Galli B.; Ikehara P. M.; Magina C. ; Menezes R.; Perez P. F.; Tomazelli A.; Ueno H. Y.; Mascaro, A.R; Lima, R. P.; Costa, C. M.M
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Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo
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Resumo: O presente trabalho apresenta uma alternativa de reutilização de garrafas de poli-tereftalato de etileno (PET) na substituição dos blocos e tijolos da alvenaria tradicional, podendo auxiliar no incremento dos índices de reciclagem desse material e possibilitando a produção de edificações residenciais de baixo custo.
Palavras-chave: Reciclagem, PET, PET em construção civil
INTRODUÇÃO
PET – Poli (Tereftalato de Etileno) – polímero desenvolvido em 1941 pelos ingleses Winfield e Dickson. Seu potencial de aplicação inicial era como fibra, e posteriormente passou a ter grande aceitação no armazenamento de alimentos. Em 1973, a Dupont introduziu o PET na aplicação como garrafas e revolucionou o mercado de embalagens, principalmente o de bebidas carbonatadas [2].
No Brasil, em 2008, foram produzidos 461,7 kton [1] de embalagens de PET e um dos piores problemas originados no descarte de materiais plásticos é o espaço que ocupam nos aterros sanitários, sem contar que é um material de difícil decomposição[2].
No início dos anos 80, EUA e Canadá iniciaram a reciclagem das garrafas PET, utilizando-as como enchimentos de almofadas. Com a melhoria da qualidade do PET reciclado, surgiram aplicações importantes como tecidos, lâminas e embalagens para produtos não alimentícios. No Brasil, segundo o 5º Censo de Reciclagem de PET da ABIPET, a taxa de recuperação desse material iniciou em 1994 com 18,8% e passou em 2008 para 54,8%.
Em geral, a reciclagem do PET pode ocorrer de três diferentes maneiras: (i) Reciclagem Química – onde os componentes das matérias-primas do PET são separados; (ii) Reciclagem Energética – onde o calor da queima do resíduo pode ser aproveitado para a geração de energia elétrica (centrais termelétricas); (iii) Reciclagem Mecânica – onde é realizada a coleta seletiva, a produção de flocos e a reutilização do material para a produção de outros produtos, inclusive embalagens, mas para fins não alimentícios [1].
Nesta última forma de reciclagem estão as tentativas de utilização das garrafas de PET na construção civil, sempre com o intuito de minimizar os custos, criando alternativas para uma construção mais acessível às pessoas de baixa renda, uma vez que 90,7% do déficit habitacional brasileiro, de 7,94 milhões de unidades, são para as famílias que possuem renda de até 3 salários mínimos [3].
Diversos experimentos estão sendo realizados: a Universidade Federal do Pará criou um tijolo à base de cimento e garrafas PET e que se enquadra como blocos de vedação segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, a utilização de garrafas PET para constituir superfícies refletoras para ambientes enclausurados [4][5], e na substituição de blocos convencionais na produção de lajes nervuradas como proposto pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – CE.
Assim, o objetivo deste trabalho é reproduzir, em pequena escala, uma parede como proposta pela professora Ingrid Vaca Diez, na Bolívia, na construção de casas artesanais à base de garrafas PET preenchidas com materiais descartáveis como papel, sacolas plásticas, areia e terra, para populações de baixa renda. Que, segundo o Jornal O Globo, diz ser é possível erguer uma moradia de 50m² com R$ 15 mil, não incluindo a mão de obra.
MATERIAIS E MÉTODOS
Garrafa de Poli-Tereftalato de Etileno (PET): Possui alta resistência mecânica e química, é excelente barreira para gases e odores, e por seu peso ser muito menor que as embalagens tradicionais (vidro), tornou-se o recipiente ideal para as indústrias de bebidas, reduzindo custos de transporte e produção [7].
Resíduos de Construção Civil: de classificação A, segundo a Resolução Conama n. 307/2002, deve ser triturado e utilizado no preenchimento das garrafas para que elas apresentem maior resistência à compressão.
Arame: utilizado para estruturar as garrafas na formação da parede.
Argamassa: mistura de cimento, areia e água, e tem a função unir solidamente as unidades e ajudá-las a resistir os esforços laterais, distribuir uniformemente as cargas atuantes, absorver as deformações naturais e selar as juntas contra a penetração água de chuva [6].
As paredes são moldadas dentro de fôrmas de madeira. As garrafas são preenchidas com areia ou entulho e assentadas em camadas intercaladas com argamassa e os acabamentos de reboco e pintura podem ser realizados logo em seguida.
O entulho utilizado para o preenchimento das garrafas foi triturado com pilão de concreto e peneirado em peneira de comum de obra.
