O avanço das queimadas e de incêndios florestais na Amazônia brasileira levou o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) a fazer um alerta nessa quarta-feira (20) aos órgãos responsáveis pelo combate ao fogo. O pesquisador Alberto Setzer, responsável pelo monitoramento de queimadas por satélite no país, disse em entrevista à agência Amazônia Real que a situação é mais crítica no sul do Amazonas e no sudoeste do Pará.
No Estado do Pará, o Inpe registrou um aumento de 320% de focos de queimadas de 1º. de janeiro a 19 de agosto deste ano em relação ao mesmo período do ano de 2013. Os maiores focos de queimadas na região foram identificados nas cidades de Altamira, Itaituba, Novo Progresso, que ficam no sudoeste, e São Félix do Xingu, na região sudeste do Estado.
No Amazonas, os focos de queimadas cresceram 76% entre 1º de janeiro e 19 de agosto de 2014 em relação ao mesmo período do ano passado, diz o Inpe. Só nos primeiros 19 dias de agosto de 2014 o Inpe registrou 1.302 focos no Estado. As queimadas acontecem nas cidades de Apuí, Lábrea, Manicoré, Novo Aripuanã e Humaitá, no sul Amazonas, e nos municípios de Autazes, Careiro da Várzea e Itacoatiara, que ficam na região metropolitana da capital amazonense.
Este ranking de cidades com maior número de focos de queimadas, contudo, é alterado diariamente, conforme o avanço dos incêndios na região. O acompanhamento pode ser feito no site do Inpe sobre monitoramento de focos de queimadas (ou focos de calor).
Poluição em Manaus
Segundo o pesquisador Alberto Setzer, a fumaça das queimadas do sul do Amazonas e do sudoeste do Pará é a responsável pela extensa névoa de poluição de ar estacionada sobre a cidade de Manaus desde as primeiras horas desta quarta-feira (20).
“Toda a cidade está coberta pela fumaça proveniente, sobretudo, de Apuí e das cidades paraenses de Altamira, Itaituba e Novo Progresso. A situação tende a piorar caso não haja medidas efetivas de fiscalização de combate aos focos, o que pode agravar a poluição e a saúde das pessoas”, disse o pesquisador do Inpe.
Alberto Setzer citou três “elementos” por trás desta situação: o clima seco que favorece o uso e propagação do fogo, a ampliação da fronteira agrícola e a fiscalização.
“A gente sabe que tudo isso (queimadas e incêndios) é proibido. Alguns Estados criaram decretos recentes aumentando o rigor, mas a realidade mostra uma situação diferente. São milhares de focos acontecendo. Por trás de todos esses focos, há ação humana, de propósito ou descuido. Nada disso começa sozinho. Mas se a fiscalização for mais intensa, se queima menos”, afirma o pesquisador.
O modelo de monitoramento do Inpe, segundo Alberto Setzer, não aponta as localidades dos municípios onde há maior registro de queimadas. Portanto, não é possível saber com exatidão se as maiores ocorrências são em fazendas, assentamentos ou áreas protegidas (unidades de conservação e terras indígenas).
Mas o Inpe tem um monitoramento específico para unidades de conservação. De acordo com dados do órgão, a unidade de conservação mais afetada por queimadas é a Flona (Floresta Nacional) de Jamaxim, no Pará, com 2.042 focos desde o dia 1º de agosto. No Amazonas, o Parna (Parque Nacional) Campos Amazônicos, no sul do Estado, registrou até o momento 317 focos de queimadas.
Sul do Amazonas
O superintendente do Ibama no Amazonas, Mário Lúcio Reis, disse à Amazônia Real que, em Manicoré, os maiores focos de queimadas foram identificados no distrito de Santo Antônio do Matupi, localizado no KM-180 da BR 230 (Transamazônica). Nesta quarta-feira, foram detectados 500 focos naquela localidade. Mas, segundo Reis, os focos não saíram do controle, devido às ações do PrevFogo, programa de combate a incêndios do Ibama.
