por Stephen Leahy*
Uxbridge, Canadá, 1º de julho de 2013 (Terramérica).- Com um aquecimento inferior a um grau, as chuvas extremas já aumentaram 15% nas regiões tropicais, e sua quantidade e intensidade poderá aumentar entre 30% e 60% nas próximas décadas, afirma um novo estudo. Se a temperatura do planeta subir dois ou três graus, como se prevê, as regiões tropicais da América Latina experimentarão com regularidade inundações catastróficas, disse ao Terramérica o pesquisador Seth Westra, da Universidade de Adelaide, na Austrália.
“O vínculo entre mudança climática e chuvas extremas está claramente estabelecido”, afirmou Westra, principal autor do estudo Global Increasing Trends in Annual Maximum Daily Precipitation (Tendências Mundiais de Aumento nas Precipitações Diárias Máximas Anuais), publicado em junho no Journal of Climate. Esta é a primeira pesquisa que usa observações de 8.326 estações meteorológicas de todo o mundo para determinar que a intensidade das chuvas mais extremas aumenta juntamente com as temperaturas.
E a intensidade das precipitações sinaliza que estas aumentarão 15% a cada grau de aquecimento nas regiões tropicais. Se continuarem as atuais emissões de dióxido de carbono, os cientistas calculam que o mundo alcançará dois graus de aquecimento entre 2030 e 2040.
A natureza pode oferecer a melhor solução para controlar o aumento das inundações esperadas nas zonas tropicais e em outras partes da América Latina. As florestas e os pântanos absorvem as chuvas fortes e diminuem sua liberação corrente abaixo. “Uma infraestrutura verde pode ser mais rentável do que os caros controles das inundações no concreto”, disse ao Terramérica o diretor de programas de conservação para América Latina no The Nature Conservancy, Aurelio Ramos.
Fazer com que árvores, pastagens e plantas continuem sendo parte da paisagem é extremamente efetivo, tanto para limpar quanto para reter a água, além de reduzir a sedimentação que obstrui vias fluviais, o que frequentemente piora as inundações. Outros benefícios são a melhoria da sustentabilidade e da biodiversidade e as menores emissões de gases-estufa, acrescentou Ramos.
Monterrey, a terceira maior cidade do México, foi severamente prejudicada em 2010 pelas inundações causadas pelo furacão Alex. O desmatamento corrente acima do rio Santa Catarina, que atravessa essa cidade, foi uma causa importante do seu transbordamento, que causou tantos danos, observou Ramos. “Um estudo detalhado mostra que, com reflorestamento e umas poucas represas pequenas corrente acima, se reduz em 20% o fluxo de água durante os eventos extremos”, pontuou, lembrando que esta infraestrutura verde seria tão efetiva quanto uma represa grande e de custo maior.
A bacia do Santa Catarina cobre 32 quilômetros quadrados, e a The Nature Conservancy, junto com o Fundo para o Meio Ambiente Mundial (mais conhecido como GEF) e outros sócios propuseram um plano de manejo que inclui 35% dessa bacia. Para financiá-lo, os sócios, inclusive a indústria, investiram em um inovador compromisso financeiro que chamam de “fundo de água”.
Serão necessários cerca de US$ 35 milhões para que o Fundo de Água de Monterrey gere juros de aproximadamente US$ 3 milhões ao ano, que serão investidos em reflorestamento e compensação para os donos das terras por modificarem suas práticas agrícolas ou pecuárias. Os produtores rurais deverão reduzir o uso de fertilizantes, criar zonas de exclusão para vegetação natural nas margens de cursos fluviais, ou colocar barreiras para manter o gado afastado de pântanos e áreas ribeirinhas.
Este pagamento por serviços de ecossistema exige que os latifundiários assinem acordos de longo prazo, alguns inclusive por até 80 anos. “Planejamos lançar o Fundo de Água de Monterrey em setembro”, indicou Ramos. O primeiro esquema deste tipo foi o Fundo para a Proteção da Água (Fonag) de Quito, capital do Equador, criado em 2000 mediante os esforços da The Nature Conservancy, da Fundação Antisana e da empresa de água local. Agora são cinco os fundos de água no Equador.
Graças ao êxito nesse país, o GEF, a The Nature Conservancy e o Banco Interamericano de Desenvolvimento lançaram, em 2011, uma associação de US$ 27 milhões para ampliar estes mecanismos. A previsão é proteger quase três milhões de hectares de bacias em vários países da América, entre eles Equador, Colômbia, Peru, Brasil México e outros países. Já estão em marcha 12 fundos deste tipo, e outros 20 deverão estar prontos até 2015, informou Ramos, observando que “há quem entenda que a infraestrutura verde funciona, mas encontrar o dinheiro para concretizá-la é mais difícil”.
Há importantes argumentos para que as empresas invistam na natureza com, por exemplo, redução dos custos de purificação da água e da necessidade de dragagem. Também se previne as alterações e se impulsiona os ganhos para as empresas que dependem da água, garantindo um fornecimento mais estável. E estes investimentos podem reduzir os custos das inundações, além de ajudar a manter mais baixos os prêmios de seguros.
A indústria dos seguros é muito consciente dos custos da mudança climática. Inundações, terremotos, secas e outros desastres naturais custaram ao mundo US$ 2,5 trilhões apenas nos últimos 13 anos, superando em muito as estimativas prévias, segundo o Global Assessment Report on Disaster Risk Reduction 2013 (Informe de Avaliação Global sobre Redução do Risco de Desastres 2013), da Organização das Nações Unidas (ONU).
Esse informe indica que muitas áreas urbanas e industriais agora se localizam em zonas propensas a catástrofes. Os governos e o setor empresarial têm de melhorar o manejo do risco de desastres, conclui o estudo. Estimar onde está o maior risco de inundações é difícil porque há muitos fatores envolvidos, ressaltou Westra, e deve-se tomar uma bacia como ponto de partida.
Cada obra de infraestrutura construída no mundo foi realizada com base em informação meteorológica e de inundações nos últimos 30 a 50 anos. “Já não podemos tomar decisões de infraestrutura baseados somente nesses dados”, opinou Westra. Mas os impactos da mudança climática se apresentam mais rapidamente do que o previsto e antes que a ciência possa elaborar projeções precisas sobre o impacto regional.
“Inclusive na Austrália não incorporamos ainda o que a mudança climática pode fazer com nossos padrões de chuvas nos próximos 50 a cem anos”, disse Westra. Seu estudo constitui uma confirmação do que a ciência climática vem dizendo desde a década de 1990. “Na medida em que o clima esquenta, os países ricos em água se tornam mais ricos e os pobres ficam mais pobres”, resumiu. Envolverde/Terramérica
* O autor é correspondente da IPS.
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Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação apoiado pelo Banco Mundial Latin America and Caribbean, realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.
(Terramérica)
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