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sexta-feira, 8 de março de 2013

Mulher, Feminismo e ecologia
  • SQA propõe construir Plano Ambiental com o COMPAM
  • Caminhada unificada de mulheres do RS
  • Mujer y minería: Ámbitos de análisis e impactos de la minería en la vida de las mujeres
  • Para o feminismo, o capitalismo não tem eco: seguimos em luta contra os desertos verdes, contra a mercantilização da vida!

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    Mulher, Feminismo e ecologia
     
    Por Alicia H. Puleo Filósofa, Professora da Cátedra de Estudos de Gênero da Universidade de Valladolid
    A filósofa Alicia Puleo é titular da Cátedra de Estudos de Gênero da Universidade de Valladolid, Espanha. Atualmente, Alicia articula o feminismo com a ecologia. Segundo a filósofa, os dois métodos de pensamento são complementares e uma alternativa para a crise de valores da sociedade individualista e consumista atual. As duas formas de pensamento oferecem a oportunidade de enfrentarmos não só a dominação das mulheres nas nossas sociedades de cultura patriarcal, mas também uma estrutura e uma ideologia de dominação da natureza ligada ao paradigma do varão dominador e guerreiro dos senhores da guerra. A filósofa, no entanto, é contrária a algumas elaborações as quais acreditam que a essência feminina está mais próxima da natureza devido à capacidade reprodutiva da mulher. Para ela, é o imaginário social androcêntrico que cria e “naturaliza a mulher” e a aprisiona ao plano da natureza.
    Feminismo e Ecologia serão dois movimentos sociais fundamentais no Século 21. O primeiro, porque adquiridas a autoconsciência como coletivo e a formação necessárias, já não é mais possível nos deter (ainda que possam atrasar a chegada às metas emancipatórias com diversas estratégias); o segundo, porque é cada vez mais evidente a insustentabilidade do modelo de desenvolvimento técnico-econômico. Estamos assistindo ao início do fim da Natureza. Já não resulta fácil aos meios de comunicação dissimular, como até agora, a conexão existente entre diversas catástrofes “naturais” que não são outra coisa senão as manifestações de uma mudança climática global de conseqüências inimagináveis. Vivemos o que Ulrich Beck denominou “a sociedade do risco”. Quanto mais informação sobre os alimentos que consumimos, a água que bebemos, o ar que respiramos e até o Sol que nos aquece e ilumina, maior insegurança sentimos (poluição, agrotóxicos, buraco de ozônio, conservantes… a lista é muito longa).
    Somente a ignorância ou a adoção de uma cega atitude tecno-entusiasta hoje em dia pode fazer com que miremos para outro lado, quando os sinais de perigo são tão claros. Apesar disso, existe uma vontade (inconsciente) generalizada de olhar para outro lado, vontade cuidadosamente cultivada pela imensa montagem cenográfica da sociedade de consumo. O ecologismo avança lentamente e tem uma maior implementação nos países que se industrializaram mais cedo, naqueles no quais a população, ou pelo menos a sua juventude mais ilustrada, tem se cansado da miragem hedonista contemporânea que prometia a felicidade através da acumulação de uma infinidade de objetos materiais. Seu avançar é lento, mas está garantido pela própria evolução dos fatos, pela tenaz realidade que baterá, cada vez mais freqüente e contundentemente, às nossas portas.
    Da futura coexistência triunfal de ambos os movimentos – feminismo e ecologismo – não se deduz, logo de cara pelo menos, que deva existir entre eles uma relação particular. Porém, uma reflexão mais aprofundada sobre a questão revela pelo menos duas grandes formas nas quais se apresenta a necessidade de diálogo. A primeira delas é a mais superficial, pragmática e fácil de compreender. É, na realidade, uma negociação preventiva: que papel será reservado às mulheres na futura sociedade do desenvolvimento sustentável? Em razão de que grande parte da emancipação feminina tem se apoiado na industrialização (por exemplo, nos produtos enlatados de “usar e jogar fora” tão nefastos para o meio ambiente), como organizaremos a infra-estrutura cotidiana sem sacrificar as ainda incertas margens de liberdade das mulheres?
