rios Sri Lanka oscila entre os extremos climáticos
Depois da seca, os rios no Sri Lanka encheram até transbordarem. Foto: Amantha Perera/IPS

Colombo, Sri Lanka, 14/3/2013 – O Sri Lanka finalmente pode dar uma respirada em meio às condições climáticas extremas que sofreu no ano passado e que muitos atribuem ao aquecimento global. As represas atingiram seu nível mínimo depois da última seca, mas agora se recuperaram. “Graças a Deus, o clima ajudou, e todas as represas estão cheias”, anunciou no mês passado o ministro das Finanças, P. B. Jayasundera. “É uma espécie de compensação”, acrescentou.
Nos primeiros dez meses do ano passado, diversas regiões do país sofreram uma severa seca. Quando esta finalmente terminou, o clima se inclinou para o outro extremo. Desde novembro, as mesmas áreas sofreram grandes inundações em pelo menos três ocasiões. A seca afetou pelo menos 1,2 milhão de pessoas, segundo a Cruz Vermelha e a Sociedade da Meia-Lua Vermelha do Sri Lanka. Em seguida, as inundações afetaram pelo menos um milhão de pessoas.
As secas colocaram à prova a capacidade de Jayasundera e de outros políticos para manter funcionando o motor da economia, e a queda dos níveis das represas prejudicou a geração de energia. Em geral, cerca de 40% da demanda energética do país é atendida por fontes hidrelétricas. Em alguns anos, quando as chuvas foram excepcionalmente boas, como no começo de 2011, estas cobriram até 50% da demanda.
Em agosto de 2012, no pior momento da seca, a capacidade de geração hidrelétrica era de apenas 17%. Então, grande parte da demanda foi coberta com energia térmica, usando petróleo importado. O país teve de pagar altos custos para atender sua demanda energética. Aproximadamente um quinto das importações deste país insular da Ásia meridional realizadas no ano passado foi de combustíveis, segundo o Banco Central.
Jayasundera admitiu que a seca também apresenta outros efeitos. O Departamento de Agricultura alertou que 23% das colheitas de arroz poderão se perder por falta de chuvas. Os preços do arroz aumentaram 12% no começo deste ano. Funcionários governamentais reconheceram publicamente o impacto dos eventos climáticos extremos. Sua esteira de destruição pode ser de longo prazo, e é difícil de se prever, pelo menos para uma nação com pobres recursos tecnológicos.
“Enfrentar a mudança climática é um negócio caro”, disse à IPS W. L. Sumathipala, assessor técnico do Ministério do Meio Ambiente. A pegada de carbono deste país é pequena, mas isso não o exclui dos efeitos do aquecimento global. Sumathipala disse que a região oriental do Sri Lanka, maior produtora de arroz, se torna cada vez mais seca. “Havia um ritmo para as monções ao qual o país estava acostumado, mas isso se quebrou nos últimos anos, e cada aspecto de nossas vidas está sendo afetado”, ressaltou.
O Projeto de Desenvolvimento Urbano para Colombo, que implica investimento de US$ 233 milhões e começou a ser implantado no ano passado, busca converter a capital em uma cidade à prova de inundações até o final de 2017. Colombo e seus subúrbios são o coração econômico do país, respondendo por pelo menos 50% do produto interno bruto. A capital também é o lar de mais de 10% dos 20 milhões de habitantes. Sua densidade populacional é de 3.300 habitantes por quilômetro quadrado, dez vezes mais do que a média nacional.
Sumathipala disse que a elevação do nível do mar é outra causa de preocupação. Segundo o Departamento de Conservação Costeira, algumas partes dos 1.500 quilômetros de litoral do país registraram taxa de erosão anual superior a cinco metros. Algumas das costas mais vulneráveis ficam justamente no norte da capital. “Imagine os custos se o nível do mar se tornar um verdadeiro problema e precisarmos trasladar as pessoas e os negócios para longe da costa”, questionou.
Jayasundera espera que os caprichos da natureza beneficiem o país, pelo menos ocasionalmente. “Acreditamos que podemos conseguir um bom crescimento com condições climáticas favoráveis”, afirmou. Se agora se apela mais para a energia hidrelétrica, os custos serão sentidos imediatamente, pois esta é mais de três vezes menor do que a termal, ressaltou. Envolverde/IPS