enchente 300x204 Enchentes aumentam risco de doençaPopulação deve evitar o máximo possível o contato com a lama e com águas contaminadas.
Além de causar prejuízos materiais e aumentar as chances de acidentes, as chuvas intensas e as enchentes, comuns nesta época do ano, expõem as pessoas a outros perigos, como contrair doenças. As autoridades alertam os moradores de áreas atingidas por chuvas fortes e inundações para que adotem alguns cuidados que podem prevenir problemas de saúde e evitar acidentes.
Para o coordenador de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Ricardo Marins, as doenças que mais preocupam as autoridades com a chegada das chuvas são a leptospirose, a hepatite viral A, a febre tifoide e as doenças diarreicas agudas. Todas elas têm origem no contato ou na ingestão da água e dos alimentos contaminados por animais transmissores, como os ratos, ou por vírus e bactérias. “A principal medida para impedir o contágio dessas doenças é evitar o contato com água ou lama de enchentes e impedir que as crianças brinquem nessas águas”, alerta Ricardo Marins.
Aos trabalhadores da limpeza urbana, que não podem evitar esse contato, recomenda-se sempre usar botas e luvas de borracha ou sacos plásticos duplos durante a limpeza da lama, nas residências ou nas ruas. Se houver inundação em casa, o chão, as paredes, os objetos caseiros e as roupas atingidas devem ser lavados com sabão e água sanitária. Outro produto útil para desinfetar e proteger o ambiente de possíveis doenças é o hipoclorito de sódio a 2,5%. Se houver contato dos alimentos com a água da enchente, recomenda-se jogá-los fora, em recipientes bem fechados.
Roedores
Das doenças relacionadas à contaminação pelas enchentes, a leptospirose oferece mais perigo, por provocar mortalidade maior. Em 2005, registraram-se 3.605 casos da doença no Brasil, com 417 mortes. Em 2006, já foram notificados 2.877 casos, com 236 mortes.
A leptospirose é causada pela bactéria leptospira, transmitida ao homem pela urina de ratos, ratazanas e camundongos. Após chuvas intensas, as águas invadem as tocas dos roedores e carregam as bactérias para as residências e as vias públicas. Geralmente os surtos da leptospirose começam uma semana após as enchentes. “Existe uma preocupação do governo federal em monitorar casos da leptospirose. Assim, procura-se reduzir o risco da ocorrência da doença”, explica Ricardo Marins.
A leptospirose apresenta como sintomas febre, dor de cabeça, fraqueza, dores no corpo (especialmente na panturrilha, conhecida como “batata” da perna), pele amarelada e calafrios, que surgem de sete a quinze dias após a infecção. Ao perceber os sintomas, deve-se procurar, o mais rapidamente possível uma unidade de saúde e informar ao medico a ocorrência do contato com água ou lama das enchentes.
A geografia constitui um fator agravante para disseminação da leptospirose e outras doenças ligadas à época de chuvas fortes. Por exemplo: cidades que apresentam muitos declives, como Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Recife, Vitória e Vila Velha (ES), tendem a ter enchentes mais freqüentes. Dessa forma, aumenta o risco de haver mais casos. “Os constantes problemas de drenagem de águas pluviais também pioram o problema”, assinala Marins.
Salmonela
A febre tifoide é uma doença comum com a chegada das chuvas, causada pela presença da bactéria salmonela (com nome científico de Salmonella entérica sorotipo de Typhi) nas águas contaminadas.
A doença caracteriza-se por febre prolongada, alteração no funcionamento do intestino e aumento do fígado e do baço. Se não tratada inicialmente, pode se complicar com hemorragia ou até perfuração intestinal, o que pode levar à morte. No ano passado, o Brasil registrou 504 casos e quatro mortes em conseqüência da doença. De janeiro a outubro de 2006, houve registro de 326 casos de febre tifóide no país.