    A experiência das militantes dos Verdes (com a honrosa exceção da manutenção compulsória da paridade, no caso europeu) e em diversas organizações ecologistas revela que ainda subsistem entre eles, como no resto dos Partidos políticos, forte inércias patriarcais. Os ecologistas não costumam ser feministas. E no caso de alguns Governos (como o espanhol) as feministas de forma geral não têm grande sensibilidade ecologista. Por enquanto são dois mundos que hoje vivem de costas, mas que no futuro estão destinados a se relacionar e, provavelmente, a realizar pactos políticos. Se o anterior se refere às necessidades futuras, há outras razões atuais para que o feminismo se interesse pela ecologia. Se o feminismo quer manter a sua vocação internacionalista, deverá pensar também em termos ecologistas em razão de que as mulheres pobres do Terceiro Mundo são as primeiras vítimas da destruição do meio natural que se leva a cabo para produzir objetos suntuosos a serem vendidos no Primeiro Mundo.
    O nível de vida dos países ricos não é exportável a todo o mundo. Os recursos naturais são consumidos sem atender à possibilidade ou impossibilidade de sua renovação. O espólio não tem limites naqueles países nos quais a população carece de poder político e econômico para fazer frente à destruição de seu meio natural. Assim, por exemplo, os elegantes móveis de mogno que hoje proliferam nas lojas de decoração européias são, de forma geral, o que ficou das florestas indonésias, que foram sistematicamente arrasadas.
    A mulheres rurais indianas, africanas ou latino-americanas, que vivem numa economia de subsistência têm a sua qualidade de vida diminuida tragicamente com a chegada da exploração “racional” dirigida ao mercado internacional. Se antes dispunham de lenha perto do vilarejo, agora devem caminhar quilômetros até encontrá-la. É essa a “modernização” que elas recebem. Se em nome da justiça desejamos que a nossa qualidade de vida se estenda para toda a humanidade, este tipo de qualidade deve mudar e se tornar sustentável.
    Se a população chinesa tivesse acesso aos automóveis como a Ocidental, a atmosfera da terra seria irrespirável. Há limites físicos, estudados pela ciência da ecologia, que impõem um rumo ecologista ao nosso modelo civilizatório.
    O ecofeminismo responde a esta e a outras questões. Atualmente, não há um único feminismo, mas várias tendências diferentes em confronto. Por causa da novidade das suas propostas e por ser uma das formas mais recentes do feminismo, o ecofeminismo é muito mal conhecido e, com freqüência, injustamente rejeitado como “essencialista”.
    Tratarei esquematicamente sobre as diferenças das principais correntes feministas, analisando os seus problemas e, finalmente, apontarei o que há de mais prometedor num feminismo com consciência ecológica.
    A antiga identificação Mulher e Natureza e a sua reciclagem com o surgimento do ecofeminismo
    O feminismo revelou desde cedo que um dos mecanismos da legitimação do patriarcado era a naturalização da Mulher. No livro “O Segundo Sexo”, Simone de Beauvoir denuncia a exclusão das mulheres do mundo do poder público realizada através da conceitualização da Mulher como Alteridade, como Natureza, como Vida Cíclica quase inconsciente, por parte do Homem (do Varão) ao qual se reservavam os benefícios da civilização.
    O famoso “não se nasce mulher, chega-se a sê-lo” beauvoireano é uma denúncia do caráter cultural, construído, dos estereótipos femininos e, ao mesmo tempo, uma alegação em favor do reconhecimento do direito das mulheres, seres humanos portadores de um projeto existencial, a ascender ao mundo da cultura do qual fomos injustamente excluídas. Os feminismos, liberal, socialista ou radical do início dos anos setenta acolheram esta reivindicação logrando quebrar, pelo menos numa grande parte, a prisão doméstica na qual se encontravam as mulheres dessa época.
