A água nossa de cada dia
por Marcelo Barros*
O Brasil detém 12% de toda água doce do mundo, mas como em todo o planeta, essa distribuição é desigual e problemática. O Nordeste brasileiro enfrenta a pior seca dos últimos 30 anos. No cerrado e em todo o planalto central, as pesquisas revelam uma assustadora diminuição das fontes de água e do nível hidrográfico dos rios. Nessa região sempre houve secas. Hoje, é diferente a intensidade e a frequência com que esses fenômenos ocorrem. Diferentemente de antes, agora, com o desflorestamento e a destruição da natureza, é a sociedade humana que provoca desastres ecológicos como secas, terremotos e inundações. Infelizmente as religiões e tradições espirituais que deveriam dar à humanidade uma cultura amorosa de relação com a terra e as águas, não têm vivido com êxito essa missão. A maioria das tradições espirituais acredita que a vida nasceu a partir das águas e por isso a água é sempre símbolo e instrumento do Espírito de Deus. Na Bíblia e nos evangelhos, Jesus promete o Espírito Santo como água viva que quem beber jamais terá sede. Em vários países, cristãos e pessoas conscientes dessa espiritualidade têm vencido importantes lutas legais contra a privatização da água e têm participado de comissões de defesa de rios, lagos e fontes de água. Nesse ano da cooperação mundial da água, as comunidades cristãs são chamadas a verem a água como instrumento de comunhão entre as pessoas e da solidariedade entre os povos. É possível e bom aprofundar a relação entre pessoas, como também entre povos através da partilha da água comum. Assim como os cristãos reconhecem na partilha do pão o próprio Jesus presente, agora somos convidados a testemunhar o Espírito Divino presente em cada pouco d´água que partilhamos como sacramento da presença e ação do Espírito Mãe da Vida.
* Marcelo Barros é monge beneditino e escritor.
** Publicado originalmente no site Adital.
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