indios2 Governador de MS “zombou” de pedido de terra para os guarani kaiowá, diz Wikileaks
Há algumas semanas o drama dos guarani-kaiowás veio à tona após a divulgação de uma carta em que eles pediam ao governo para decretar sua morte coletiva, já que não demarcavam suas terras. Fotos: Reprodução/Ag. Pública

Visibilizado nas redes sociais nas últimas semanas devido à uma carta em que supostamente ameaçavam um “suicídio coletivo”, o drama dos guarani-kaiowá, etnia indígena do Mato Grosso do Sul, não deve ter um fim tão cedo. Líderes indígenas da etnia, juntamente aos líderes do Ñadeva, foram nessa segunda-feira, 29 de outubro, à Procuradoria-Geral da República solicitar mais segurança e urgência no processo de demarcação de suas terras em Mato Grosso do Sul (MS), de acordo com informações da Agência Brasil.
Além disso, na reunião com a vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat, os indígenas entregaram um documento solicitando o apoio do Ministério Público Federal para garantir melhorias no acesso ao Acampamento Pyelito Kue/Mbarakay, área ocupada pelos indígenas na Fazenda Cambará, em Iguatemi, sul de MS. O documento reafirma que os guanari-kaiowás vão continuar lutando pela sua terra “até o último guerreiro” e relata ainda a ocorrência de mais um suicídio, no sábado, 26, e o estupro de uma índia.
documento1 Governador de MS “zombou” de pedido de terra para os guarani kaiowá, diz Wikileaks
O líder Otoniel Guarani Ñadeva afirmou que a demora na divulgação do relatório confirmando ou não que a área reivindicada pertence à etnia, pela Fundação Nacional do Índio (Funai), contribui para a violência na região. “Nós queremos resolver a questão da demarcação das terras. Queremos que a Funai divulgue o resultado final sobre a demarcação de terras. Aí, sim, acabaria a violência que o nosso povo sofre hoje”, disse.
Deborah Duprat comparou a situação vivenciada pelo guarani-kaiowás à demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, e declarou que este é “um dos vários casos em que a omissão do Estado na demarcação de terras indígenas gera reações dramáticas”. Segundo ela, a reação do setor produtivo mato-grossense geral gera essa omissão estatal. “Há uma resistência que chega a ser quase um racismo institucional. O estado colocando as suas instituições contra os índios”, ressaltou.
documento2 Governador de MS “zombou” de pedido de terra para os guarani kaiowá, diz Wikileaks
Wikileaks
Documentos divulgados pelo Wikileaks nessa terça-feira, 30 de outubro, revelaram que as autoridades locais, de fato, vêem com desdém a possibilidade de demarcação de terra para os guarani-kaiowás, segundo informações da Agência Pública.
comunicado Governador de MS “zombou” de pedido de terra para os guarani kaiowá, diz Wikileaks
Trecho do comunicado que relata que o governador do MS Puccinelli zombou da ideia de que a terra poderia voltar aos indígenas

Um comunicado diplomático, datado de março de 2009, relata uma visita do então cônsul norte-americano no Brasil, Thomas White, ao estado. Sua comitiva conversou com autoridades locais, entre elas, o governador André Puccinelli (PMDB). Segundo o documento, durante os quatro dias de visita, houve reuniões com membros do governo federal e estadual, do setor privado e também com lideranças indígenas.
“O governador Puccinelli zombou da ideia de que a terra, num estado como o Mato Grosso do Sul, cuja principal atividade econômica é a agricultura, poderia seja retirada das mãos dos produtores que cultivam a terra há décadas para devolvê-la aos grupos indígenas”, diz o comunicado.
Além de Puccinelli, entre os entrevistados estavam o então presidente do TJ-MS, Elpidio Helvecio Chaves Martins e o presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul, Sergio Marcolino Longen. O então presidente do Tribunal de Justiça também reclamou de “calúnias” que as autoridades locais sofrem dos ativistas, sendo acusadas de “tortura e racismo”, quando estão simplesmente “tentando cumprir a lei”.
A avaliação dos americanos diante da situação é que as autoridades locais acreditam que as demandas indígenas pelas demarcações e o retorno ao estilo de vida tradicional “não têm base”. “Autoridades municipais e estaduais perguntaram como os índios dali reivindicavam ser índios, se eles ‘usam carros, tênis, drogas’. Eles reclamaram dos subsídios públicos dados aos índios, afirmando que eles deveriam ‘aprender a trabalhar como qualquer um’”, relata o telegrama.

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FONTE : * Publicado originalmente no site EcoD.