Queda de braço sobre futuro nuclear do Japão
por Suvendrini Kakuchi, da IPS
Tóquio, Japão, 28/3/2013 – O futuro dos planos energéticos do Japão dois anos após o acidente na central atômica de Fukushima depende de uma luta entre os que têm como objetivo o progresso econômico nacional e os ativistas nucleares, que destacam a prioridade de defender a vida das pessoas. “A queda de braço entre o governo e os que se opõem à energia nuclear se tornou um problema terrivelmente difícil no Japão”, disse à IPS o especialista Takao Kashiwage, do Instituto de Tecnologia de Tóquio.
A turbulência “emocional gerada pelas devastadoras consequências do acidente de Fukushima mascara um debate real e objetivo” sobre as necessidades energéticas do país e seu futuro nuclear, acrescentou o especialista. Kashiwage integra o oficial comitê de cogeração de energia e apoia a plataforma energética do primeiro-ministro, Shinzo Abe, que exige religar os reatores nucleares do país após a implantação de novos padrões de segurança que serão estabelecidos por uma comissão de especialistas independentes em julho.
“A segurança energética do Japão depende fortemente da energia nuclear. Abandonar por completo esta fonte (que antes do acidente atendia cerca de 30% das necessidades de energia) é uma medida muito drástica para o país”, explicou Kashiwage. Atualmente, o Japão importa 84% da energia que necessita. Na outra ponta estão os ativistas antinucleares, que pedem atenção para os perigos de nove das empresas de serviços públicos mais poderosas do Japão desenvolverem usinas nucleares, apoiadas por fundos estatais com a premissa de criar um fornecimento energético seguro para este país pobre em recursos.
Grandes somas foram destinadas a localidades pobres para construção de centrais nucleares qualificadas de “seguras”: segundo estimativas oficiais, um único reator custa cerca de US$ 10 bilhões, embora os ativistas afirmem que esse valor é muito maior quando se considera outros gastos, como o apoio às novas instalações e os subsídios para os governos locais anfitriões.
Entretanto, como o acidente de Fukushima deixou tragicamente claro, esses projetos não atenderam os requisitos de segurança, como os planos de contingência para evacuação em grande escala de moradores no caso de uma crise. Os ativistas apontam a enorme quantidade de vítimas do desastre que, em 11 de março de 2011, atingiu as comunidades próximas aos reatores de Fukushima, devido a um terremoto seguido de tsunami, como um dos exemplos mais impactantes das trágicas consequências que a energia nuclear pode ter sobre os seres humanos.
Também chamam a atenção para os riscos ambientais de armazenar material radioativo que possa envenenar facilmente a área circundante. Na verdade, perigosos vazamentos radioativos já obrigaram comunidades inteiras a abandonarem suas casas e seus empregos. Mais de 300 mil pessoas ainda ocupam moradias temporárias, dezenas de famílias estão separadas e muita terra agrícola foi transformada em campo deserto contaminado, incapaz de produzir um único cultivo comestível.
Yasuo Fujita, de 67 anos, é um desses muitos refugiados nucleares. Sua família viveu por gerações na aldeia de Namie, a apenas sete quilômetros de Fukushima. Pouco depois do acidente nessa central, ele foi obrigado a abandonar o comércio de sushi que mantinha há 30 anos e se mudar para Koto-ku, um município de Tóquio.
Atualmente, Fujita ainda espera uma indenização da Companhia de Energia Elétrica de Tóquio (Tepco) para reiniciar sua vida. “Perdi tudo em um segundo por causa do acidente em Fukushima”, afirmou à IPS. “Apesar dos planos do governo de reconstruir Fukushima em três ou quatro décadas, ninguém acredita que eles possam voltar. Com dezenas de jovens se mudando para outras áreas, não tem sentido regressar apesar de o governo trabalhar para a área voltar a ser segura, perspectiva na qual, de todo modo, não acreditamos”, acrescentou.
Por outro lado, o anúncio do dia 18 de que seria suspensa a refrigeração das barras de combustível nuclear gasto de três reatores da usina de Fukushima devido a apagões, causou pânico nacional e expôs um problema crucial na indústria atômica japonesa: a falta de transparência leva à disseminação de informação incorreta e à negligência em matéria de procedimentos sólidos de segurança.
O jornal Yomiuri informou no dia 21 que esse anúncio público da Tepco aconteceu muito tarde e ilustra as “frouxas medidas de segurança” da empresa, incluída a falta de um plano de apoio para enfrentar os acidentes. Porém, enquanto as enormes faturas do combustível continuam aumentando no Japão pelo segundo ano consecutivo e as contas domésticas por serviços aumentam 20%, em média, para cobrir os crescentes gastos da eletricidade, o apoio público aos ativistas contrários à energia nuclear parece estar fraquejando.
Em fevereiro, as importações de gás natural liquefeito aumentaram 19,1%, contribuindo com quase 40% de um déficit comercial sem precedentes, de US$ 8,2 bilhões, segundo o Ministério das Finanças. Uma pesquisa de opinião feita nesse mesmo mês pelo jornal japonês Asahi revelava que 46% dos consultados estavam a favor de continuar com a energia nuclear se fossem reforçadas as medidas de segurança, enquanto 41% apoiaram a abolição total.
Apenas dois dos 50 reatores nucleares do país – as unidades três e quatro da usina de Ōhi, na prefeitura de Fukui – estão operando, enquanto o restante foi fechado para trabalhos de manutenção ou reparos, levando o fornecimento de energia atômica a quase zero. Trata-se de uma redução drástica em relação aos níveis anteriores ao acidente em Fukushima, e é um enorme retrocesso para os planos nacionais de aumentar esta fonte de energia em 50% do fornecimento total.
Diante da dura realidade dos impactos do acidente e com o profundo compromisso público de evitar outro desastre, atualmente Abe impulsiona medidas de segurança, entre elas a instauração de uma nova Autoridade de Regulação Nuclear, integrada por especialistas independentes, que já deram alertas sísmicos para duas usinas atômicas. As próximas eleições nacionais indicarão um importante ponto de inflexão. Se vencer o conservador Partido Liberal Democrata, de Abe, os especialistas afirmam que o terreno estará pronto para reiniciar a atividade de usinas nucleares agora ociosas.
No entanto, Aileen Smith, presidente da Green Action e líder do movimento antinuclear, disse à IPS que os ativistas farão tudo o que puderem para deter estes planos, exercendo pressão sob a forma de demandas e grandes protestos públicos. “O governo fala em reiniciar usinas ociosas. Mas a perigosa realidade no terreno é que essas empresas de serviços públicos que se candidatam a autorizações enfrentarão uma dura batalha”, afirmou. Envolverde/IPS
A turbulência “emocional gerada pelas devastadoras consequências do acidente de Fukushima mascara um debate real e objetivo” sobre as necessidades energéticas do país e seu futuro nuclear, acrescentou o especialista. Kashiwage integra o oficial comitê de cogeração de energia e apoia a plataforma energética do primeiro-ministro, Shinzo Abe, que exige religar os reatores nucleares do país após a implantação de novos padrões de segurança que serão estabelecidos por uma comissão de especialistas independentes em julho.
“A segurança energética do Japão depende fortemente da energia nuclear. Abandonar por completo esta fonte (que antes do acidente atendia cerca de 30% das necessidades de energia) é uma medida muito drástica para o país”, explicou Kashiwage. Atualmente, o Japão importa 84% da energia que necessita. Na outra ponta estão os ativistas antinucleares, que pedem atenção para os perigos de nove das empresas de serviços públicos mais poderosas do Japão desenvolverem usinas nucleares, apoiadas por fundos estatais com a premissa de criar um fornecimento energético seguro para este país pobre em recursos.
Grandes somas foram destinadas a localidades pobres para construção de centrais nucleares qualificadas de “seguras”: segundo estimativas oficiais, um único reator custa cerca de US$ 10 bilhões, embora os ativistas afirmem que esse valor é muito maior quando se considera outros gastos, como o apoio às novas instalações e os subsídios para os governos locais anfitriões.
Entretanto, como o acidente de Fukushima deixou tragicamente claro, esses projetos não atenderam os requisitos de segurança, como os planos de contingência para evacuação em grande escala de moradores no caso de uma crise. Os ativistas apontam a enorme quantidade de vítimas do desastre que, em 11 de março de 2011, atingiu as comunidades próximas aos reatores de Fukushima, devido a um terremoto seguido de tsunami, como um dos exemplos mais impactantes das trágicas consequências que a energia nuclear pode ter sobre os seres humanos.
