01 de setembro de 2015
(da Redação da ANDA)
No dia 10 de Agosto, na cidade espanhola de Huesca, Francisco Rivera Ordonez permaneceu no centro da arena, vestido em um cintilante “terno de luzes”, da mesma forma como o fez seu pai, há 30 anos atrás.
No entanto, Ordonez e seu pai compartilham mais do que a profissão de matadores. Como o seu pai, Ordonez tem o apelido de “Paquirri”.
E como o seu pai, Ordonez estava prestes a ser chifrado. As informações são do The Star.
Ordonez olhou para o touro de 450 quilos, que tinha sangue escorrendo de suas bandarilhas já embutidas em seus ombros. Com um movimento de pulsos, Ordonez chamou o animal em direção à capa brilhante.
Mas no último segundo, o touro afastou-se da capa e foi direto para o corpo do matador, enterrando o seu chifre de 30 centímetros no abdomen de Ordonez.
Como ocorrera anteriormente, outro Paquirri derramava o seu sangue ao lado do touro.
Enquanto espectadores horrorizados ficavam boquiabertos com a cena, um grupo de homens correu com Ordonez para um hospital. Entre eles, um toureiro de um olho só chamado Juan Jose Padilla – sendo que o seu olho foi lesado igualmente por um “goring” (investida de um touro contra o toureiro resultando em lesão), há quatro anos atrás.
Para os fanáticos por touradas, os ferimentos causados por touros em homens como Ordonez, seu pai ou Padilla são momentos lendários, apesar de sombrios, em uma tradição antiga e encharcada de sangue.
Para os adversários de touradas, no entanto, esta lesão de Ordonez poderá ser igualmente histórica.
Isso porque o “goring” de outro Paquirri está incitando velhas questões sobre o esporte, porém em uma época – e em um país – que tem se posicionado cada vez mais contra a prática de matar touros por prazer.
É “O começo do fim das touradas?”, questionou o jornal El Diario, após o incidente, comentando que duas regiões da Espanha já proibiram o esporte.
Segundo a reportagem, talvez o “goring” de Ordonez tenha despertado emoções tão fortes na Espanha porque aconteceu durante a semana de touradas mais sangrenta da história do país.
Pelo menos oito pessoas morreram enquanto desafiavam touros em arenas só neste verão, taxa muito alta se comparada à de 15 pessoas nos 90 anos entre 1924 e 2014, de acordo com o The Independent.
Nas cidades ao longo da Espanha, os festivais de verão são marcados pelas “corridas de touros”, onde os animais são perseguidos e assediados pelas ruas e atingidos com banderilhas e espadas.
Nos últimos dois meses, touros golpearam homens até a morte nas ruas de Penafiel e Toledo, Lerin e Valencia, Murcia, Castellon e Alicante.
Quatro desses homens morreram nos dias 15 e 16 de Agosto, segundo a BBC.
No mesmo fim de semana, outro toureiro foi ferido. Saul Jimenez Fortes estava performando na pequena cidade de Salamancan (Vitigudino) quando um touro o atingiu debaixo do queixo.
Tanto Fortes quanto Ordonez deverão sobreviver aos seus ferimentos (o pai de Ordonez não teve a mesma sorte, perecendo em 1984 devido à incapacidade dos médicos em tratar as suas feridas).
Mas mesmo que ambos sobrevivam, pode ser que o seu esporte não venha a sobreviver por muito tempo.
Em 2010, a Catalunha tornou-se a segunda província da Espanha a proibir as touradas, depois das Ilhas Canárias. Cerca de 200 mil cidadãos catalães assinaram uma petição demandando a proibição.
Este é um debate que tem se acalorado há décadas, se não mais. Muitos espanhóis consideram as touradas uma tradição que remonta a séculos passados, enquanto outros, contudo, vêem nelas uma barbárie que deveria ter sido deixada na Idade Média.
Ainda que se pense que as touradas estejam morrendo na Espanha, elas ainda estão longe de acabar. No ano passado, mais de 7.200 touros foram mortos em arenas por todo o país, de acordo com o El Diario.
O esporte ganhou popularidade também entre os norte-americanos depois de ter sido exaltado por Ernest Hemingway em seu livro “Death in the Afternoon”. Hemingway argumentou que as touradas tocavam em aspectos essenciais da cultura espanhola, como o “interesse na morte”.
Muitos espanhóis eram interessados no tema da morte, escreveu ele, “e quando eles podem vê-la sendo determinada, evitada, recusada e aceita por um preço nominal em uma tarde, eles pagam esse preço e vão à arena”.
Chamando a tourada de “arte decadente de todas as formas”, Hemingway disse que um matador “deve ter um prazer espiritual no momento em que mata o animal. Matar de maneira limpa e de uma maneira que conceda prazer estético e orgulho tem sido um dos grandes divertimentos de boa parte da raça humana”.
Mas, após oito mortes humanas em um verão, o suposto “interesse na morte” da Espanha está agora sendo testado.
Os últimos “gorings” também reacenderam o criticismo de outros países.
Após o incidente com Fortes, o comediante e ativista de direitos animais britânico Ricky Gervais postou um vídeo no Facebook no qual dizia que torceu para o touro.
“A verdade é que eu prefiro que o touro vença”, disse ele. “Eu prefiro que você não vá Iutar contra um touro, mas se você o fizer – se você escolher torturar um animal até a morte em nome da diversão – eu espero que ele se defenda. Autodefesa não é ofensa”.
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