Blog com notícias de Ecologia atualizado diariamente. Publica notícias de outros blogs similares, ONGs, instituições ambientalistas, notícias jornalísticas e oficiais, fotos, críticas, poemas, crônicas, opiniões. A FONTE e o AUTOR são rigorosamente citados sempre.
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Desertificação e aquecimento seguem de mãos dadas
“Todo o tecido social de uma área está comprometido quando os solos se esgotam”, afirmou ao Terramérica o italiano Massimo Candelori, cuja tarefa às vezes é tão árida quanto as terras que tenta preservar. Candelori é secretário da Unidade de Facilitação, Coordenação e Monitoramento da Aplicação da Convenção das Nações Unidas de Luta contra a Desertificação, e, portanto, encarregado de velar para que os países preservem os solos, e isso quase sem recursos.
A região latino-americana não escapa da ameaça do deserto. Segundo estudo de 2005 da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), 25% das terras regionais são áridas, semiáridas ou subúmidas secas, e desse total, 75% sofrem sérios problemas de erosão.
O Terramérica conversou com Candelori durante sua visita de duas semanas a Buenos Aires, onde participou da Nona Sessão da Conferência das Partes dessa Convenção, entre 21 de setembro e 2 deste mês, com mais de 2.500 participantes de 193 países. Ele afirmou que, nessa oportunidade, se buscou conseguir maior incidência na 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, que acontecerá em dezembro em Copenhague, capital da Dinamarca.
TERRAMÉRICA: Qual a diferença entre deserto e terra desertificada?
MASSIMO CANDELORI: As terras desertificadas estão sujeitas a fenômenos naturais e atividades humanas que as degradam. Não foram desertos antes, mas estão se transformando em desertos, e isso é o que tentamos combater a partir da Convenção. Os desertos são lindos, fascinantes, misteriosos, mas estão fora de nosso alcance.
TERRAMÉRICA: Qual é a situação da América Latina?
MC: Não temos dados atuais. Um dos temas da Nona Conferência foi precisamente o de contar com indicadores que permitam compreender melhor a situação. Os países devem poder medir a gravidade do problema. Os últimos dados são de dez anos atrás. Alguém pode pensar que o continente mais afetado seja a África, mas na América Latina há áreas desertificadas, inclusive em países como o Brasil. Também há problemas sérios em Cuba, Argentina, Peru, México e muitos países da América Central e do Caribe. Boa parte da migração mexicana para os Estados Unidos se deve à falta de produtividade dos solos.
TERRAMÉRICA: Quais são as principais causas dessa degradação?
MC: Primeiro, os fenômenos naturais vinculados à variação climática: as secas. Depois, o componente humano: o manejo não sustentável da terra, a frequência de cultivos sem assegurar uma rotatividade natural, e o uso de solos não aptos para determinados cultivos.
TERRAMÉRICA: E as consequências são apenas ambientais?
MC: Não. A erosão resulta em colheitas menos abundantes. Significa também o deslocamento de populações. Todo o tecido social de uma área está comprometido quando os solos se esgotam.
TERRAMÉRICA: A desertificação pode ser revertida?
MC: Custa muitíssimo. A prioridade deveria ser proteger os solos, porque, quando a terra sofre desertificação, custa dez vezes mais para recuperá-la.
TERRAMÉRICA: Poderia mencionar algum caso concreto em que tenha funcionado a reabilitação de solos degradados?
MC: Na Argentina há o caso de Colonia El Simbolar, na província de Santiago del Estero, no norte. Graças a países doadores, foram identificados locais nos três continentes mais afetados (África, Ásia e América Latina), onde foram desenvolvidos projetos de sinergia entre as convenções de desertificação, biodiversidade e mudança climática. Um deles é o de Santiago, onde trabalhamos em uma área com mais de três mil hectares, muito deteriorada, mediante espécies autóctones. O crescimento dessas plantas é lento, rende menos do que outras espécies, mas estamos recuperando a biodiversidade e os solos em uma área que os pequenos produtores haviam abandonado devido à salinização. A experiência é tão importante que estamos conversando com o governo provincial para usá-la como protótipo em outras regiões. Os pequenos produtores aproximaram-se do projeto, mas no momento não está rendendo. Claro, existe o problema de até quando poderão esperar sem uma renda pelo terreno que estão recuperando.
TERRAMÉRICA: Como se relaciona a desertificação com a mudança climática?
MC: Este é um exemplo. Os créditos de carbono são o terceiro componente do projeto de Santiago. Está sendo certificada a capacidade do projeto para absorver carbono por meio do MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo), do Protocolo de Kyoto. A desertificação e a mudança climática seguem juntas. Se deixarmos o solo sem cobertura vegetal, este se aquece mais rapidamente e favorece a mudança climática. E, se a temperatura sobe e as chuvas diminuem, a cobertura se perderá e todo o carbono capturado no solo, com o calor, irá para a atmosfera.
TERRAMÉRICA: Que papel deveriam ter as terras nas negociações de Copenhague, para se chegar a um acordo obrigatório que suceda o Protocolo de Kyoto?
MC: Não é fácil quantificar o carbono sequestrado no solo, porque varia muito do Alasca às zonas tropicais. Precisamos de dados. Talvez agora não seja possível incluir o solo nas negociações, mas é necessário começar. Espera-se que em Copenhague seja decidido, pelo menos, pela utilização do solo no mercado de carbono.
TERRAMÉRICA: Os países em desenvolvimento contam com recursos para enfrentar este problema?
MC: Uns poucos países podem pagar os custos da desertificação e são os industrializados, como Itália, Espanha, Estados Unidos. Contudo, não estão destinando o suficiente na luta contra a desertificação. Outros, da América Latina e África, necessitam da cooperação internacional. Ainda deve ser discutido qual será o mecanismo financeiro de nossa Convenção, que hoje não tem nenhum.
* A autora é correspondente da IPS.
Crédito da imagem: Marcela Valente/IPS
Legenda: Massimo Candelori, funcionário da Convenção de Luta contra a Desertificação.
LINKS
Sinergias entre mudança climática e desertificação
http://envolverde.ig.com.br/materia.php?cod=63797&edt=
A desertificação como problema macroeconômico
http://envolverde.ig.com.br/materia.php?cod=63488&edt=
A ameaça da desertificação
http://envolverde.ig.com.br/materia.php?cod=63206&edt=
A desertificação avança sobre a economia
http://envolverde.ig.com.br/materia.php?cod=37403&edt=
A erosão é um problema de todo o planeta
http://envolverde.ig.com.br/materia.php?cod=36876&edt=
Convenção das Nações Unidas de Luta contra a Desertificação, em inglês
http://www.unccd.int/
***********************************
FONTE : Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário