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quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Extinções atingem magnitude de cataclismo
Com o impacto de um cataclismo, o planeta Terra experimenta a sexta maior extinção de espécies de sua história, causada por contaminação, desmatamento, exploração e, excesso, consumo e mudanças no uso da terra. “É difícil imaginar uma prioridade maior do que proteger os serviços que presta a diversidade biológica”, disse Georgina Mace, do Imperial College de Londres, vice-presidente do programa científico Diversitas. “Certamente não alcançaremos em 2010 o objetivo de reduzir o ritmo de perda dessa biodiversidade”, afirmou Mace em um comunicado. De terça-feira até hoje acontece na Cidade do Cabo (África do Sul) a segunda Conferência Científica Aberta da Diversitas. Com participação de 600 especialistas de todo o mundo.
O planeta não conseguiu deter a crise de extinção de espécies apesar de 17 anos de tentativas nacionais e internacionais desde os grandes compromissos assumidos na Cúpula da Terra, realizada em 1992 no Rio de Janeiro. A última grande promessa data de 2003, quando os ministros de 123 países se obrigaram a reduzir o ritmo de perda de biodiversidade até 2010. Os especialistas reunidos esta semana na África do Sul concordam que o objetivo não será atingido no ano que vem, que também é o Ano Internacional da Biodiversidade.
A diversidade biológica não é sinônimo de animais de aspecto raro e belas aves. É a riqueza da vida na Terra, que forma os ecossistemas que prestam serviços vitais, com regular o clima, os alimentos, água e ar puros. Segundo algumas estimativas, anualmente desaparecem da face da Terra 12 mil espécies, e o ritmo acelera. Os ecossistemas de água doce podem ser o primeiro sistema fundamental da vida no planeta a entrar em colapso em 13 mil anos. As espécies que vivem em lagos e rios desaparecem de quatro a seis vezes mais rapidamente do que as de qualquer outro sistema na Terra, disse Klement Tockner, do Instituto Leibniz de Ecologia de Água Doce e Pesca em Águas interiores, da Alemanha.
“há cada vez mais evidências científicas de que estamos à beira de uma importante crise de biodiversidade em rios e lagos, “disse Tockner à IPS. Alguns especialistas prevêem que até 2025 nem um único rio chinês chegará ao mar, exceto em períodos de inundações, o que terá tremendos efeitos na pesca costeira da China. Em todo o mundo, as 25 espécies de esturjões e todas as de golfinhos de rio se extinguirão ou estarão ameaçadas. As que restam nos grandes rios, como o Danúbio, Reno, Hudson e Mekong, são principalmente espécies não autóctones, disse Tockner.
“Esta é uma mudança completa, e poucos estão conscientes da ameaça”, acrescentou o especialista alemão. Os ecossistemas de água doce cobrem apenas 0,8% da superfície do planeta, mas contêm cerca de 10% de todos os animais, entre eles mais de 35% de todos os vertebrados. O ritmo das extinções está sofrendo aceleração, especialmente nas áreas do mar Mediterrâneo, da América Central, China e do sudeste asiático, alertou Tockner, destacando que “nossa prioridade deve ser conservar os últimos e poucos sistemas de rios que fluem livremente”.
Sobre muitos deles pairam planos de hidrelétricas, que geram energia sem emitir carbono. Paradoxalmente, os ecossistemas de água doce têm capacidade de absorver aproximadamente 7% desse gás que a humanidade lança a cada ano na atmosfera, considerado responsável pelo aquecimento global. “Os cientistas estão alarmados pelo desencadeamento dos fatos”, disse Hal Mooney, biólogo ambiental da Universidade de Stanford (EUA) e presidente da Diversitas. “Há urgência, mas não entre os políticos”, afirmou à IPS desde Nairóbi.
Mooney e outros pesquisadores reuniram-se com funcionários governamentais de 95 países na capital do Quênia para tentar criar uma Plataforma Intergovernamental Político-Científica sobre Diversidade Biológica e Serviços dos Ecossistemas, uma organização semelhante ao Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC) criado no contexto das Nações Unidas. A ideia é reduzir a enorme distância entre ciência e política em matéria de biodiversidade, e apresentar critérios científicos aos que tomam as decisões.
Muitas dessas decisões, inclusive as ambientais, são adotadas sem considerar os impactos sobre a biodiversidade, afirmou Anne Larigauderie, diretora-executiva da Diversitas, com sede em Paris. Por exemplo, as políticas de fomento do uso de biocombustíveis e energia de biomassa para reduzir as emissões de carbono avançam com pouca pesquisa sobre seus potenciais impactos sobre os ecossistemas. “Tais decisões políticas revelam uma visão fragmentada do mundo”, disse Larigauderie à IPS em entrevista feita em agosto em Genebra.
Apesar de dezembro ser um mês para tomar decisões importantes por ocasião da 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, em Copenhague, os participantes pouco sabem sobre biodiversidade. Alguns programas para reduzir a contaminação com carbono mal concebidos, como a iniciativa de Redução de Emissões do Desmatamento e da Degradação Florestal (REDD), podem ser um desastre para a biodiversidade e agravar a mudança climática, disse Larigauderie, acrescentando que “a mudança climática tem impacto na diversidade biológica e vice-versa”.
Entretanto, os governos ainda não estão prontos para integrar as preocupações sobre biodiversidade em suas decisões cotidianas. Depois de quatro anos e meio falando de uma organização semelhante ao IPCC, não puderam chegar a um acordo em Nairóbi, disse Mooney. “Falta pelo menos mais um ano. Há uma defasagem entre a velocidade de deterioração dos ecossistemas e os tempos em que os governos tomam decisões”, destacou. E sem uma entidade com essa, há poucas possibilidades de deter a redução de espécies.
Como ocorre com o clima, os governos devem se comprometer com metas obrigatórias, que são pouco prováveis em matéria de biodiversidade, pelo menos nos próximos anos. “Se tivéssemos criado a Plataforma Intergovernamental, agora o mundo estaria implementando novos objetivos com base cientifica. Esperamos que o fracasso do objetivo imposto para 2010 gere o impulso para fazer com que os governos levem adiante a Plataforma”, afirmou Mooney.
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FONTE : Stephen Leahy, da IPS (IPS/Envolverde)
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