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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Perigo de novos conflitos por causa da mudança climática


Enquanto fenômenos meteorológicos extremos exacerbam a escassez de água e alimentos na Ásia, cresce a preocupação por novos conflitos que a mudança climática pode desatar. Inundações e secas das últimas semanas conferem um clima de urgência à 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, que acontecerá de 7 a 18 de dezembro em Copenhague. O objetivo desta reunião é chegar a um novo acordo obrigatório de redução de emissões contaminantes para suceder o Protocolo de Kyoto, que expira em 2012.

A combinação do aumento de preço dos alimentos, a escassez de água e os problemas de acesso à terra se somam às pressões sociais, disse Mark Rosegrant, diretor do Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares, com sede em Washington. Rosegrant se referia ao fantasma da instabilidade, ao falar na reunião que acontece em Bangcoc, desde segunda-feira até o próximo dia 9, penúltima instância de debate rumo à Copenhague. A última será entre 2 e 6 de novembro em Barcelona. “Será em enfrentamento entre vizinhos”, acrescentou. Na medida em que o meio ambiente deteriora, pode haver uma “deterioração social muito significativa, e também um relaxamento dos vínculos sociais”, acrescentou.

Em uma série de informes sobre clima, energia e migrações apresentada quarta-feira, o Banco Asiático de Desenvolvimento disse que a segurança alimentar se vê ameaçada pela queda dos rendimentos agrícolas em razão de inundações, secas, chuvas fora de época e outros impactos da mudança climática. Os preços dos alimentos podem aumentar drasticamente, mais de 30% no caso do arroz, 50% no do milho e até mesmo 100% no do trigo, nas próximas quatro décadas. A previsão é de que a Ásia meridional seja a mais prejudicada pelas secas. O banco afirmou que a agricultura é especialmente vulnerável à mudança climática.

Na Ásia há cerca de 2,2 bilhões de pessoas que dependem desta atividade para subsistir. “A mudança climática ameaça os sistemas de produção de alimentos e, portanto, o sustento e a segurança alimentar de milhares de milhões de pessoas que dependem da agricultura na região Ásia-Pacífico”, disse a instituição. O informe acrescenta que as atividades agrícolas liberam na atmosfera quantidades significativas de gases causadores do efeito estufa, e que Ásia-Pacífico contribui com 37% das emissões agrícolas mundiais. Somente a China emite mais de 18% do total.

O aumento das temperaturas na Ásia terá um impacto desproporcional nos pobres. As mulheres do campo nos países em desenvolvimento serão as mais afeadas, por dependerem dos cultivos de subsistência. Pelo menos metade da população asiática vive com menos de dois dólares por dia. O Banco Asiático de Desenvolvimento disse que este setor tende a depender da agricultura irrigada com as chuvas e vive em assentamentos muito expostos à mudança climática. A instituição afirmou que o acesso à energia barata também está cada vez mais ameaçado, com brechas na relação oferta-demanda, alta dependência de combustíveis tradicionais, como lenha, e uso intensivo da energia.

Espera-se que as ameaças à agricultura e à energia da Ásia causem importantes deslocamentos humanos. E existem áreas vulneráveis, especialmente em zonas costeiras densamente povoadas, que provavelmente sofrerão danos por aumento do nível do mar, escassez hídrica, inundações e ciclones. O principal desafio está em garantir eletricidade de baixo custo “para milhões de pessoas que hoje não têm acesso à energia”, disse Leena Srivastava, diretora-executiva do Instituto de Energia e Recursos, com sede em Nova Déli, que promove o desenvolvimento sustentável.

As fontes energéticas alternativas exigem tecnologias acessíveis. Segundo Srivastava, é necessário garantir técnicas que estejam ao alcance dos pobres. “Isso contribuirá não apenas para mitigar as emissões de gás-estufa – porque se estará ajudando na passagem para formas de energia mais limpas – como também à adaptação, pois isto cria resiliência e contribui para o desenvolvimento”, afirmou à IPS. Entretanto, admitiu que “o acesso à energia será um problema-chave”.

O Banco Asiático de Desenvolvimento estima que a região possua “vasto potencial de energias renováveis” que pode ajudá-la a responder à mudança climática, mas somente se as medidas políticas e financeiras ampliarem as tecnologias disponíveis para os pobres, entre elas as pequenas centrais hidrelétricas e a energia solar. Mas o problema está mais na política do que na tecnologia e êxitos técnicos, disse Srivastava. O financiamento também é um desafio, acrescentou.

Segundo o Banco Mundial, entre 2010 e 2050, os países em desenvolvimento perderão US$ 100 bilhões ao ano pelo custo de adaptarem-se à mudança climática. A Organização das Nações Unidas, por sua vez, estima que até 2030 o mundo necessitará gastar entre US$ 36 bilhões e US$ 135 bilhões por ano para enfrentar os impactos mais amplos da mudança climática. A realidade, com como expôs o Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a mudança climática (IPCC), é que, “independente do que fizermos, estamos destinados a certo nível de mudança climática”. Segundo Srivastava, “já existe um grau de vulnerabilidade em uma grande quantidade de países e que precisa ser abordado”.
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FONTE : Ron Corben (Envolverde/IPS)

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