Há bons e maus momentos para falar sobre aquecimento global. Há alguns anos, dando aula em Harvard com menos 20 graus lá fora, era um mau momento. Agora, com boa parte do planeta passando por uma seca, é um bom momento. Mas estes são só recursos pedagógicos porque o tempo é variável. Não é correto dizer que o clima no planeta está esquentando só porque estamos passando por uma seca desgraçada, mesmo que esteja castigando tantos locais do planeta.
A novidade é que estes eventos climáticos extremos se tornaram tão frequentes que agora sua correlação com o aquecimento global foi reconhecida em um trabalho científico na revista PNAS. Traduzindo o cientifiquês, a pesquisa diz que neste jogo de dados começou a dar tanto cinco e seis que não há como fugir ao fato que há alguma outra influência neste dado. Este junho é 328º mês consecutivo em que a temperatura global está acima da média do século 20, de acordo com a NOAA (Agência Norte-americana para o Oceano e Atmosfera). Veja um infograma interessante sobre todos os eventos climáticos extremos do mês de junho.
A produção de alimento passou por duas grandes mudanças de paradigma (a primeira foi a sedentarização da agricultura e a segunda o advento da posse da terra, que trouxe o aumento de produtividade por área). Entramos agora na terceira grande mudança, com o rareamento dos recursos naturais entrando na equação. Daqui por diante produziremos mais e mais com menos e menos.
Aqui em casa já estamos preparados para o futuro. Pela janela do escritório vejo a irrigação por gotejamento colocando dia e noite gotas contadas de água reutilizada da fossa em nossa plantação de abóboras e tomates. É um alimento de primeira qualidade produzido com água que muita gente joga fora. Aqui, esta água que caiu do céu (é água de chuva estocada) traz os resíduos orgânicos para o solo, produz comida e termina sua vida virando chuva de novo em algum outro lugar.
E não estou sozinho nisto. Agricultores ao redor do mundo começam a retornar às variedades antigas, mais econômicas com água e outros recursos naturais. Já há vendedores de sementes especializados nestas cultivares, que entre tantas outras vantagens são também sementes à moda antiga, ou seja: você pode guardar alguns grãos deste ano para plantar o ano que vem. Estas sementes do passado vão nos ajudar em nosso imprevisível futuro.
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FONTE : Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br), Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor pela Universidade de Harvard, Professor Associado de Recursos Naturais da Universidade Estadual de Londrina, consultor do programa FODEPAL da FAO-ONU, autor dos livros Biologia da Conservação e Histórias Impublicáveis sobre trabalhos acadêmicos e seus autores. Também ajuda escolas do Vale do Paraíba-SP, Brasília-DF, Curitiba e Londrina-PR a transformar lixo de cozinha em adubo orgânico e a coletar água da chuva. É professor visitante da UFPR, PUC-PR, UNEB – Paulo Afonso e Duke – EUA. http://ambienteporinteiro-efraim.blogspot.com/
EcoDebate, 17/08/2012
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