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quarta-feira, 2 de setembro de 2015

2/9/2015 : Agapan realiza primeiro debate em Guaíba



Entidade ambientalista é convidada a retornar ao município de Guaíba para ampliar debate sobre produção de celulose 



De  frente para a plateia de mais de cem pessoas, Francisco Milanez fala sobre impactos da produção de celulose













Após a realização da edição especial do Agapan Debate, no dia 31 de agosto em Guaíba (RS), no salão da Paróquia Nossa Senhora da Paz, ao lado da empresa Celulose Riograndense (CMPC), a comunidade do bairro Alegria, que sofre em primeiro plano os impactos da fábrica Celulose Riograndense, manifesta o desejo de que a Agapan retorne para ampliar o debate com moradores dos demais bairros da cidade.

O conselheiro e ex-presidente da Agapan, biólogo Francisco Milanez, um dos palestrantes do evento, falou sobre os riscos que o processo de branqueamento de fibras de celulose com a utilização de Cloro representa para os moradores e para o Guaíba. Milanez também alertou para os impactos causados pela grande quantidade de eucaliptos plantados no bioma Pampa. O tema também foi abordado pelo presidente da Agapan, engenheiro agrônomo Dr. Leonardo Melgarejo, que, durante a abertura do Agapan Debate, alertou para o grande consumo de água por parte dos eucaliptos. Melgarejo também falou sobre os perigos para a economia local e para os produtores gaúchos, que ficam reféns da indústria de celulose, que monopoliza o mercado comprador de eucaliptos no RS.

Moradora relata impactos da fábrica
A moradora de Guaíba Cristiane Montemezzo fez um relato sobre os problemas que a comunidade do bairro Alegria vem tendo com a fábrica. Além dos ruídos e do característico odor de ovo podre, a moradora informa que a diretoria da fábrica e a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), após inúmeras reclamações, não demonstram interesse de solucionar os problemas de forma definitiva. No ano de 2015, todos os relatórios mensais emitidos pela própria empresa apresentam inconformidade com os padrões legislados. 



Vídeo gravado por moradores e exibido no evento


Vários moradores que se manifestaram durante o debate, relataram sérios problemas, como dificuldade para dormir em função dos barulhos emitidos, inclusive durante a madrugada, estresse, cansaço excessivo, irritabilidade, entre outros, que afetam, de forma negativa, os seus dia-a-dia. Eles afirmam que se sentem abandonados pelo Estado e oprimidos pela fábrica de propriedade da chilena CMPC. 










Não é daqui (YES EXPORT)

Reprodução de tela
A empresa chilena que se instalou aqui no Rio Grande do Sul utiliza de diversos subterfúgios de marketing para se apresentar integrada à comunidade guaibense e ao estado gaúcho. A iniciar pelo nome, que remete a um estabelecimento de  origem gaúcha - Celulose "Riograndense" -; o patrocínio de artistas renomados do estado, que, em troca, entregam seus prestígios à empresa estrangeira; o grande volume de investimento em propagandas em jornais e patrocínios de eventos, e o financiamento de campanhas políticas. Dos 16 vereadores de Guaíba, cinco receberam doações de dinheiro da empresa para suas campanhas em 2012. No dia 11 de agosto desse ano, a Câmara Municipal de Guaíba apresentou a proposta de uma moção (Proposição 459/2015), subscrita por diversos partidos, manifestando apoio à CMPC por "um trabalho ilibado no quesito ambiental, ecológico e principalmente no social, como, por exemplo, os projetos sociais: Projeto Educação, Fábrical de Gaiteiros... " diz a nota, que segue apresentando o discurso propagandístico já bem difundido pela própria fábrica. 
Esses fatos, entre outros, comprovam o cercamento estratégico que a indústria, de produção altamente impactante e que representa riscos ambientais de grandes magnitudes, faz para maquiar sua aparência danosa para a sociedade gaúcha.

Alerta aos moradores e trabalhadores

Durante o debate, os moradores fizeram questão de deixar bem claro que não são contra os trabalhadores da fábrica e que as reclamações são contra a empresa apenas. A Agapan também alertou para que a população não se deixe enganar pela artimanha da empresa de colocar o seu discurso na boca dos empregados da fábrica e dos trabalhadores terceirizados, que, com medo de perderem seus rendimentos, podem ser facilmente coagidos a se manifestarem em apoio à indústria poluente.
Também foi alertado para que a população não se deixe enganar pela tentativa de reduzir a problemática da questão aos impactos causados no bairro, visto que tão importante quanto esses impactos são os riscos para o Guaíba e para o bioma Pampa, mais difíceis de serem percebidos a tempo de se fazer algo para evitar possíveis catástrofes irreversíveis. 

Presenças e apoios

O evento contou ainda com as participações de representantes da União das Associações de Moradores de Guaíba; da Associação Riograndense de Imprensa; do Instituto de Comunicação Social e Cidadania, que apoiou na documentação; da Câmara de Vereadores e da Associação Amigos do Meio Ambiente, que apoiou, ao lado dos moradores, a Agapan na realização desse primeiro Agapan Debate fora de Porto Alegre.
A mediação do debate foi feita pelo conselheiro da Agapan Eduardo Finardi Rodrigues, um dos advogados da entidade que acompanha o inquérito que corre junto ao Ministério Público e investiga denúncias feitas contra a empresa Celulose Riograndense.

Documentário

A documentação gravada em vídeo será exibida, após a edição, em data e local a serem anunciados em breve pela Agapan. Por solicitação do coordenador do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente do Ministério Público Estadual, promotor Daniel Martini, o material produzido no debate será enviado àquele órgão.

Texto e fotos: Heverton Lacerda/Imprensa Agapan

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