    Em finais dos setenta e já plenamente nos oitenta, algumas correntes do feminismo radical recuperaram a antiga identifi- cação patriarcal de Mulher e Natureza para lhe dar um novo significado. Inverteram a valoração deste par conceitual que nos pensadores tradicionais servia para afirmar a inferioridade da Mulher (assim, por exemplo, em Hegel a Mulher é apresentada como mais próxima de formas de vida consideradas inferiores – animais ou vegetais – ao Homem).
    Afirmam estas feministas radicais que a Cultura masculina, obcecada pelo poder, tem nos levado à guerras suicidas e ao envenenamento da terra, da água e do ar. A Mulher, mais próxima da Natureza, é a esperança de conservação da Vida.
    A ética do cuidado é feminina (da proteção dos seres vivos) se opõe, assim, à essência agressiva da masculinidade. Este feminismo radical buscará uma ginecologia alternativa face aos tratamentos invasivos de médicos e grandes laboratórios farmacêuticos. Um importante resultado de sua atividade nos grupos de auto-ajuda se reflete numa obra muito conhecida entre as mulheres: o Manual de Ginecologia Alternativo do Coletivo de Mulheres de Boston, “Nossos Corpos, Nossa Vidas”. Perante à manipulação crescente do corpo das mulheres, estas feministas denunciaram os efeitos secundários de certos anticoncepcionais voltados para a satisfação masculina da androcêntrica “libertação sexual”.
    Mais recentemente as suas advertências têm se dirigido para um fenômeno novo: a terapia hormonal substitutiva para a menopausa, se transformando num novo filão para as multinacionais farmacêuticas. Esta preocupação pela saúde e por recuperar o controle do próprio corpo é um dos elementos centrais deste primeiro ecofeminismo e explica o título de uma das suas obras mais relevantes: “Gin/Ecologia” (Gyn/Ecology, 1978) de Mary Daly. De formação teológica, Mary Daly se dedica a analisar os mitos chegando até a sensata conclusão de que a única religião que prevalece em todas as partes é a do culto do patriarcado. Propõe desenvolver uma consciência “ginocêntrica” e “biofílica” de resistência, face à civilização “falocêntrica” e “necrofílica” dominante. Este ecofeminismo, hoje em dia chamado de “clássico”, é claramente um feminismo da diferença o qual afirma que homens e mulheres expressam essências opostas: as mulheres se caracterizariam por um erotismo não-agressivo, igualitarista e por aptidões maternais que as predisporiam ao pacifismo e à preservação da Natureza.
    Por sua vez, os varões estariam naturalmente voltados para realizar empresas competitivas e destrutivas. Este biologicismo suscitou fortes críticas dentro do feminismo, foi acusado de demonizar ao varão. Seu separatismo lésbico e a sua ingenuidade epistemológica (essencialismo) fizeram deste primeiro ecofeminismo um alvo fácil para as críticas dos setores feministas majoritários carentes de sensibilidade ecológica. Ainda atualmente, em certas interpretações, o termo “ecofeminismo” se associa somente a essa primeira forma do movimento e da teoria; motivando um ato falho ao desconhecer as tendências construtivistas mais recentes.
    Os ecofeminismos espiritualistas do Terceiro Mundo
    Vinculados às tendências místicas do primeiro ecofeminismo, mas se distanciando da demonização do varão, temos conhecido nos últimos anos um fenômeno novo: a teoria feminista que surgiu no Sul. Devo mencionar um nome conhecido das mulheres, Vandana Shiva.