Figura 01 – Esquema de montagem – vista frontal | Figura 02 – Esquema de montagem – vista superior. |
Neste trabalho, a parede utilizada pela professora Ingrid Vaca Diez na construção de casas para a população de baixa renda foi reproduzida em pequena escala (0,154 m²) em uma base de madeira para facilitar o transporte à exposição.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
O protótipo foi desenvolvido com 40 horas de trabalho e foram utilizados os materiais conforme a Tabela 1, assim, o custo com materiais por metro quadrado de parede levantada gira em torno de R$ 32,79 com o acabamento em massa corrida. Sem o acabamento o custo fica em R$ 10,06.
Tabela 1. Quantidades e Valores para Execução da Parede Protótipo (0,154m²)
Item | Descrição | Unid | Quant | R$ Unit | R$ Total |
1 | Areia | kg | 25,00 | 0,05 | 1,25 |
2 | Cimento | kg | 5,00 | 0,06 | 0,30 |
3 | Arame | kg | 0,50 | 0,00 | 0,00 |
4 | Massa corrida industrializada | gl | 0,25 | 14,00 | 3,50 |
5 | Garrafas PET 600ml | un | 24 | 0,00 | 0,00 |
Valor Total | 5,05 |
Assim, para uma construção de uma residência simples com 35,64m²: 2 dormitórios, sala, cozinha e banheiro; onde seriam necessário aproximadamente 90m² de paredes de alvenaria, conforme Figura 11, em sistema tradicional o custo aproximado para execução dessa alvenaria seria de R$ 2.853,00 e no sistema proposto R$ 905,40.
Figura 11 – Planta Padrão de Edificação Residencial: 35,64m²
Fonte: PORTO REAL CASAS PRÉ-FRABRICADAS – Ref.18
Sob o aspecto ambiental, de reutilização de garrafas PET, a parede experimental reutilizou 24 garrafas de 600ml, portanto, para a construção da residência da Figura 11 seriam reutilizadas aproximadamente 14.040 garrafas PET de 600ml.
O volume reutilizado de resíduos de construção civil não foi determinado, uma vez que, a técnica desprendida neste experimento para a trituração e peneiramento do material foi artesanal e sem equipamentos apropriados; mas como a redução volumétrica é visivelmente grande, acreditamos que a redução de disposição final desse tipo de resíduo seria significativa.
Figura 09 – Vista frontal da parede experimental | Figura 10 – Detalhe de disposição das garrafas |
CONCLUSÃO
O projeto demonstrou que a compatibilização do baixo custo, minimização de impactos ambientais e aumento na qualidade de vida das pessoas, é possível: reduzindo cerca de 70% do custo na execução das paredes de uma residência, reduzindo o descarte de embalagens PET e resíduos de construção civil, minimizando a extração de recursos naturais para a produção de tijolos e blocos, criando a oportunidade de inclusão social pela construção da própria casa, criando a oportunidade de qualificação de mão-de-obra para a construção civil, possibilitando maior controle da saúde pública; enfim, melhorando a condição de vida.
Alertamos que para a implantação de projetos sociais utilizando-se esta técnica, seria necessária a avaliação criteriosa dos aspectos culturais da sociedade, pois, na intenção do reaproveitamento das embalagens PET e dos resíduos de construção civil, a sociedade poderia ser estimulada ao aumento do consumo de produtos com esse tipo de embalagem ou de aumentar propositalmente o descarte de resíduos de construção.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] ABIPET. Associação Brasileira da Indústria do PET. 5º Censo da Reciclagem de PET no Brasil. Brasília, 2008. 25p.
[2] FORMIGONI, A. CAMPOS, I.P.A de. Reciclagem de PET no Brasil. UNESP.
[3] BRASIL. MINISTÉRIO DAS CIDADES – MC. Secretaria Nacional de Habitação. Déficit habitacional no Brasil 2006. – Brasília, 2008. 98p.
[4] FANTINELLI, Jane T. A Iluminação Natural Através De Dutos De Sol Em Ambientes Enclausurados. ENCAC-ELACAC. Maceió, 2005.
[5] BROCANELI, Perola. F, STUERMER, Monica. M, Vieira, Jefferson. H. Lâmpadas de Água – Litros Transformados em LUX(Z). São Paulo, 2008.
[6] SABBATINI, F. H. Boletim Técnico: Argamassa de Assentamento para Paredes de Alvenaria Resistente. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1986.
[7] GUELBERT, T. F.; e outros. ENEGEP – XXVII Encontro Nacional de Engenharia de Produção. A Embalagem PET e a Reciclagem: Uma Visão Econômica Sustentável para o Planeta. Foz do Iguaçu, 2007.
[8] CONAMA. Conselho Nacional do Meio Ambiente. RESOLUÇÃO n. 307, de 05 de julho de 2002. Brasília, 2002.
[9] SIURB. Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras. PMSP. Tabela de Custos Unitários. São Paulo, 2010.
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FONTE : EcoDebate, 24/08/2012
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