Até 2050, os danos de enchentes nas cidades costeiras devem atingir US$ 1 trilhão por ano, à medida que os níveis dos mares aumentam e o aquecimento global provoca novos extremos de calor, tempestades e chuvas. E mais de 40% desses custos devem recair sobre apenas quatro cidades – Nova Orleans, Miami e Nova York, nos EUA, e Guangzhou, na China.
Stephane Hallegatte, do Banco Mundial em Washington, e seus colegas observaram os riscos de futuras perdas de enchentes nas 136 maiores cidades litorâneas do mundo. Qualquer cidade costeira sempre sofre algum risco – por definição, está ao nível do mar, e muitas vezes em um estuário ou planície de inundação, e muito frequentemente começou como um porto.
Mas os riscos aumentam à medida que o ambiente muda: algumas cidades litorâneas estão diminuindo; os níveis do mar estão subindo lenta mas certamente à medida que os oceanos esquentam e as geleiras derretem; e por duas décadas pesquisadores alertaram repetidamente que o que costumavam ser eventos “extremos”, tais como enchentes que ocorriam uma vez no século, provavelmente chegarão muito mais frequentemente do que uma vez a cada cem anos.
Mais risco
Mas Hallegattee seus colegas destacam no Nature Climate Change que há outro fator: as populações estão crescendo, e mesmo nas nações mais pobres há um desenvolvimento econômico maior. No fundo, para qualquer desastre futuro, haverá mais possíveis vítimas, com mais investimento a perder.
Em 2005, a média global de perdas com inundações foi estimada em US$ 6 bilhões por ano. Esse número deve crescer para US$ 50 bilhões por ano, e, a menos que as cidades coloquem dinheiro em melhores defesas para enchentes, as perdas podem passar a marca de US$ 1 trilhão.
Para fazer esses cálculos, os autores combinaram as perdas médias anuais (e em uma cidade como New Orleans, em que muitas partes já estão abaixo do nível do mar, essa perda é estimada em US$ 600 milhões) com o produto interno bruto da cidade, para fornecer uma medida de quanto deve ser reservado para pagar por tais perdas.
Tanto Nova York quanto Nova Orleans já sofreram inundações catastróficas nesse século, e o perigo de enchentes apenas aumenta.
Algumas cidades – Amsterdã, nos Países Baixos, é um exemplo clássico – estão altamente expostas ao risco de inundações, e a maior enchente do século poderia custar aos holandeses US$ 83 bilhões, mas na verdade os padrões de defesa marítima holandeses são provavelmente os mais altos do mundo. As cidades de Ho Chi Minh, no Vietnã, e Alexandria, no Egito, têm menos a perder, mas em termos relativos ambas são muito mais vulneráveis.
Não é tarde demais
Mas como profissionais de desastres observaram repetidas vezes, governos, autoridades urbanas, investidores e mesmo cidadãos tendem a não ouvir as profecias de desgraça: cientistas e engenheiros descreveram repetidamente o que poderia acontecer a Nova Orleans se fosse atingida por um furacão forte o suficiente, e em 2005, quando o furacão Katrina chegou, os diques cederam, com resultados catastróficos.
Os cientistas alertam que Miami, Nova York e Nova Orleans são especialmente vulneráveis porque sua riqueza é alta, mas os sistemas de proteção são pobres, e os governos deveriam estar preparados para desastres mais devastadores do que qualquer um visto atualmente.
Os autores do trabalho argumentam que, com preparação e adaptação sistemática, as perdas anuais com inundações nas grandes cidades globais poderiam ser cortadas para US$ 63 bilhões por ano.
Projetos de engenharia podem ajudar, mas não serão o suficiente, então as autoridades civis também deveriam estar pensando sobre planejamento de desastres e programas de seguro abrangentes para cobrir futuras perdas.
Já que os riscos são altamente concentrados – qualquer cidade concentra milhões de pessoas e bilhões de dólares em investimento em uma área relativamente pequena – esquemas de redução de enchentes podem ser altamente custo efetivos.
* Traduzido por Jéssica Lipinski.
** Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)
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