Reis afirmou que o período seco, a umidade baixa, a vegetação e o solo seco tornam o “cenário perfeito para proliferação de queimadas”. Ele disse que o Ibama monitora os focos com tendência de se transformar em incêndio florestal, utilizando satélites.
“Nas ações preventivas atuamos com a formação de brigadas nas regiões mais críticas, principalmente no sul do Amazonas, com o intuito de orientar a sociedade, principalmente produtores rurais, para evitar as queimadas e no controle dos focos de calor. Nas ações punitivas, buscamos a identificação de quem faz uso do fogo para provocar queimadas sem autorização a fim de responsabilizá-los”, explicou.
Queimadas urbanas
A reportagem procurou a secretária estadual do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas, Kamila Amaral. Ela afirmou que segundo a “análise técnica” do órgão, a névoa detectada em Manaus pode ser também de “queimadas urbanas na própria capital, além de queimadas em Iranduba e Manacapuru” e que segundo ela, “não são detectadas pelo satélite do Inpe”.
Kamilla reiterou dados do Inpe, dizendo que os focos de queimadas no Amazonas estão concentrados no sul do Estado e atribuiu o agravamento à estação seca e direção do vento, além de atividades antrópicas (ação humana).
“Nossa preocupação está dedicada a antecipar as concentrações de foco, alertar possíveis aumentos e monitorar, mesmo o nosso Estado se mantendo abaixo no ranking dos demais da Amazônia Brasileira, pois trabalhamos com a prevenção de grandes ocorrências. Corpo de bombeiros e Batalhão Ambiental já estão em alerta e agindo nas áreas de maior foco, além dos nossos brigadistas em unidades de conservação”, disse.
De acordo com informações da assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), os focos de queimadas ocorridos em Manaus não são responsáveis pelo nevoeiro na cidade nos últimos dois dias. A Semmas atribuiu a névoa às queimadas no sul do Estado.
Segundo dados da Semmas, de janeiro a julho de 2014, foram registradas 161 denúncias de focos de queimadas em Manaus, sendo a maioria de pequenas queimas de resíduos domésticos e folhas em quintais. Embora seja uma prática passível de multa, a Semmas prefere orientar a população. . A assessoria não informou os números de denúncias de julho e agosto.
O Corpo de Bombeiros registrou de janeiro até o dia 10 de agosto de 2014, 47 focos de queimadas em vegetação urbana de Manaus, número abaixo de 2013, quando foram registrados 97 focos. Em agosto, as maiores ocorrências foram registradas na zona centro-sul, com 16 focos até o dia 10. Os dados mais atualizados sobre a capital serão divulgados somente em fevereiro.
Desmatamento
Boletim divulgado no último dia 14 pelo o Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), ong com sede em Belém (PA), informou que foram detectados 355 quilômetros quadrados de desmatamento na Amazônia Legal no mês de julho deste ano. Esse número representa um crescimento de 134% em relação ao mesmo período de2013.
Em julho de 2014, a maioria (57%) do desmatamento ocorreu no Pará, seguido pelo Acre (21%), Amazonas (10%), Mato Grosso (9%), Amapá (1%), Rondônia (1%) e Roraima (1%).
Considerando o período de agosto de 2013 a julho de 2014, o Pará lidera o ranking, com 42% do total desmatado. Em seguida aparece o Mato Grosso, com 20% e Amazonas, com 15%.
Em termos relativos, houve aumento de 781% no Acre e 241% em Roraima. Houve redução no Mato Grosso (34%) e Tocantins (6%).
Em termos absolutos, o Pará lidera o ranking do desmatamento acumulado, com 852 quilômetros quadrados, seguido pelo Mato Grosso (411 quilômetros quadrados) e Amazonas (309 quilômetros quadrados).
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* Publicado originalmente no site Amazônia Real.
(Amazônia Real)
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