 343 a 385 bilhões arrecadados anualmente para financiamento climático é destinada para projetos de eficiência energética. Para se ter uma ideia, no caso do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), apenas 1% da verba direcionada ao programa é repassada para esse setor.
Por isso, o documento pede que mais financiamento seja reservado para esse fim, principalmente nos países mais pobres, onde o investimento no setor é ainda menor do que nas nações emergentes, como China e Brasil. Isso porque os países mais pobres têm outras prioridades de investimento, como água, saneamento básico e acesso à energia.
E apesar de o investimento em energias renováveis ser visto como um meio mais eficaz de melhorar esse acesso, o aprimoramento da eficiência energética também poderia oferecer oportunidades nesse sentido, diz o relatório.
Ainda segundo o documento, melhorando a eficiência energética, a demanda de energia e as emissões de gases do efeito estufa (GEEs) poderiam diminuir, além de criar outros benefícios como melhoria da qualidade do ar, da competitividade econômica e da segurança energética.
Com uma eficiência energética mais aprimorada, também é possível melhorar os serviços que dependem dela, mesmo com fontes de energia limitadas. Prova disso são os dados do World Outlook Energy 450 ppm Scenario da AIE, que indicam que 71% do potencial de redução de emissões para 2020 provém de medidas de eficiência energética.
Em 2035, esse potencial seria menor, mas ainda significativo: 44%. No entanto, para que isso possa acontecer, os investimentos em eficiência energética teriam que ser da ordem de US$ 9,9 trilhões nesse período (2020-2035).
Além disso, precisariam ser flexibilizados critérios para a elegibilidade de projetos em eficiência energética, financiados programas e políticas para desenvolvimento, e dedicados parte dos fundos para novos projetos.
Outra sugestão do relatório é a criação de um novo mecanismo de mercado de carbono, que poderia ir além do MDL para permitir financiamento direto em apoio a políticas nacionais, e que o Fundo Climático Verde (GCF, em inglês) seja desenvolvido para apoiar medidas de eficiência energética com cobenefícios para a mitigação das mudanças climáticas e desenvolvimento das economias nacionais.
Ações
Um exemplo de país em desenvolvimento que já está investindo em eficiência energética é a China, cujo Instituto de Política Climática (CPI) estima que durante 11º Plano Quinquenal (2006-2010) US$ 142 bilhões tenham sido destinados no país para melhorar a eficiência energética.
A África do Sul também é bom exemplo de país emergente que está mobilizando investimentos em eficiência energética. Em 2011, o governo sul-africano adotou um programa voluntário de economia de energia para os 24 maiores usuários do país, estabelecendo uma redução de 15% na demanda até 2015, e 12% de redução na intensidade energética para o mesmo período.
De acordo com o relatório, entretanto, para que esse investimento ocorra em todos os países, sobretudo nos mais pobres, muitas barreiras que limitam o financiamento a projetos de eficiência energética têm que ser quebradas, como mercados de capital e cadeias de suprimentos fracos e imaturos, preços de energia muito baixos, falta de informação e conscientização, custos de transação altos, capacidade de governança inadequada, falta de consenso sobre boas práticas e fragilidade institucional.
Por fim, o documento afirma que a eficiência energética deveria ser uma prioridade para o financiamento climático, em especial para o GCF, contribuindo para o desenvolvimento sustentável com custos relativamente baixos. E embora as economias emergentes estejam investindo cerca de US$ 44 bilhões anuais no setor, os países mais pobres ainda precisam priorizar o assunto.
“O GCF é uma oportunidade para desenvolver novas fontes de financiamento para medidas de eficiência energética em países em desenvolvimento sob o sistema da UNFCCC. As escolhas certas podem fazer do GCF um instrumento para superar algumas das barreiras de investimento [...] e para ter um papel valioso em coordenar o financiamento público internacional de eficiência energética. Algumas lições aprendidas das experiências do MDL […] em países em desenvolvimento podem ajudar a garantir que estes projetos sejam elegíveis e atrativos para o financiamento do GCF”, concluiu.
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FONTE : * Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
A Agência Internacional de Energia (AIE) publicou no último mês um relatório que analisa o papel dos fundos climáticos no financiamento de projetos de eficiência energética em países em desenvolvimento, bem como as possibilidades de direcionar recursos para esse setor.
