Malkangiri, Índia, 25/8/2014 – Os bondas montanheses pertencem a um dos povos mais antigos da Índia, cujos costumes permanecem quase intactos há cerca de mil anos. Esses indígenas residem em 31 aldeias dispersas pelo distrito de Malkangiri, no Estado de Odisha, a uma altitude entre 1.500 e quatro mil metros.
A comunidade de aproximadamente sete mil pessoas, que resiste a manter contato com o mundo exterior e é totalmente cética em relação ao desenvolvimento, atravessa dificuldades para manter seu estilo de vida e para manter as gerações mais jovens, cada vez mais frustradas com a pobreza e a violência interna. Cerca de 90% dos bondas vivem com menos de US$ 1 por dia.
Entre 2001 e 2010, a população cresceu somente 7,65%, segundo estudos realizados pelo Instituto de Capacitação e Pesquisa de Castas e Tribos Desfavorecidas (SCSTRTI), vinculado ao governo de Odisha. Em uma choça de barro sem janelas em Bonda Ghati, uma região montanhosa escarpada no sudoeste de Odisha, Saniya Kirsani fala forte e em tom embriagado sobre seus planos para o terreno cujo título de propriedade possui há pouco tempo.
Este homem, de 50 anos, sonha plantar mangas em sua aldeia natal de Tulagurum para produzir o licor dessa fruta que o mantém intoxicado. Já sua mulher, Hadi Kirsani, tem planos mais realistas. Para ela o mais importante é que, com o título de propriedade, poderá mandar novamente à escola seu filho Buda Kirsani, de 14 anos. Ele precisou deixar os estudos em 2013 porque a escola secundária mais perto era inacessível para sua família. Além do fato de que teria de caminhar 12 quilômetros todos os dias na escarpada montanha, precisava de um título de propriedade para certificar sua situação.
A família Kirsani ficou fora das reformas de 2012, feitas no contexto da Lei de Direitos Florestais, pela qual foram entregues 1.248 títulos de propriedade a famílias bondas. A iniciativa não cobriu as outras 532 famílias. Finalmente, em outubro do ano passado, com ajuda da organização Landesa, a família de Buda conseguiu o ansiado documento do governo estadual.
Enquanto guarda com cuidado as duas mudas de roupa de Buda em uma sacola, Hadi mal pode conter as lágrimas quando conta à IPS que seu filho é um dos 31 garotos das 44 famílias da aldeia que pela primeira vez poderão cursar seus estudos secundários. Apenas 12% dos homens e 6% das mulheres bondas montanheses sabem ler e escrever, segundo estudo da SCSTRTI de 2010, bem abaixo da média nacional da Índia, de 74% e 65%, respectivamente. Este povo de caçadores e coletores fala o remo, dialeto que não tem escrita.
Várias gerações viveram graças aos produtos que a selva oferecia e ao que obtinham mediante troca de milho, brotos de bambu, cogumelos, inhame, frutas, bagas e espinafre silvestre no mercado local. Mas o avanço do desmatamento degradou suas terras e os cursos de água que usavam para irrigação. Além disso, a irregularidade das chuvas na última década prejudicou suas colheitas, mais a proibição de recorrer ao cultivo de roças, acabaram com o sustento que praticaram com êxito por centenas de anos.
Desde 1976, quando foi criada a Agência para o Desenvolvimento dos Bondas, há iniciativas para integrá-los à sociedade. “O título de propriedade permite que se mantenham e dá mais possibilidades a eles, já que sua economia se concentra em seu terreno e na selva”, pontuou a Comissão Nacional para as Tribos Desfavorecidas, com uma função de assessoria em políticas indígenas.
“Quando estiver completo o ‘programa cinco mil albergues’ oferecerá a meio milhão de crianças educação e uma forma de integração”, declarou à IPS o ministro de Desenvolvimento Tribal, Lal Bihari Himirika.
Os 9,6 milhões de indígenas que vivem em Odisha representam um quarto da população total do Estado. Entre todas as tribos, como são chamados na Índia os povos originários, os bondas montanheses preocupam especialmente o governo, que os considera um Grupo Tribal Particularmente Vulnerável por sua alta taxa de analfabetismo, pela queda de população e por suas práticas agrícolas.
O ativista Dambaru Sisa, de 34 anos, foi o primeiro bonda montanhês a ocupar uma cadeira na legislatura estadual. Criança órfã e educada em uma escola cristã missionária de Malkangiri, conseguiu cursar dois mestrados, em matemática e direito. “Nossa identidade cultural, em especial o dialeto remo, deve ser preservada”, afirmou à IPS. Ao mesmo tempo, “com maior consciência se poderá erradicar os costumes e as superstições que prejudicam nossa gente”, acrescentou.
Como exemplo, citou o casamento de mulheres com homens até dez anos mais jovens. Como elas costumam cuidar das tarefas domésticas e eles se dedicam à caça e à coleta, recebem habitualmente treinamento com armas e no uso do arco. Isto, somado ao temperamento irascível dos homens, ao grande consumo de álcool e à ferocidade com que protegem suas mulheres, faz com que muitas vezes os enfrentamentos acabem mal.
Mas, apesar da urgente necessidade de integração, esta não será suficiente, segundo especialistas. “As crianças bondas irem à escola secundária é apenas meia batalha ganha”, destacou Sisa. “A lista de estudantes matriculados é longa, mas, na realidade, muitos não estão nos albergues. Alguns fugiram para trabalhar em restaurantes da estrada ou voltaram para suas casas”, afirmou.
O problema é que não são ensinados em sua língua materna, têm de aprender o odia, o principal dialeto, mas não o entendem, explicou Sisa. A alternativa das autoridades foi mostrar disposição de contratar professores bondas. Mas ainda há muito por fazer para proteger esta tribo. Envolverde/IPS
(IPS)
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