Tanzania A “coluna ecológica” da Tanzânia está secando
O Rio Gran Ruaha, na Tanzânia, há três meses está completamente seco. Foto: Thomas Kruchem/IPS

Dar es Salaam, Tanzânia, 15/1/2013 – Avelina Elias Mkenda, uma agricultora de 52 anos do distrito de Mbarali, na região tanzaniana de Mbeya, percebe uma mudança em seu entorno. Residente na bacia do Rio Gran Ruaha, nunca teve problemas para irrigar seus cultivos e dar de beber aos seus animais. Contudo, nos últimos anos, o rio fornece cada vez menos água. As pastagens antes exuberantes agora são escassas, deixando o gado faminto, enquanto a produção de café, principal cultivo da região, desmoronou.
Conhecido como “coluna ecológica” da Tanzânia, o Gran Ruaha tem origem nas montanhas de Kipengere e se estende ao longo de 84 mil quilômetros, fluindo através dos pântanos do Vale de Usangu e do Parque Nacional Ruaha, para desembocar no Rio Rufiji. A área de captação de sua bacia irriga enorme extensão da área rural do país. Cerca de um milhão de pequenos agricultores produzem uma porção significativa dos alimentos nacionais sobre os verdes solos da bacia do Ruaha, que também fornece 70% da energia hidrelétrica da Tanzânia, segundo fontes do governo.
Porém, funcionários do Escritório da Bacia Hídrica do Rufiji, que administra a bacia do Ruaha, junto com acadêmicos da Universidade Sokoine de Agricultura, alertam que o rio está sob uma enorme pressão. “O rio permanece seco durante prolongados períodos de três meses, que antes eram de três semanas”, disse à IPS o economista agrícola Damian Gabagambi, integrante desse órgão. Segundo ele, a crise se deve amplamente a que cada vez mais agricultores desviam o rio com fins de irrigação.
“Antes de 1993, o rio nunca secava”, disse à IPS o professor Andrew Temu, da Sokoine, acrescentando que os períodos secos de três meses começaram em 1999. Nesse período, os habitantes da bacia passaram de três milhões para seis milhões. “Ao aumentar a população, aumenta a demanda de água”, explicou. O pastoreio intensivo e o desmatamento também contribuíram para a crise. Gabagambi acrescentou que, além disto, falta uma adequada infraestrutura para a irrigação, o que significa que boa parte da água é desperdiçada.
David Muginya, funcionário de desenvolvimento comunitário do Escritório da Bacia Hídrica do Rufiji, disse à IPS que projetos agrícolas, tanto de grandes como de pequenos produtores, não conseguem cumprir a Lei de Manejo de Recursos Hídricos de 2009, que obriga todos os usuários a contar com infraestrutura apropriada para evitar perdas.
Um estudo da Universidade de Dar es Salaam, divulgado em julho de 2012, intitulado A vulnerabilidade dos meios de sustento da população à disponibilidade de recursos hídricos em áreas semiáridas da Tanzânia, concluiu que o desperdício de água também faz com que um milhão de pessoas que dependem do Gran Ruaha sejam mais vulneráveis a uma severa escassez de água.
“A situação coloca em perigo as vidas de milhões de pessoas no sul e centro da Tanzânia, que estão em risco de ficarem mais pobres se o meio ambiente for dilapidado”, alertou Gabagambi. Vários especialistas acreditam que o impacto sobre a agricultura e a produção alimentar irá muito além da bacia, afetando uma grande parte dos 46 milhões de habitantes da Tanzânia.
Funcionários do Escritório da Bacia Hídrica do Rufiji mostram preocupação pelo futuro do fornecimento hidrelétrico do país. Os grandes agricultores da região, que dizem ter planos de construir uma adequada infraestrutura de irrigação, denunciam que os que produzem em menor escala têm acesso ilegal a canais de água e deveriam pagar por isso. O diretor-gerente da Companhia Açucareira Kilombero Limitada, Don Carter Brown, disse à IPS que os pequenos agricultores “pressionam os recursos hídricos porque todos cultivam e extraem água ilegalmente sem pagar por este uso”.
Entretanto, pequenos produtores como Mkenda, do distrito de Mbarali, dizem não ter opção. Com os mutantes padrões meteorológicos, sol mais forte e agora escassez de água no rio, seus cafezais são afetados, causando uma renda menor. “Não temos dinheiro para instalar” infraestrutura de irrigação, lamentou. Ironicamente, são estes pequenos produtores que serão mais prejudicados pela escassez de água, enquanto se esforçam para ganhar a vida junto a um rio agonizante.
Outros especialistas, como Bariki Kaale, especialista em meio ambiente e energia do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), culpou pelo problema “a destruição das fontes hídricas pela humanidade”. Afirmou que a bacia do Ruaha tinha abundância de água até que foram cortadas todas as árvores. Sua opinião é apoiada pelas conclusões de um informe apresentado pelo capítulo tanzaniano do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) sobre as causas da perda de biodiversidade na área de captação do Ruaha.
O estudo afirma que os moradores do distrito de Makete “acreditam que as plantações de árvores (especialmente várias espécies de ciprestes e eucaliptos) estão associadas à degradação ambiental nesta área. Devido ao excessivo corte de árvores para obter madeira, algumas das áreas foram limpas e expostas a agentes que causam erosão”, o que também contribuiu “para um desmatamento generalizado na área, que causa erosão do solo e sedimentação nos rios”. “Agora, não há água para obter energia hidrelétrica e no futuro próximo não haverá para beber”, alertou o especialista do Pnud.

****************************************

FONTE : Envolverde/IPS