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terça-feira, 20 de outubro de 2009

O desafio de crescer e não contaminar

O desafio principal de muitos países da Ásia é se desenvolver e fornecer serviços-chave aos seus cidadãos enquanto limitam suas emissões de gases causadores do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento do planeta. “Não se pode negar o direito à infraestrutura, ao bom saneamento e aos sistemas de distribuição de água”, disse Geoffrey Blate, coordenador de assuntos sobre mudança climática para a região do rio Mekong do Fundo Mundial para a Natureza (WWF).

Blate conversou com a IPS por ocasião de uma consulta aos membros da Comissão do Rio Mekong, realizada nesta cidade tailandesa nos dias 15 e 17 deste mês. O rio corta Birmânia, China, Camboja, Laos, Tailândia e Vietnã. “O que estamos dizendo é considerar e enfatizar o papel dos ecossistemas saudáveis para uma maior resistência à mudança climática”, acrescentou.

Mais do que desenvolvimento de infraestrutura resistente ao aquecimento global, Blate afirma que o WWF preferiria que na conferência sobre mudança climática prevista para dezembro em Copenhague se dê maior ênfase a estratégias de adaptação baseadas nos ecossistemas, bem como em acordos regionais na matéria. “Pelo menos nos países do baixo Mekong, é a mudança no uso da terra que está contribuindo mais com as emissões a esta altura”, disse Blate.

Investir no meio ambiente é chave para proteger as comunidades locais do impacto da mudança climática. Blate explicou que manter saudáveis os ecossistemas, como mangues, pântanos e florestas, é uma forma de “dar muita capacidade de resistência à mudança climática”. No último dia 15, a WWF apresentou um informe propondo a criação de um acordo regional de adaptação ao aquecimento global para a bacia do Mekong, considerada uma das regiões com maior biodiversidade do mundo.

IPS- Quais dos seis países do Mekong poderão ser os primeiros a dar o passo crucial para a criação de um acordo regional de adaptação à mudança climática?

Geoffrey Blate- A pergunta é difícil porque todos têm de reconhecer que devem trabalhar juntos nisto. Todas as metas para reduzir as atuais ameaças, bem como o desenvolvimento da infraestrutura e combater outras causas de perdas de habitat, estão relacionadas com o comércio regional, com o intercâmbio de bens e com a integração das economias.

A Tailândia pode dizer: “Vamos nos concentrar realmente nisto, garantindo que não haja tráfico de vida silvestre. Vamos assegurar realmente que qualquer produto agrícola ou de silvicultura ou de pesca se faça da forma mais sustentável possível”. Mas, sés recursos estão conectados com os de seus vizinhos, e, portanto, deve haver um acordo regional. Quem deveria dar o primeiro passo. Qualquer um deveria dar o primeiro passo. Talvez a China, pois é o país mais capaz da região.

IPS- O que significa capaz?

GB- Os chineses são mais desenvolvidos e têm maior capacidade. Acabamos de ouvir na reunião da Comissão que estão muito dispostos a cooperar e fornecer assistência técnica. Países como Camboja ou Laos, onde ainda há muita pobreza, estão lutando. Eu diria que as nações com um desenvolvimento econômico maior neste momento, como Vietnã e Tailândia, deveriam avançar um pouco mais. Em minha opinião, a Tailândia, dos países do baixo Mekong, deveria ser aquele a demonstrar liderança neste assunto.

IPS- Então se trata mais de quanto são capazes esses países e de quanta é sua disposição em fazer esses caminhos...

GB- Exato. Existem a vontade política e a governabilidade. Já sabemos que a governabilidade é um tema difícil em todos os países, mas especialemtne nos menos desenvolvidos.

IPS- Como avalia a disposição da Comissão para discutir e incorporar a mudança climática em seus planos?

GB- Fiquei animado ao saber que alguns estavam pressionando a Comissão (nesse tema). Mas, esta pode ser apenas o que os países membros aprovarem. Creio que a Comissão está disposta a atender a preocupação dos atores, envolver-se com eles em um processo de consulta para ver como o aquecimento global entra nisto.

Porém, é difícil. A Comissão é uma organização muito grande, e o combate à mudança climática está destinado a ser uma iniciativa que envolva o Programa para o Desenvolvimento da Bacia, bem como programas de pesca e outros. Neste momento, é difícil avaliar como isto está funcionando em um sentido prático e real. A julgar por esta reunião, diria que se poderia fazer um trabalho melhor para integrar a iniciativa contra a mudança climática.

IPS- Ver a mudança climática como um tema de desenvolvimento, e não apenas como de meio ambiente, ajudaria a criar um sentido de urgência entre o público, incluindo os que tomam decisões?

GB- Podemos começar agora e deveríamos começar agora. Tailândia e Vietnã já têm estratégias nacionais. Camboja e Laos estão no processo de desenvolver estratégias, mas seguem muito lentos. A Comissão está, provavelmente, na melhor posição para gerar a informação e o conhecimento necessários, e está fazendo isso. Mas, o faz apenas pasa a bacia, e há muitas outras áreas conectadas que, penso, deveriam ser incluídas. Por isso, os governos devem encontrar uma forma de consegui-lo.

IPS- Acredita que os países do Mekong estão vendo a mudança climática como algo além de uma questão ambiental?

GB- Um pouco, não tanto como se necessita. Creio que na Tailândia as pessoas estão começando a entendê-lo. A comunidade para o desenvolvimento, bem como a dos doadores e das instituições multilaterais, o entendem. Ainda sinto que há uma falta de consciência. As pessoas entendem que a mudança climática é um problema, mas também acreditam que há uma espécie de assunto ético, e pensam: “Bem, precisamos nos desenvolver, e, portanto, não podemos nos preocupar com isso”. E como os países industrializados causaram o problema, pensam que eles devem solucioná-lo. Mas, todos têm de participar.
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FONTE : IPS/Envolverde

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