A avaliação do Plugging the Energy Efficiency Gap with Climate Finance (algo como Ligando a Lacuna em Eficiência Energética ao Financiamento Climático) é de que uma quantia muito pequena dos US$ 343 a 385 bilhões arrecadados anualmente para financiamento climático é destinada para projetos de eficiência energética. Para se ter uma ideia, no caso do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), apenas 1% da verba direcionada ao programa é repassada para esse setor.
Por isso, o documento pede que mais financiamento seja reservado para esse fim, principalmente nos países mais pobres, onde o investimento no setor é ainda menor do que nas nações emergentes, como China e Brasil. Isso porque os países mais pobres têm outras prioridades de investimento, como água, saneamento básico e acesso à energia.
E apesar de o investimento em energias renováveis ser visto como um meio mais eficaz de melhorar esse acesso, o aprimoramento da eficiência energética também poderia oferecer oportunidades nesse sentido, diz o relatório.
Ainda segundo o documento, melhorando a eficiência energética, a demanda de energia e as emissões de gases do efeito estufa (GEEs) poderiam diminuir, além de criar outros benefícios como melhoria da qualidade do ar, da competitividade econômica e da segurança energética.
Com uma eficiência energética mais aprimorada, também é possível melhorar os serviços que dependem dela, mesmo com fontes de energia limitadas. Prova disso são os dados do World Outlook Energy 450 ppm Scenario da AIE, que indicam que 71% do potencial de redução de emissões para 2020 provém de medidas de eficiência energética.
Em 2035, esse potencial seria menor, mas ainda significativo: 44%. No entanto, para que isso possa acontecer, os investimentos em eficiência energética teriam que ser da ordem de US$ 9,9 trilhões nesse período (2020-2035).
Além disso, precisariam ser flexibilizados critérios para a elegibilidade de projetos em eficiência energética, financiados programas e políticas para desenvolvimento, e dedicados parte dos fundos para novos projetos.
Outra sugestão do relatório é a criação de um novo mecanismo de mercado de carbono, que poderia ir além do MDL para permitir financiamento direto em apoio a políticas nacionais, e que o Fundo Climático Verde (GCF, em inglês) seja desenvolvido para apoiar medidas de eficiência energética com cobenefícios para a mitigação das mudanças climáticas e desenvolvimento das economias nacionais.
Ações
Um exemplo de país em desenvolvimento que já está investindo em eficiência energética é a China, cujo Instituto de Política Climática (CPI) estima que durante 11º Plano Quinquenal (2006-2010) US$ 142 bilhões tenham sido destinados no país para melhorar a eficiência energética.
A África do Sul também é bom exemplo de país emergente que está mobilizando investimentos em eficiência energética. Em 2011, o governo sul-africano adotou um programa voluntário de economia de energia para os 24 maiores usuários do país, estabelecendo uma redução de 15% na demanda até 2015, e 12% de redução na intensidade energética para o mesmo período.
De acordo com o relatório, entretanto, para que esse investimento ocorra em todos os países, sobretudo nos mais pobres, muitas barreiras que limitam o financiamento a projetos de eficiência energética têm que ser quebradas, como mercados de capital e cadeias de suprimentos fracos e imaturos, preços de energia muito baixos, falta de informação e conscientização, custos de transação altos, capacidade de governança inadequada, falta de consenso sobre boas práticas e fragilidade institucional.
Por fim, o documento afirma que a eficiência energética deveria ser uma prioridade para o financiamento climático, em especial para o GCF, contribuindo para o desenvolvimento sustentável com custos relativamente baixos. E embora as economias emergentes estejam investindo cerca de US$ 44 bilhões anuais no setor, os países mais pobres ainda precisam priorizar o assunto.
“O GCF é uma oportunidade para desenvolver novas fontes de financiamento para medidas de eficiência energética em países em desenvolvimento sob o sistema da UNFCCC. As escolhas certas podem fazer do GCF um instrumento para superar algumas das barreiras de investimento [...] e para ter um papel valioso em coordenar o financiamento público internacional de eficiência energética. Algumas lições aprendidas das experiências do MDL […] em países em desenvolvimento podem ajudar a garantir que estes projetos sejam elegíveis e atrativos para o financiamento do GCF”, concluiu.
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FONTE : * Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
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