Tornou-se difícil para o governo federal justificar a compra de cisternas de polietileno para combater os males da seca no Nordeste. O único argumento em favor dos tanques de plástico, em detrimento daqueles feitos de alvenaria, não resistiu ao teste da realidade.
Ao anunciar a compra de 60 mil reservatórios de polietileno, no final de 2011, o Ministério da Integração Nacional explicou que a decisão se baseava na necessidade de agilizar a instalação.
O programa de cisternas, de fato, vinha sendo um exemplo de ineficiência. Em 2003, o presidente Lula prometeu entregar 1 milhão de tanques no Nordeste até 2006. A meta nem chegou perto de ser atingida. Hoje, contam-se cerca de 450 mil reservatórios instalados.
A solução apresentada pelo ministério, porém, não teve o resultado propalado. O prazo para a produção das 60 mil cisternas de polietileno era julho deste ano, e a instalação deveria estar finalizada em outubro. Contudo, até agora somente 32% dos tanques ficaram prontos, e 21% estão instalados.
Se não há o prometido ganho de velocidade, qual a vantagem dos reservatórios de polietileno? Certamente não é o custo, pois as cisternas de alvenaria têm preço total de R$ 2.200, enquanto as de plástico estão perto de R$ 5.000.
Tampouco é a dinamização da economia da região. Os reservatórios de alvenaria eram construídos com mão de obra local, o que trazia o duplo benefício de injetar recursos e proporcionar aos moradores relativa autonomia.
Para os tanques de plástico, o governo precisa contratar pelo menos uma empresa para produzi-los e outra para cuidar da instalação. Não é necessário muito esforço para imaginar que pode estar nesses contratos milionários a verdadeira razão das cisternas de polietileno.
A conjectura ganha força quando se sabe que a empresa de um doador de campanha de familiar do ministro da Integração, Fernando Bezerra Coelho (PSB), é responsável pela instalação em Pernambuco e que houve um aditivo contratual de R$ 3 milhões.
Nesse cenário, estranha que o governo tenha decidido comprar 60 mil cisternas de plástico adicionais. É lamentável, pois não será com soluções mais caras e com o atraso de sempre que terá fim a penúria no semiárido do Nordeste.
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FONTE : editorial da FOLHA DE SP, 14/agosto/2012.
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