A incidência de casos de hepatite viral A também preocupa as autoridades em saúde em locais onde ocorrem inundações. A doença se manifesta inicialmente com sintomas semelhantes aos de uma gripe, como fraqueza e mal- estar, além de alterações gastrointestinais. Nos casos típicos, o paciente apresenta olhos e pele amarelados e urina escura. O período de incubação dos vírus da hepatite A dura de 15 a 45 dias.
Diarréias
Outro problema de saúde ligado à contaminação da água são as doenças diarréicas agudas. Essas doenças apresentam, como sintomas, vômito, diarréia e febre (mais comum nas crianças). A diarréia oferece o risco de desidratação. A perda excessiva de líquidos pode até mesmo levar a pessoa à morte. Recomendam-se, nesse caso, duas medidas: tomar muito líquido, utilizar o soro caseiro e procurar um profissional de saúde, evitando a automedicação.
Junto com todos os males à saúde relacionados às águas contaminadas, as doenças respiratórias, indiretamente, também têm ligação com a estação de chuvas fortes. Por conta da aglomeração de pessoas desabrigadas em ambientes com pouca circulação do ar e muitas vezes com reduzidas condições higiênicas, aumentam as chances de infecções respiratórias, como resfriado, gripe e pneumonia.
Nos casos de inundações, o Ministério da Saúde distribui insumos necessários para enfrentar esta situação adversa, como sais reidratantes, hipoclorito de sódio a 2,5%, antibióticos, soros, vacinas, reagentes e produtos para diagnóstico laboratorial.
Saúde atua em parceria com governos locais para prevenir acidentes
Durante as chuvas mais intensas, acidentes como desabamentos e complicações no trânsito das grandes cidades tendem a ocorrer com mais freqüência. Esse fato leva o Ministério da Saúde a trabalhar em parceria com os governos locais, defesa civil, polícia civil e militar e bombeiros para garantir mais segurança para a comunidade. “A nossa preocupação é preparar os hospitais que recebem o apoio desses órgãos para que eles garantam o melhor atendimento possível e consigam salvar o máximo de vidas”, explica Ricardo Marins.
Para evitar problemas com as enchentes, o governo federal tem como principal recomendação aos municípios que invistam em obras de drenagem de águas pluviais (da chuva), o que pode amenizar os males provocados pelas enchentes. “Além de dar assistência aos municípios em caso de calamidade, também é importante contribuir com informações e medidas para evitar ou minimizar os acidentes”, observa o especialista do Ministério da Saúde.
As autoridades recomendam ainda às pessoas muita atenção no trânsito durante as chuvas e que os motoristas reduzam a velocidade dos veículos. A pista molhada e escorregadia costuma provocar aumento no número de acidentes de carro.
Nessa época, o Ministério da Saúde também alerta para o crescimento de acidentes com animais peçonhentos, em função de deslocamentos dos habitats naturais provocados pelas inundações. Nesse período, animais como escorpiões, aranhas ou cobras procuram abrigo, e podem ser encontrados nas proximidades das casas, em jardins ou parques. Caso ocorra o acidente com animais peçonhentos, deve-se levar a vítima para um serviço de saúde, o mais depressa possível. O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza gratuitamente o soro antipeçonhento, indicado para o tratamento, em todas as regiões do país.
Em dezembro de 2003, a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) instituiu um grupo de trabalho para auxiliar os estados e municípios em situação de emergência relativa às chuvas e inundações. Em situação de calamidade, esse grupo se desloca imediatamente para qualquer estado ou município que foi atingido. Este trabalho ainda estabelece o acompanhamento diário junto aos estados para o controle da ocorrência de doenças relacionadas às chuvas e inundações; fornece informações para se enfrentar a situação; esclarece dúvidas e orienta sobre quais medidas devem ser tomadas.
Outra ação do Governo Federal para preparar estados e municípios para enfrentar situações de enchentes é a disseminação do Plano de Continência de Vigilância em Saúde frente a Situações de Calamidade e as Orientações à População e Secretarias Municipais de Saúde em Situações de Inundação. Essas informações estão disponíveis na página da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério da Saúde, no endereço eletrônico www.saude.gov.br/svs.
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* Publicado originalmente no site Agência Saúde.