Também chamam a atenção para os riscos ambientais de armazenar material radioativo que possa envenenar facilmente a área circundante. Na verdade, perigosos vazamentos radioativos já obrigaram comunidades inteiras a abandonarem suas casas e seus empregos. Mais de 300 mil pessoas ainda ocupam moradias temporárias, dezenas de famílias estão separadas e muita terra agrícola foi transformada em campo deserto contaminado, incapaz de produzir um único cultivo comestível.
Yasuo Fujita, de 67 anos, é um desses muitos refugiados nucleares. Sua família viveu por gerações na aldeia de Namie, a apenas sete quilômetros de Fukushima. Pouco depois do acidente nessa central, ele foi obrigado a abandonar o comércio de sushi que mantinha há 30 anos e se mudar para Koto-ku, um município de Tóquio.
Atualmente, Fujita ainda espera uma indenização da Companhia de Energia Elétrica de Tóquio (Tepco) para reiniciar sua vida. “Perdi tudo em um segundo por causa do acidente em Fukushima”, afirmou à IPS. “Apesar dos planos do governo de reconstruir Fukushima em três ou quatro décadas, ninguém acredita que eles possam voltar. Com dezenas de jovens se mudando para outras áreas, não tem sentido regressar apesar de o governo trabalhar para a área voltar a ser segura, perspectiva na qual, de todo modo, não acreditamos”, acrescentou.
Por outro lado, o anúncio do dia 18 de que seria suspensa a refrigeração das barras de combustível nuclear gasto de três reatores da usina de Fukushima devido a apagões, causou pânico nacional e expôs um problema crucial na indústria atômica japonesa: a falta de transparência leva à disseminação de informação incorreta e à negligência em matéria de procedimentos sólidos de segurança.
O jornal Yomiuri informou no dia 21 que esse anúncio público da Tepco aconteceu muito tarde e ilustra as “frouxas medidas de segurança” da empresa, incluída a falta de um plano de apoio para enfrentar os acidentes. Porém, enquanto as enormes faturas do combustível continuam aumentando no Japão pelo segundo ano consecutivo e as contas domésticas por serviços aumentam 20%, em média, para cobrir os crescentes gastos da eletricidade, o apoio público aos ativistas contrários à energia nuclear parece estar fraquejando.
Em fevereiro, as importações de gás natural liquefeito aumentaram 19,1%, contribuindo com quase 40% de um déficit comercial sem precedentes, de US$ 8,2 bilhões, segundo o Ministério das Finanças. Uma pesquisa de opinião feita nesse mesmo mês pelo jornal japonês Asahi revelava que 46% dos consultados estavam a favor de continuar com a energia nuclear se fossem reforçadas as medidas de segurança, enquanto 41% apoiaram a abolição total.
Apenas dois dos 50 reatores nucleares do país – as unidades três e quatro da usina de Ōhi, na prefeitura de Fukui – estão operando, enquanto o restante foi fechado para trabalhos de manutenção ou reparos, levando o fornecimento de energia atômica a quase zero. Trata-se de uma redução drástica em relação aos níveis anteriores ao acidente em Fukushima, e é um enorme retrocesso para os planos nacionais de aumentar esta fonte de energia em 50% do fornecimento total.
Diante da dura realidade dos impactos do acidente e com o profundo compromisso público de evitar outro desastre, atualmente Abe impulsiona medidas de segurança, entre elas a instauração de uma nova Autoridade de Regulação Nuclear, integrada por especialistas independentes, que já deram alertas sísmicos para duas usinas atômicas. As próximas eleições nacionais indicarão um importante ponto de inflexão. Se vencer o conservador Partido Liberal Democrata, de Abe, os especialistas afirmam que o terreno estará pronto para reiniciar a atividade de usinas nucleares agora ociosas.
No entanto, Aileen Smith, presidente da Green Action e líder do movimento antinuclear, disse à IPS que os ativistas farão tudo o que puderem para deter estes planos, exercendo pressão sob a forma de demandas e grandes protestos públicos. “O governo fala em reiniciar usinas ociosas. Mas a perigosa realidade no terreno é que essas empresas de serviços públicos que se candidatam a autorizações enfrentarão uma dura batalha”, afirmou. Envolverde/IPS
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