    Combinando as contribuições de historiadoras feministas da ciência, como Evelyn Foz Keller ou Carolyn Merchant, com a sua própria tradição filosófico-religiosa, Vandana Shiva realiza uma séria crítica ao desenvolvimento técnico ocidental que tem colonizado o mundo inteiro. Afirma que “o que se recebe em nome do desenvolvimento é um processo de mau desenvolvimento, fonte de violência contra a mulher e a natureza em todo o mundo (…) (o mau desenvolvimento) tem as suas raízes nos postulados patriarcais de homogeneidade, dominação e centralização, que constituem o fundamento dos modelos de pensamento e estratégias de desenvolvimento dominantes”.
    Através dos livros da física nuclear e filósofa indiana Vandana Shiva tomamos conhecimento daquilo que os meios de comunicação silenciam: que existem movimentos de resistência ao “mau desenvolvimento”. Um deles é o das mulheres Chipko, do qual Vandana Shiva é a porta-voz. Inspiradas nos princípios da não-violência criativa de Gandhi, as mulheres rurais de Chipko, em nome do princípio feminino da Natureza da cosmologia da Índia, conseguiram deter o desflorestamento total do Himalaia, se alternando na vigilância da região e se amarrando às árvores quando os homens iam a cortá-los. Enfrentando os seus maridos, que estavam dispostos a vender as florestas comunais, as mulheres Chipko adquiriram uma consciência de grupo e, posteriormente, continuaram lutando contra a violência doméstica e pela participação política.
    Na América Latina, particularmente no Chile, Brasil, México, Uruguai, Bolívia, Argentina, Peru e Venezuela, avançando pela trilha aberta pela Teologia da Libertação, atualmente está se dando o início da elaboração de um pensamento teológico ecofeminista. Assim, a teóloga brasileira Yvone Gevara afirma que hoje em dia a justiça social tem implícita a ecojustiça. Este ecofeminismo latino-americano se caracteriza pelo seu interesse nas mulheres pobres e pela sua defesa dos indígenas, vítimas da destruição da Natureza. Ela propõe deixar de lado a imagem patriarcal de Deus como dominador e o dualismo da antropologia cristã tradicional (corpo/espírito). A transcendência já não estaria baseada no menosprezo da matéria senão que se definiria como a imersão no mistério da Vida, pertenceria a um todo que nos transcende. Seria concebida como uma “experiência da beleza, da grandiosidade da natureza, de suas relações e de sua interdependência”. Nesta teologia latino-americana, o ecofeminismo é uma atitude política crítica da dominação, uma luta anti-sexista, anti-racista, anti-elitista e anti-antropocêntrica (devemos respeitar as criaturas vivas, não somente ao ser humano).
    Ecofeminismos constructivistasSob este título unificador, por causa dos limites de espaço para este trabalho, mencionarei somente dois exemplos das distintas teorias e movimentos ecofeministas que não compartilham o essencialismo das clássicas, nem se nutrem nas fontes religiosas das espiritualistas do Terceiro Mundo, mesmo que compartilhem, de acordo com cada caso, algumas posições (anti-racismo, anti-antropocentrismo, anti-elitismo…).
    O ambientalismo feminista de Bina Agarwal é uma boa amostra da posição construtivista. Economista de formação, originária da Índia como Vandana Shiva, critica a teoria desta, que atribui a atividade protetora da Natureza entre as mulheres de seu país, ao princípio feminino de sua cosmologia.
    Para Agarwal, o vínculo que certas mulheres sentem com a Natureza tem a sua origem nas suas responsabilidades de gênero na economia familiar. Pensam holísticamente e em termos de interação e prioridade comunitária com base na realidade material na qual vivem. Não são as características afetivas ou cognitivas próprias de seu sexo, senão a sua interação com o meio ambiente (cuidado da horta, procura de lenha e água) o que favorece a sua consciência ecológica. A interação com o meio ambiente e a correspondente sensibilidade ou falta de sensibilidade ecologista gerada, dependem da divisão sexual do trabalho e da distribuição do poder e da propriedade segundo as divisões de classe, gênero, raça e casta.
