Pesquisadora da UnB mapeou os pontos de cooperação entre os países e revelou falhas no sistema brasileiro de gestão e manutenção de Áreas Protegidas.
Apesar das diferenças territoriais que deixam a França muito aquém da diversidade encontrada nos ecossistemas do Brasil, os franceses têm muito a ensinar aos brasileiros em termos de conservação da natureza. Uma parceria inédita entre os países, coordenada pela pesquisadora do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (CDS) Caroline Jeanne Delelis, mapeou os pontos de cooperação entre as nações em termos de criação e gestão de Áreas Protegidas (APs).
Uma prévia do trabalho, que será publicado em forma de livro no próximo 14 de dezembro, foi apresentada na palestra de abertura da Semana de Biologia da UnB, nesta segunda-feira, 8 de novembro. Na apresentação, Caroline destacou três aspectos da política de meio ambiente francesa que podem qualificar a conservação da natureza no Brasil: o pacto entre a sociedade civil e o Estado, os critérios rigorosos na criação de APs e a valorização dos saberes e produtos locais.
Na França, a responsabilidade pelas unidades de conservação é de todos. E é esse, segundo a pesquisadora francesa, o segredo do sucesso na gestão das APs. “Temos um conselho formado por representantes do governo e da comunidade local que se envolvem em todas as etapas do processo: da elaboração do plano para área à sua gestão efetiva”. No Brasil, de forma geral, a questão se resume às decisões de técnicos do Estado. “É preciso envolver diferentes atores para um modelo eficiente”, diz.
Outro problema na gestão das APs brasileiras, segundo a especialista, é a falta de critérios para a criação das unidades. “Aqui é tudo muito rápido e fácil, pois não há exigência de um projeto fechado que garanta o funcionamento da área, como os recursos necessários e a estrutura e equipe adequadas”. Caroline afirma que, apesar de ampliar o número de áreas protegidas, a falta de critérios gera os chamados “parques de papel”. “São áreas que não funcionam efetivamente pela falta de planejamento”.
A valorização da cultura local é outra lição francesa a ser aprendida pelos brasileiros. Caroline observa que esta é uma ferramenta para aproximar as populações locais das políticas de meio ambiente. “Na França há um espécie de selo que dá identidade aos aspectos peculiares da comunidade”, aponta. A pesquisadora usa como o exemplo o Cerrado brasileiro. “Aqui temos um fruto muito peculiar que é o pequi. Incentivar a exploração sustentável desse recurso é uma maneira de gerar desenvolvimento social e ambiental”.
PARCERIA – A cooperação franco-brasileira para o mosaico de Áreas Protegidas, promovida pelo Ministério do Meio Ambiente em parceria com a Embaixada da França, começou em 2005. “Contamos com diversas reuniões de gestores e especialistas para troca de informação entre os países com o foco nas unidades de conservação do Brasil”, explica Jeanne. O lançamento do livro com os resultados dos trabalhos, aberto ao público, ocorrerá no Parque Nacional de Brasília (Água Mineral).
Durante a palestra que lotou os Anfiteatro 7 da UnB, Caroline ainda destacou alguns aspectos que fazem do Brasil o país mais megadiverso do planeta. “Aqui existem 1,8 milhão de espécies, que correspondem a 13% da diversidade do mundo”. A especialista ainda apontou a fragmentação como a maior ameaça à conservação do meio ambiente. “O alto endemismo em áreas como o Cerrado e Mata Atlântica acaba ameaçado pela derrubada de áreas de conexão e fluxo de espécies e genes”, alerta.
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FONTE : João Campos, da agência UnB (Envolverde/Agência UnB)
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