Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente lança, em Brasília, avaliação de desempenho ambiental da Copa do Mundo de 2010 e faz recomendações ao Brasil e à FIFA para os próximos megaeventos esportivos.
Brasília – Ao passo que o Brasil se prepara para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, o Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA) lançou, nessa terça-feira (9), um relatório sobre o desempenho ambiental da Copa do Mundo da África do Sul, que destaca os casos de sucessos e as lições que devem ser aprendidas para garantir a sustentabilidade dos eventos esportivos no Brasil.
A avaliação independente mostrou que a pegada de carbono da Copa do Mundo de 2010 foi muito menor do que o previsto, devido ao número de visitantes – que foi menor do que o esperado –, aos esquemas de carona e às alternativas eficientes de estadia, o que cortou o uso de energia em 30%. O uso de tecnologia solar e de outras formas de energia renovável também contribuiu para o resultado.
A pegada de carbono foi de 1,65 milhão de toneladas de CO2eq., que pode ser comparada à projeção de 2,64 milhões de toneladas.
O PNUMA trabalhou com o governo sul-africano no projeto “Gol Verde 2010” (Green Goal 2010) para promover iniciativas como o corte da pegada de carbono, redução do uso de água, menor produção de resíduos e conservação da biodiversidade. Tais iniciativas devem ser levadas para o próximo nível no Brasil, com o objetivo de criar eventos cada vez mais verdes.
Ao mesmo tempo em que esse estudo – financiado pelo Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF) – identifica muitas iniciativas bem sucedidas, também mostra uma certa falta de foco ao se tratar de considerações ambientais na fase de planejamento da Copa do Mundo, sendo um dos motivos para esse potencial não ter sido explorado ao máximo.
“O relatório aponta muitas iniciativas exemplares, mas talvez a descoberta mais importante é que a África do Sul poderia ter obtido conquistas maiores se as medidas de sustentabilidade tivessem sido pensadas mais cedo e não no último momento”, disse o Subsecretário-Geral da ONU e Diretor Executivo do PNUMA, Achim Steiner. “Assim, o estudo mostra que a realização do pleno potencial de esverdeamento desses torneios se torna mais possível se a sustentabilidade é levada em conta desde o início, durante o planejamento, elaboração do projeto e construção”.
Apesar de algumas dificuldades na compilação de dados suficientes para avaliar completamente o desempenho verde do torneio, o relatório destacou muitos exemplos concretos de sucesso, incluindo os seguintes:
O estádio Moses Mabhida, em Durban, incorporou iluminação inteligente em eficiência energética como parte do seu Sistema de Gestão de Edifícios para reduzir o uso de energia em 30%, enquanto o Estádio Green Point, na Cidade do Cabo, utilizou também sistemas de ventilação natural para reduzir o consumo de energia.
A Cidade do Cabo aperfeiçoou a iluminação das ruas com lâmpadas de baixo consumo e semáforos de LED para cortar o seu perfil de emissões.
Durban compensou a sua pegada de carbono com sequestro de carbono — com o plantio de 104 mil árvores — e implementou outras medidas previamente planejadas, tais como energia de hidrelétricas e sistemas de biogás.
Foram construídos 94 quilômetros de rede de Bus Rapid Transit (BRT) em Joanesburgo, além de outras redes semelhantes, ciclovias, sistemas de transporte coletivo e passarelas na baía Nelson Mandela, Nelspruit, Polokwane, Rustemburgo e Bloemfontein. Todas essas medidas contribuíram para reduzir a pegada de carbono do evento.
* O estádio Moses Mabhida – que usou medição de água e aproveitamento de águas pluviais em uma instalação de armazenamento subterrâneo a 700m2 – reduziu o consumo de água potável em 74%, enquanto o Estádio Green Point atingiu sua meta com um corte de 10%.
* Sistemas de despejo de lixo foram usados na maioria das áreas de maior público, que em Durban levaram à reciclagem de quase 200 toneladas de resíduos gerados durante as partidas – batendo a meta verde de Durban em 4%.
* 95% dos resíduos de demolição do antigo estádio foram recuperados e reutilizados na construção do Estádio Green Point, na Cidade do Cabo. Em Moses Mabhida, 400 toneladas de aço e 400 toneladas de tijolos, mastros, reatores, solo arável e assentos foram resgatados para uso no novo estádio e em outros projetos.
* O torneio apoiou o Ano Internacional da Biodiversidade, com um parque criado na Cidade do Cabo e um programa ecológico, incluindo a remoção de espécies exóticas da vegetação e a reabilitação das zonas úmidas em Nelspruit. Programas de conscientização foram realizados em escolas de Joanesburgo.
Além disso, o PNUMA uniu-se à PUMA e às estrelas do time de futebol dos Camarões, incluindo Samuel Eto’o, para o lançamento da campanha “Jogo pela Vida” (Play for Life) pela biodiversidade da África.
Com base em suas descobertas, o relatório chegou a importantes conclusões para a África do Sul que poderiam ajudar a garantir um legado ambiental duradouro nas Copas do Mundo futuras, incluindo:
* Os principais casos de sucesso foram em eficiência energética, energia renovável e transporte público, os quais devem ser repetidos.
* Os projetos-piloto de energia renovável devem ser implementados o mais rápido possível, junto com a plena implementação de uma política nacional de energia, para ajudar a orientar a África do Sul a um novo caminho que diminua a sua dependência do carvão.
* O sistema de transporte foi melhorado e é considerado um dos principais legados do evento, embora esforços sejam necessários para expandir a rede, garantir veículos adequados para rodovias e melhorar a eficiência dos transportes públicos.
* Mesmo com esforços significantes para minimizar a produção de resíduos, nem todas as cidades-sede e estádios foram capazes de implementar programas adequados de separação de resíduos e não fecharam contratos com empresas para fazer reciclagem ao invés de despejar o lixo em aterros. Uma política coerente e abrangente teria evitado problemas, e a implementação de tal política poderia significar um outro legado vital.
* Cidades-sede e estádios mostraram iniciativas positivas para a conservação da água, provando o grande valor da medição da água e da necessidade de expansão de tais sistemas.
De olho em projetos esportivos futuros, o PNUMA assinou um acordo com o Governo brasileiro para ajudar a tornar verdes os dois grandes eventos esportivos que o Brasil sediará nos próximos quatro anos, continuando o trabalho que o PNUMA tem feito em Jogos Olímpicos desde 2004.
O relatório também fez uma série de recomendações para melhorar o aspecto ambiental dos futuros eventos esportivos de grande porte, como a Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Algumas das principais conclusões e recomendações são:
* Devido ao fato de a omissão de considerações ambientais ser uma das 17 garantias da FIFA para sediar a Copa do Mundo FIFA™, o esforço investido em gestão ambiental não é suficiente. Essa questão merece séria consideração por parte da FIFA.
* Diretrizes ambientais, inclusive para as cidades-sede, devem ser claras e legalmente vinculantes. Práticas específicas devem ser inegociáveis, mensuráveis e ter o respaldo da lei.
* A FIFA deve considerar compensar sua própria pegada de carbono e incentivar seus parceiros a fazer o mesmo.
* É essencial um compromisso por escrito e publicamente declarado por todas as partes interessadas na ‘ecologização’ do evento.
* Oportunidades de financiamento de iniciativas ambientais devem ser exploradas mais cedo para evitar situações em que os programas planejados não foram implementados devido à falta de fundos; o comitê organizador deve alocar mais recursos para iniciativas ecológicas.
* Geração de dados ambientais é importante para a avaliação. A ausência de dados ambientais da Copa da África do Sul tornou difícil avaliar o impacto de suas iniciativas.
O relatório também fornece um modelo de uma lista de controle de desempenho ambiental em eventos de grande número de espectadores, que serviria como uma ferramenta simples para a integração de questões de sustentabilidade.
O relatório foi apresentado em Brasília, no dia em que oficiais do PNUMA se reuniram com representantes do Governo brasileiro, da FIFA e do Comitê Olímpico para buscar medidas concretas para tornar ‘verdes’ os dois grandes eventos esportivos.
Sobre o trabalho do PNUMA em Esportes
O papel do PNUMA de prover consultoria ao mundo esportivo se iniciou quando assinou um acordo com o Comitê Olímpico Internacional (COI) em 1994. Além da África do Sul 2010, o PNUMA forneceu consultoria para Atenas 2004, Turim 2006, Pequim 2008 e Vancouver 2010.
A organização também forneceu dezenas de recomendações para o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Inverno Sóchi 2014 para a integração de considerações ambientais na preparação e realização dos Jogo.
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FONTE : * Publicado originalmente no site ONU Brasil.
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