    De outra perspectiva, uma das mais destacadas teóricas atuais do feminismo ecologista, Val Plumwood, constitui um bom exemplo da crítica construtivista. Esta filósofa australiana tem insistido no caráter histórico, construído, da racionalidade dominadora masculina. A superação dos dualismos hierarquizados Natureza/ Cultura, Mulher/Homem, Corpo/Mente, Afetividade/Racionalidade, Matéria/Espírito exige uma análise desconstrucionista. Utilizando fontes muito diversificadas (reivindações de igualdade de Simone de Beauvoir, crítica ao androcentrismo do ecofeminismo clássico, teoria das relações objetais…) examina a História da Filosofia Ocidental desde os gregos como a construção de um Eu masculino dominador, hiperseparado de seu próprio corpo, de seus afetos, das mulheres, dos outros seres vivos e da Terra que o sustenta. Esta visão fantasiosa da própria identidade humana, utilizada como legitimação do domínio, conduziu à civilização destrutiva atual. Não é uma essência, senão um fenômeno histórico, uma construção.
    O problema da práxisO ecofeminismo clássico espiritualista inspirou a numerosos grupos feministas pacifistas como o de Greenham Commom. A mística diferencialista se manifestou apta para mobilizações de grande impacto, nas quais se utilizaram os elementos do mundo tradicional feminino com maestria política; por exemplo, foram construídas redes sobre o tema dos mísseis das bases militares. Resumindo, a sua fraqueza teórica (essencialismo) é a sua força prática. Mas, podemos nos perguntar: favorece ao coletivo feminino a utilização dos estereótipos de gênero?
    É compreensível que a naturalização da Mulher – utilizada desde tempos remotos para a exclusão das mulheres do mundo da cultura -, suscite graves questionamentos nas fileiras feministas. Dizer que nós mulheres estamos mais perto da Natureza pela nossa capacidade materna não é voltar a nos fechar nos limites das funções reprodutivas? E, por outro lado, a exaltação de inferioridade a partir de posições de não poder reproduzir é capaz de alterar os valores estabelecidos? Não estaríamos adicionando um trabalho a mais às oprimidas: a de serem as salvadoras do ecossistema invocando a sua essência?
    Desde o construtivismo de posições de tipo economiscista, como as de Agarwal, tudo se reduz a tomar medidas práticas de conservação do meio ambiente que se apóiem no saber tradicional das mulheres rurais, substituir a monocultura industrial pela diversidade de sementes autóctones, descentralizar e favorecer a participação dos grupos desfavorecidos na tomada de decisões. Isto é indubitavelmente útil e necessário mas, como assinala a ecofeminista alemã Barbara Holland Cunz, este tipo de críticas ao ecofeminismo espiritualista ignora a contribuição deste à consciência contemporânea: a imagem de um diálogo horizontal, democrático, empático com a Natureza. Ao perder esta nova sensibilidade, tais críticas voltam a considerar à Natureza como um simples “recurso” a disposição dos humanos. O mesmo termo “meio ambiente” expressa esse reducionismo pelo qual a Natureza aparece como um simples cenário, no qual os humanos realizam as suas proezas!
    Muito além de todos os problemas teóricos e práticos de um feminismo que se encontra atualmente em plena elaboração e discussão, acredito na validez de um feminismo ecologista crítico que apresentará uma alternativa à crise de valores da sociedade consumista e individualista atual. As contribuições dos pensamentos críticos – feminismo e ecologismo – nos oferecem a oportunidade de enfrentar não somente a dominação das mulheres na sociedade patriarcal, senão também a uma ideologia e a uma estrutura de dominação da Natureza ligada ao paradigma patriarcal do varão guerreiro e senhor.
