
“É uma questão urgente porque o armazenamento de água tem seus limites, há um espaço limitado”, disse o gerente de tratamento de águas Yuichi Okamura, em entrevista exclusiva à agência de notícias AP. Utilizar enormes quantidades de água para esfriar os reatores foi a única forma de evitar uma catástrofe ainda maior, depois que estes foram afetados por um tsunami e um terremoto no dia 11 de março de 2011. Okamura recorda o quanto procurou, desesperadamente, formas de desviar a água para as piscinas de combustível usado, localizadas no andar mais alto da central, que tem 50 metros de altura.
Sem água, o combustível usado provavelmente teria superesquentado e derretido, causando nuvens de fumaça radioativa com alcance de vários quilômetros, e possivelmente afetando milhões de pessoas. Contudo, as medidas tomadas para manter a usina sob controle causaram outra dor de cabeça para a companhia responsável por ela: o que fazer com toda a água radioativada que vazou dos reatores afetados e que foi armazenada em porões da central e em instalações próximas? “Na ocasião não esperávamos que a água altamente contaminada fosse parar na sala de turbinas”, admitiu Okamura.
O funcionário foi encarregado da criação de um sistema de tratamento que limpasse a água para poder ser reutilizada para resfriamento, além de reduzir os riscos para a saúde dos trabalhadores e os danos ambientais. Inicialmente, a empresa desviou a água para tanques de armazenamento já existentes, próximos aos reatores. A equipe de Okamura, de 55 pessoas, trabalhou rapidamente para instalar uma unidade de tratamento em poucos meses, sendo um projeto que normalmente demora dois anos, afirmou. Com esse equipamento, a Tepco pôde fazer circular a água reprocessada novamente nos núcleos dos reatores.
Apesar de estes estarem sendo resfriados hoje exclusivamente com água reciclada, o volume total da água radioativada continua aumentando, sobretudo porque as rachaduras nos reatores e nos porões das salas de turbinas estão contaminando os recursos hídricos subterrâneos. No mês que vem, o grupo de Okamura pretende ativar um novo equipamento purificador usando tecnologia da empresa Toshiba Corp. “Usando o sistema ALPS, teoricamente, todos os produtos radioativos podem ser purificados até ficarem abaixo dos níveis de detecção”, afirmou o funcionário. Mas, enquanto isso, os tanques vão enchendo.
Masashi Goto, engenheiro nuclear e conferencista universitário, alertou que a água contaminada representa uma grande ameaça no longo prazo para a saúde e o meio ambiente. Ele também disse estar especialmente preocupado porque a água radioativa nos porões estaria vazando para o sistema hídrico subterrâneo, por cujos canais poderia chegar muito mais longe e, possivelmente, alcançar o oceano ou a rede pública de fornecimento.
“Há piscinas com cerca de dez mil ou 20 mil toneladas de água contaminada em cada usina, e há muitas dessas. Trasladar tudo isso para um só lugar significaria tratar centenas de milhares de toneladas de água, o que é uma loucura”, ponderou Goto. “É uma quantidade escandalosa, realmente escandalosa”, ressaltou. A usina terá que manejar a água contaminada até que todo o combustível derretido e outros escombros sejam removidos, processo que facilmente levará mais de uma década.
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FONTE : Envolverde/IPS
* Publicado sob acordo com a Al Jazeera.
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