    A nossa autoconsciência como espécie humana avançará para a igualdade de mulheres e homens em quanto participantes não somente da Cultura como também da Natureza. Isto inclui tanto a participação das mulheres no âmbito da Cultura quanto da plena aceitação no propriamente humano daqueles elementos menosprezados e marginalizados como femininos (os laços afetivos, a compaixão, a matéria, a Natureza). Obter uma visão mais realista de nossa espécie como parte de uma continuidade da Natureza e, conseqüentemente, tratar os seres vivos não-humanos com o respeito que merecem. Superar o sexismo, o androcentrismo, o racismo e o antropocentrismo, são as metas desta nova forma de feminismo.
    O feminismo não deve se fechar às novas preocupações e sensibilidades das mulheres. O ecologismo é uma delas. Se acreditarmos que o feminismo tem horizontes utópicos no sentido etimológico de “utopia” (ou-topos, aquilo que ainda não aconteceu, mas pode acontecer), compreenderemos, então, que o feminismo ecologista tem muito o que dar para a sociedade atual.
    Fonte: Eco 21
     
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    SQA propõe construir Plano Ambiental com o COMPAM
    Posted: 08 Mar 2013 06:31 AM PST
    Secretario Neiff, da SQA, de camisa preta, a esquerda. Reunião do COMPAM, 28.12.06. Foto: CEA
    A Secretaria Municipal de Qualidade Ambiental (SQA), realiza hoje, 08 de março, as 14hs, uma reunião para “construção coletiva do PLANO MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE DE PELOTAS.”
    A pauta prevê a apresentação de proposta para as pré-conferências e respectivos eixos temáticos preparatórios para a Conferência Municipal de Meio Ambiente, prevista para acontecer na primeira semana de junho, durante as atividades da Semana do Meio Ambiente.
    Na reunião ordinária do Conselho Municipal de Proteção Ambiental (COMPAM) do mês de fevereiro, o Secretario Municipal de Qualidade Ambiental, Neiff Olavo Gomes Satt Alam (foto), informou que pretende promover uma espécie de Fórum Socioambiental com diversas atividades, como seminários descentralizados e ações itinerantes pelo município. Como tema central menciona a possibilidade da declaração do “Rio Arroio Pelotas” como Patrimônio Cultural do Estado, a qual completa 10 anos.
    Para tanto, a SQA considera a participação do COMPAM indispensável, como assegurou o secretario na referida reunião de fevereiro.
    Sem dúvida é uma oportunidade importante para debates e consolidação da democracia ambiental em Pelotas/RS. Experiência que poderia ser implementada em outros municípios das zonas úmidas dos pampas.
     
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    Caminhada unificada de mulheres do RS
    Posted: 08 Mar 2013 05:24 AM PST
    Para maiores informações veja no blog da Marcha Mundial de Mulheres do RS> aqui
    Mujer y minería: Ámbitos de análisis e impactos de la minería en la vida de las mujeres
    Posted: 08 Mar 2013 04:18 AM PST
    coverLa concreción de la política minera en los territorios implica transformaciones especialmente radicales en la vida de las mujeres. Indígenas, negras y campesinas, algunas incluso vinculadas a la actividad minera ancestral o artesanal, son vulneradas en sus derechos colectivos, se amenaza su soberanía alimentaria, su salud, su rol al interior de sus comunidades y culturas. De la misma manera, las mujeres también construyen una perspectiva propia en términos de alternativas y resistencias en defensa de sus vidas, sus cuerpos y sus territorios. Para examinar más en detalle esas particularidades, este documento presenta un análisis del contexto de la minería en Colombia y proponer algunos elementos y enfoques de incidencia en la acción política.
    Baixe a publicação
    Fonte: http://www.censat.org/publicaciones?task=view&id=62&catid=10043

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    Para o feminismo, o capitalismo não tem eco: seguimos em luta contra os desertos verdes, contra a mercantilização da vida!
    Posted: 08 Mar 2013 03:05 AM PST
    Marcha das Mulheres na Cúpula dos Povos, Rio de Janeiro/2012. Foto Cíntia Barenho/CEA
    O Movimento Mundial pelas florestas tropicais (WRM) do Uruguai, parceiro de luta ecológica, lançou boletim alusivo a luta feminista do 8 de março. Cíntia Barenho colaborou com um artigo que reproduzimos abaixo. O boletim como todo está super recomendado! Acesse aqui os demais artigos! Além do Português ele pode ser lido em Espanhol, Inglês e Francês.
    Para o feminismo, o capitalismo não tem eco: seguimos em luta contra os desertos verdes,
    contra a mercantilização da vida!
    por Cíntia Barenho*
    Chegamos a mais um 8 de março, dia internacional de luta das mulheres, no qual nós, mulheres feministas, também lutamos contra a mercantilização da natureza! Mercantilização essa aprofundada pela expansão dos Desertos Verdes , que já estão sendo considerados uma transição para Economia Verde. Processo baseado em falsas soluções ecológicas para um sistema em crise, mas, que de fato visa oportunidades econômicas para integrar à natureza ao mercado.
    A expansão dos Desertos Verdes não é uma realidade nova, mas que tem sido aquecida nos últimos anos, especialmente devido as políticas dos países, ditos desenvolvidos, em proibir fábricas e processos poluidores em seus territórios. Proíbem os processos, mas não proíbem o uso dos produtos produzidos por estes. Assim, as empresas buscam outros territórios favoráveis para instalação e/ou ampliação de seus processos industriais poluidores, nos quais a América do Sul tem sido uma das escolhas.
    Em várias regiões do Brasil, as empresas de celulose e papel estão espalhando seus desertos verdes de eucaliptos. Em especial na Bahia, no Espírito Santo, no Maranhão, no Mato Grosso do Sul, no Piauí, no Rio Grande do Sul (RS), as empresas se apoderam dos territórios expulsando povos indígenas, quilombolas, camponeses e camponesas de suas terras.
    Atualmente o RS tem uma área de mais de 500 mil hectares de monoculturas de árvores exóticas e, segundo projeções, chegaria a cerca de um milhão de hectares de plantações de pinus, eucalipto e acácia até 2015. Os projetos, além de transformar o bioma Pampa em imensos maciços de eucalipto, previam a instalação de fábricas de celulose.
    Entretanto, com o agravamento da crise econômica mundial, bem como com a sistemática luta e resistência local, os investimentos do setor de celulose e papel foram minguando no RS. As empresas que até então ressaltavam a importância e suas boas intenções com o desenvolvimento do RS, mostram sua verdadeira face.
    A volta dos que não foram: os novos velhos investimentos voltam ao cenário do RS. A atual ofensiva papeleira é da empresa chilena CMPC (Companhia Manufatureira de Papeis e Cartões, mas que no RS chama-se Celulose Riograndense), na qual, anunciou a compra de 100 mil hectares monocultura de eucalipto e ampliação da fábrica de celulose de Guaíba, utilizando dinheiro público do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O anúncio foi saudado por parlamentares, meios de comunicação (comprometidos com seus anunciantes), como também pelo governo estadual .
    São festejados números e cifras, mas nada é esclarecido sobre o processo de licenciamento ambiental, sobre como o Zoneamento Ambiental para atividade de Silvicultura (ZAS) será/está sendo cumprido.
    Nós mulheres dizemos não ao capitalismo verde!
    Esse breve resumo se faz essencial para conhecermos, minimamente, com quem estamos lidando. A fluidez do capital é grande, a fluidez como o mercado se transmuta também. A chegada da Celulose Riograndense não é nada novo, mas sim mais um passo do processo de mercantilização do território gaúcho.
    Para nós mulheres sistematicamente é negado a possibilidade de planejar e projetar o desenvolvimento local. Negado porque o sistema capitalista, que é patriarcal, impõe às mulheres um papel de incapacidade em decidir sobre sua própria vida, sobre sua soberania alimentar, energética, territorial. Para as mulheres espaço privado, para os homens o público.
    No entanto, no RS, juntamente com outros movimentos, mulheres camponesas e feministas protagonizamos sistemática luta e resistência local contra a expansão dos Desertos Verdes. Essa resistência abalou as ideias do agronegócio, que achava que no RS haveria condições favoráveis ao seu pleno desenvolvimento. E diante dessa nova ofensiva, precisamos dizer não ao capitalismo verde, chamado falsamente de Economia Verde.
    Economia Verde é a forma encontrada pelo sistema capitalista neo-liberal em mercantilizar a vida. Mesmo com a tentativa fracassada na Rio+20, de impor-se como “a agenda” para o próximo período, governos e empresas seguem cunhando essa falácia (vide o mais recente estudo da Organização Internacional do Trabalho ).
    No caso dos desertos verdes se utiliza da falácia da preservação das florestas em detrimento da expansão de “florestas” plantadas. Utiliza-se um conceito falso de floresta, mascarando que a mesma é uma monocultura de árvores exóticas plantadas com a intenção de serem transformados, especialmente, em pasta de celulose.
    Ao invés de regras para limitar os danos ecológicos e/ou mudanças no atual modelo de produção e consumo, a economia verde segue a lógica da compensação e da mercantilização. A compensação pressupõe que um processo poluidor pode ser desenvolvido a priori, desde que se indenize financeiramente o Estado. Já a mercantilização reforça tal princípio e consagra a necessidade de valorar a natureza, cunhando a ideia de que só tem valor que se pode comprar ou vender, negociar no mercado. Ou seja, que é preciso encontrar formas de dotações orçamentárias para se garantir um “fluxo estável” dos bens naturais (entendidos como meros recursos a nosso serviço).
    Assim, esse modelo ilusório e destrutivo afeta diretamente as mulheres, principalmente as trabalhadoras rurais, devido a sua intensa relação com os bens naturais e a divisão sexual do trabalho doméstico. O trabalho de reprodução e de cuidados, de sustentabilidade da vida ainda é uma tarefa majoritariamente das mulheres. Logo, quanto mais o modelo concentra terras, dissemina agrotóxicos, desrespeita legislações ambientais, polui as águas, prioriza o trabalho produtivo para homens, maior é o impacto negativo sobre a vida das mulheres. Essa contabilidade é invisibilizada propositalmente.
    Nesse modelo de agronegócio, promover economia verde com monoculturas de árvores exóticas é promover acumulação de capital sem qualquer perspectiva ecológica, consequentemente social. Vislumbra-se um mundo onde os elementos naturais e o trabalho das mulheres são inesgotáveis. E qualquer responsabilidade com a promoção de bem-estar deve ser subsidiada pelo Estado.
    Mulheres em luta contra a mercantilização!
    Assim para nós da Marcha Mundial das Mulheres, o dia 8 de março também é de luta contra a violência do capital sobre os territórios, consequentemente sobre nossos corpos, sobre a natureza.
    Lutamos por um outro modelo, através da perspectiva da Economia feminista, defendemos a necessidade de um novo paradigma de sustentabilidade da vida. As mulheres criam cotidianamente alternativas concretas à economia dominante, articulando transformações aos modelos de produção, reprodução e consumo. Ou seja, nós mulheres já desenvolvemos soluções reais que passam pela promoção da Soberania Alimentar e Energética, pela Agroecologia, pela Economia Solidária; também pelo reconhecimento e valorização dos conhecimentos ecológicos tradicionais dos povos; pela defesa das florestas e da biodiversidade, dentre outros. A mudança de paradigma já está acontecendo, mas precisam que as políticas públicas estruturantes sejam reorientadas ao desenvolvimento dos povos e não do capital.
    Economia Verde é uma falsa solução! Economia feminista é a nossa solução!
    Mudar o mundo para mudar a vida das mulheres!
    * Cíntia Barenho, Coordenadora de Projetos do Centro de Estudos Ambientais (CEA) e militante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), email: cintia.barenho@gmail.com
    Fonte: WRM

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